Economia Titulo Comércio Exterior
Exportações voltam a cair, apesar do dólar

Para especialistas, crise em países parceiros do
Brasil e descapitalização das indústrias atrapalham

Por Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
14/09/2015 | 07:03
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Celso Luiz/DGABC


Depois de três meses seguidos de alta, as exportações da região em agosto recuaram em torno de 25% em relação a julho, mostrando que as vendas externas das indústrias dos sete municípios ainda patinam, apesar do câmbio favorável para os embarques a outros países. A moeda americana (pelo câmbio comercial) ficou próxima de atingir os R$ 4 – na sexta-feira fechou em R$ 3,87, quase 50% mais que o patamar de R$ 2,60 de janeiro. Mesmo com essa vantagem, as companhias obtiveram US$ 398 milhões de receita com as encomendas ao mercado internacional no mês passado, bem menos que os US$ 538 milhões alcançados em julho, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Com o resultado mensal, o Grande ABC, que vinha com tendência de registrar crescimento do faturamento com as exportações no acumulado deste ano, volta a ampliar a variação negativa. Nos oito primeiros meses do ano, contabiliza US$ 3,4 bilhões com vendas externas, 2,9% menos que no mesmo período de 2014. De janeiro a julho, o total vendido ao Exterior era apenas 0,5% menor que nos sete meses iniciais do ano passado.

Vários fatores ainda são entrave para que as fabricantes da região consigam decolar nas encomendas a outros países, entre as quais as dificuldades financeiras geradas pelo mercado interno parado e pela subida dos juros, que encareceram o acesso a crédito. “As empresas estão descapitalizadas, com problemas de fluxo de caixa e, por isso, deixam de conquistar mercados lá fora”, diz o diretor do departamento de Comércio Exterior da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Bernardo, José Rufino Filho.

Além disso, parceiros importantes do Brasil, como Argentina e Venezuela, também enfrentam crise neste ano. “E a Argentina está importando muita coisa da China”, assinala.

O dirigente reforça que outro motivo para o desempenho oscilante é a demora na recuperação de clientes lá fora, depois que o setor empresarial ficou durante anos perdendo competitividade por causa de taxa cambial desvantajosa. O vice-diretor da regional do Ciesp de Diadema, Anuar Dequech Júnior, concorda que retomada de cotratos não é rápida, leva tempo. “Conquistar clientes é difícil, reconquistar é três vezes mais”, opina. A volatilidade (forte oscilação) da cotação é outro complicador, por dificultar o planejamento das indústrias. “E os custos também têm aumentado”, observa. Isso porque muitos insumos são importados e o dólar próximo de R$ 4 encarece a compra de itens de outros países.

Somam-se a esses fatores a carga tributária elevada e a logística deficiente, segundo o professor Jefferson dos Santos, da Faculdade de Administração e Economia da Universidade Metodista.

Porém, Santos cita que não há muita alternativa. “As exportações ainda devem reagir, não tem muita escapatória, porque a economia interna não anda bem”, diz. Os representantes da indústria também demonstram otimismo. “O dólar a partir de R$ 4 se torna interessante, vamos ver se decola agora”, afirma Rufino Filho.

POLOS INDUSTRIAIS
- Entre as cidades da região, São Bernardo, que concentra indústrias de cinco montadoras e é o principal polo exportador (responde por mais de 60% do total alcançado pela região), até manteve resultado praticamente estável em relação aos números do ano passado, com ligeira retração de 0,30%. Isso pela melhora nas encomendas de automóveis de passageiros (alta de 66%), apesar da retração nas vendas de caminhões e ônibus.

Por outro lado, Santo André, que reúne companhias do ramo petroquímico (que produzem matéria-prima para a fabricação de embalagens e peças de plástico) e indústrias de pneus, viu seus embarques ao Exterior recuar de forma expressiva: queda de 16% na comparação dos primeiros oitos meses deste ano com mesmo período de 2014.

IMPORTAÇÃO - O impacto da alta da taxa cambial é sentido sobretudo nas importações, em meio ao cenário de economia em retração, que leva as empresas a adiarem a aquisição de maquinários para ampliar suas fábricas, e também pelo dólar em alta. As compras de itens de outros países já caíram, nestes primeiros oito meses deste ano, 24% em relação ao adquirido no mesmo período de 2014. 




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