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Confira íntegra do discurso 'conciliatório' de Lula
Do Diário OnLine
25/06/2003 | 13:48
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou nesta quarta-feira, durante a convocação extraordinária do Congresso para o mês de julho, para tentar esclarecer as declarações feitas na véspera. Na ocasião, Lula disse que só Deus o impediria o país a voltar a crescer.

Confira a íntegra do discurso de Lula:

"Ontem, eu conversei com o presidente [do Senado], José Sarney, e o presidente [da Câmara], João Paulo Cunha, para que nós pudéssemos fazer um anúncio público da convocação extraordinária que o governo pretende fazer para o mês de julho.

Acho que todos os senadores e deputados e toda a sociedade brasileira têm clareza da importância e da urgência com que o Brasil espera que nós façamos as reformas e que, ao mesmo tempo, votemos os projetos de lei de interesse da sociedade.

Eu acredito que o mês de julho é um mês em que a gente pode fazer avançar em muito as reformas e as leis mais importantes que estão tramitando no Congresso Nacional.

Até o dia 30, o presidente Sarney, o presidente João Paulo e o governo irão definir a pauta já apresentada pelas lideranças, para que a gente possa, então, anunciar o ato de convocação extraordinária do Congresso Nacional.

Quero agradecer, de pronto, ao presidente João Paulo e ao presidente José Sarney, porque eles entenderam a importância de nós não perdermos um mês na votação das reformas. Se nós conseguirmos trabalhar bem no mês de julho, certamente poderemos chegar no final do ano com as reformas aprovadas e aí teremos que começar a discutir outras reformas que são tão importantes quanto essas que estão no Congresso Nacional.

Acho que todos vocês têm consciência do que representa a reforma na questão sindical, a reforma trabalhista, a reforma política. E eu acho que todos os partidos políticos e todos os líderes terão um imenso prazer de, terminando as reformas tributária e a previdenciária, a gente começar um novo ciclo de votação.

Mas eu quero aproveitar este ato, também, não apenas para comunicar a convocação extraordinária do Congresso Nacional no mês de julho, mas para dizer ao presidente João Paulo e ao presidente José Sarney, aos meus companheiros de governo e aos deputados e senadores aqui presentes que eu, particularmente, fui pego de surpresa hoje com uma manchete no jornal, dizendo que nem o Congresso Nacional impediria as reformas. Eu vou me dar ao luxo de ler o texto original da minha fala ontem, na CNI, para que não pairem dúvidas a respeito do que eu falei. Eu estava me dirigindo a uma freira que tinha recebido um prêmio pelo curso que ela fez no Senai. E eu dizia o seguinte: 'E eu, Irmã, estou com a senhora quando diz que a gente não pode nunca deixar de crescer. Eu, a cada dia que passa, a cada dificuldade, me sinto o brasileiro mais otimista que este país já teve. Nada, podem ficar certos de que não tem nada, nem chuva, nem geada, nem terremoto, não tem cara feia, não tem nem o Congresso, nem o Poder Judiciário, só Deus será capaz de impedir que a gente faça este país ocupar um lugar de destaque, que ele nunca deveria ter deixado de ocupar'. Apenas para lembrar que, em nenhum momento, eu falei de reformas no Congresso Nacional. Em segundo lugar, João Paulo, eu já dei demonstrações inequívocas, durante esses seis meses de governo, não apenas do respeito, mas da relação que o governo quer e precisa ter com o Congresso Nacional. Se eu não acreditasse nas instituições, eu não teria fundado um partido político, eu não teria sido candidato a presidente da República e não estaria presidente da República; não teria ido ao Congresso Nacional, como eu fui, duas vezes, depois da posse. E não estaria tentando um esforço imenso na relação Poder Executivo/Poder Legislativo, para que as coisas possam andar da melhor forma possível, e para que a gente possa fazer as coisas acontecerem no nosso país. Eu acho importante aproveitar este momento para dizer ao presidente da Câmara e ao presidente do Senado que eles podem transmitir aos deputados e aos senadores que, em nenhum momento, passou pela cabeça do presidente da República qualquer ofensa ao Congresso Nacional ou ao Poder Judiciário. Em alguns momentos nós temos sido ofendidos e, mesmo assim, eu tenho me pautado pela cautela de não responder, porque eu aprendi, desde pequeno, com a minha mãe: quando um não quer, dois não brigam. E acho que o momento é de a gente fazer com que as coisas aconteçam da melhor forma possível. Eu espero que vocês dois, presidente do Senado e presidente da Câmara, tenham toda a sorte do mundo de convencer todos os partidos políticos e todos os parlamentares, maciçamente, a comparecerem no mês de julho para que a gente possa mostrar ao Brasil que as reformas não são só do interesse do presidente da República, as reformas são, hoje, uma necessidade da sociedade brasileira, para que a gente possa retomar o crescimento da economia, para que o país volte a crescer e para que a gente possa gerar os empregos que todos nós queremos criar, para que nunca mais a gente veja o que aconteceu no Rio de Janeiro, naquela fila em que as pessoas, para arrumarem um emprego de gari, foram quase massacradas.

Esse é o objetivo e esse objetivo só será cumprido se os Poderes brasileiros estiverem convencidos de que isso não é conquista de um homem ou de um partido político, isso deve ser uma conquista da sociedade e essa conquista da sociedade será representada pelo Congresso Nacional, pelo Senado e pela Câmara. Por isso, eu só posso desejar a vocês dois boa sorte.

E se houver algum deputado ou senador que tenha se sentido ofendido, João Paulo e José Sarney, eu estarei à disposição para conversar com eles quantas vezes for necessário, porque nada é pior em política do que o equívoco, ou do que as pessoas interpretarem tudo pelas manchetes dos jornais.

Eu, como conheço muito bem como é que funciona o noticiário, quero dizer que o que eu disse está escrito, com todas as letras: que jamais me passou pela cabeça qualquer ofensa a qualquer Poder deste país.

Dito isso, eu acho que você, João Paulo, e José Sarney, têm a palavra para falar aos líderes e à imprensa."




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