A receita líquida das 124 empresas avaliadas caiu 2,2% no primeiro semestre deste ano, para R$ 308,8 bilhões. O lucro líquido caiu 50%, para R$ 20,9 bilhões. Na média, as empresas aumentaram a geração de caixa (medida pelo Ebitda), puxadas pelo resultado da Petrobrás, que elevou em 48% seu Ebitda no semestre. Sem a Petrobrás, há também queda na geração de caixa das empresas brasileiras.
Outro dado da Austin Asis mostra que a deterioração dos balanços já começou em 2014. Um conjunto de 3.912 empresas brasileiras, que representam um terço do PIB nacional, lucrou R$ 63 bilhões em 2014, volume 40,6% abaixo do registrado em 2014. Apesar da retração no lucro e na geração de caixa, as empresas ainda conseguiram faturar 9,7% mais no ano passado, algo que não foi mais possível este ano.
"Os resultados de 2014 mostram que as empresas sofreram um choque de custos acima da alta da receita, o que impactou a sua rentabilidade", explica o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. "Neste ano, a crise atingiu a demanda, especialmente de bens duráveis. Siderúrgicas, montadoras e indústrias de transformação estão vendendo menos", completou.
Empresas como Vale, PDG, Gerdau, Natura, Via Varejo lucraram menos e, em alguns casos, reverteram lucros em prejuízos. A Vale, por exemplo, apresentou no primeiro semestre deste ano prejuízo líquido de R$ 4,395 bilhões, contra um lucro líquido de R$ 9 bilhões no mesmo período do ano passado. O diretor de Relações com Investidores da mineradora, Rogério Nogueira, esclareceu que o efeito é contábil e não impacta o caixa da companhia. O prejuízo líquido foi provocado pela desvalorização do real em relação ao dólar, o que impactou a dívida da empresa, que é na moeda americana, e fez a companhia reconhecer perdas financeiras no balanço.
A mineradora apresentou queda de cerca de 30% na receita e de cerca de 50% no Ebitda em dólar no semestre. "A Vale está aumentando a sua produção, mas a receita cai porque houve uma redução no preço das commodities", completou. A Vale já vinha executando este ano um programa de desinvestimento e de corte de custos para ganhar produtividade, plano que deve ser acelerado em função da crise.
A incorporadora PDG, que já estava no vermelho em 2014, viu seu prejuízo líquido quase triplicar, para R$ 393 milhões, no primeiro semestre deste ano. A empresa disse, em e-mail enviado ao Estado, que está focada em vender o estoque e reduzir sua alavancagem financeira. A companhia lançou um único empreendimento em 2015 e concluiu em junho um projeto chamado "orçamento base zero", que, entre outras ações, promoveu demissões para ajustar a estrutura da empresa ao tamanho atual, segundo informações divulgadas pela PDG no relatório de resultados do segundo trimestre.
Custos
Diante de queda de receita e lucro, a ordem é cortar custos. "As empresas têm de ajustar sua base de custos a uma nova realidade de receitas menores", disse Luiz Vieira, líder da área de operações da consultoria Strategy&. Segundo ele, as empresas já fizeram cortes no orçamento e agora terão de tomar decisões mais estratégicas, como fechar fábricas ou sair de um negócio.
Mesmo na crise, o mandato dos executivos não muda e a missão deles é gerar rentabilidade para os acionistas, ressaltou o diretor para a América Latina da Accenture na área de Estratégia, Marcelo Gil. "Não adianta usar a desculpa que o mercado está ruim. Os CEOs terão de arrumar a casa para garantir a sustentabilidade do negócio", disse. Gil destacou que as empresas que não conseguirem se ajustar à nova realidade de custos poderão perder mercado ou até mesmo ser vendidas para concorrentes que fizerem isso com mais sucesso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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