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Simão volta para casa após 26 anos

Morador de rua de Santo André embarcou para sua terra natal, Buriti Bravo, no Maranhão, ontem; além dos cães, ele levou também a amiga Norma

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
20/08/2015 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Com lágrimas nos olhos, Simão Pinheiro da Costa, 44 anos, entrou no saguão do aeroporto de Guarulhos no início da noite de ontem. A emoção se dá porque a primeira viagem de avião do morador de rua significa também sua despedida de São Paulo. O embarque rumo a Buriti Bravo, no Maranhão, sua cidade natal, para o encontro com a família após 26 anos acontece cinco meses depois da publicação da primeira reportagem com o simpático personagem que morava nas ruas da Vila Curuçá, em Santo André, pelo Diário.

Espantado pela quantidade de pessoas no aeroporto, Simão fez uma observação nervosa. “Vai faltar avião para caber tudo isso de gente”, brincou. O cenário difere completamente do vivenciado por Simão em 1989, quando desembarcou na Rodoviária do Tietê carregando na bagagem o sonho de trabalhar em uma loja de discos do primo. Três anos depois, o desemprego deu lugar ao pesadelo de ter de viver na rua.

Simão revela que não dormiu na noite de terça para ontem de tanta ansiedade e disse ainda que não vai conseguir fazer isso no avião. “Só vou conseguir dormir mesmo quando os meus três cachorros voltarem e estiverem comigo. Estou muito preocupado com a viagem”. O agora ex-morador de rua se refere aos companheiros Marrom, Negão e Neguita, que também embarcam para o Maranhão, porém, em dias diferentes.

A primeira que embarcou, no mesmo voo que Simão, foi a Neguita. Isso porque, segundo o dono, ela é a mais apegada. Marrom embarca na sexta-feira e Negão, no sábado.

A volta para casa só foi possível graças à campanha de arrecadação encabeçada pela amiga Norma Elaine Pezzolo, 61, que embarcou junto com ele. A irmã dela, Solange Aurora Pezzolo, 56, será a responsável por embarcar Marrom na sexta-feira e, no sábado, seguir viagem junto com Negão.

“Eu não vou perder o contato com ele, até porque os cachorros também acabaram virando meus filhos. E a amizade continua”, garante Norma.

Com carinho, Simão disse que nunca vai se esquecer das pessoas que o ajudaram durante todo o tempo que esteve longe de casa. Ocupa lugar na memória do maranhense desde quem lhe doou um prato de comida ou uma palavra amiga até Norma, sua grande parceira. “Devo muita coisa à dona Norma e ao Diário. Foi por causa de vocês que eu tive acesso à minha família de novo e vi que ia ser possível voltar e recomeçar. Vou com alegria, mas vou ficar com saudades”, confessa.

Além do Parque Celso Daniel, da cobertura da loja de doces, onde passava as noites e dos amigos, Simão disse que vai sentir falta do frio. Embora esteja voltando para o Nordeste, onde faz calor praticamente o ano todo, ele revela preferir temperaturas mais amenas. Por isso, leva na bagagem seu cobertor de estimação com estampa do Corinthians, seu time de coração. “Mesmo que eu não use, vou pendurar na parede”, diz.

Depois que se estabilizar na cidade, onde pretende trabalhar de lavrador, Simão também quer voltar a estudar. Ele, que frequentou até o 5º ano do Ensino Fundamental, gosta de ler e fazer sudoku. Com o estudo pretende conseguir um emprego melhor na cidade e daqui dois anos voltar para visitar os amigos em Santo André. “Gostaria de agradecer a todos que ajudaram na campanha e quem leu a minha história. Aqueles que acreditaram e aos que não acreditaram, no final estou indo embora para recomeçar uma vida nova.” 




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