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É hora do show: 40 anos
Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
13/04/2011 | 07:13
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Há exatos 40 anos, em plena terça-feira, o Teatro Municipal de Santo André abria as portas pela primeira vez. Em trajes de gala, centenas de pessoas prestigiavam a inauguração do local com apresentação de 'Guerra do Cansa Cavalo', montagem encenada pelo GTC (Grupo Teatro da Cidade), fundado por Heleny Guariba.

O arrojo da obra ultrapassava os contornos arquitetônicos criados pelo arquiteto Rino Levi e chegava à parte interna e à programação. Tecnicamente, ele foi inaugurado como um dos mais perfeitos espaços teatrais do País, com equipamentos importados de última geração.

Seu interior foi pensado por Aldo Calvo, italiano radicado brasileiro, que trabalhou como cenógrafo nos estúdios Vera Cruz, um mestre da arquitetura teatral. A acústica, ainda hoje alvo de elogios de todos que passam pelo local, não foi a única especialidade cênica pensada para o espaço. Os três palcos que compõem a casa, quase que abraçando a plateia em 180 graus, era um dos projetos que faziam com que o Municipal fosse além de um mero teatro com um simples palco. A ideia de que a plateia, motorizada, girasse para as laterais, não vingou. E ninguém sabe explicar muito bem por que. Sobraram apenas os motores, e um palco capaz de abrigar produções gigantescas.

FOMENTO À CULTURA
Voltando à noite de gala de inauguração do teatro, José Armando Pereira da Silva, memorialista e escritor do livro "A Cena Brasileira em Santo André - 30 Anos do Teatro Municipal", conta que o acontecimento foi um misto de estranheza com deslumbre. "Soou um pouco estranho para o público, pois todos foram com trajes chiques para a abertura do teatro e a peça de inauguração era muito rústica, com jagunço em cena, temática nordestina."

O Municipal de Santo André era a consolidação da proposta de Heleny Guariba para o GTC, de descentralização da cultura. A teatróloga, baseada em experiência vivida no subúrbio francês, desejou trazer ao Brasil um projeto de criação teatral voltado para toda a população, com ações pontuais nas escolas, divulgação maciça dos acontecimentos no teatro e debates que levavam o tema da encenação para além da representação.

"A ideia era transformá-lo em uma casa com programação efetiva escolhida pelo aspecto cultural, de atingir o maior público possível, popularizando o teatro. Tanto que o GTC estreava seus espetáculos com temporadas de dois meses, que aconteciam de terça a domingo. Poucos teatros naquela época tinham projetos específicos criados por pessoas da área teatral, tanto nos aspectos técnicos quanto nos de programação", emenda Silva.

PERSONAGENSOs maiores artistas do País já passaram pelo Municipal. Entre eles Lilian Lemmertz, Paulo Autran, Raul Cortez, Bibi Ferreira, Antonio Petrin e Sônia Guedes. Alguns fizeram história e transformaram a dos que lá trabalham.

Entre os artistas musicais que já cantaram no espaço, estão Elis Regina e Secos & Molhados. O grupo de Ney Matogrosso protagonizou um dos momentos mais atípicos do Municipal. Até a hora da apresentação não se via euforia por parte do público para conferir a atração. Assim que o show começou, mais gente foi chegando e quase virou tumulto.

"Minha vida mudou para melhor quando comecei a trabalhar aqui. O teatro me deu outra visão do mundo, mais alegre e expansiva. Cada companhia que passa por aqui traz uma magia diferente, um aprendizado novo", conta Maria de Fátima Mendes, que atua no teatro há 15 anos fazendo todo o tipo de trabalho. "Eu fiquei encantada com a Fernanda Montenegro quando ela veio aqui com a filha dela. Ela é um exemplo de simplicidade e humildade", completa.

"A Glória Menezes, quando veio apresentar-se com 'Ensina-me a Viver', ficou encantada com o teatro, principalmente com a acústica", conta Vera Lúcia Dias, gerente do Municipal, que trabalha lá há seis anos.

Produtora teatral há 20 anos, Sônia Varuzza evidencia as qualidades do espaço, principalmente para produções gigantes. "As pessoas hoje projetam teatro como se fosse uma caixa preta, sem estrutura para que as montagens sejam possíveis. Aqui eu trago todas as grandes produções que não cabem em outros espaços", conta ela, que esta semana exibirá no local o musical 'Aladdin', cujo cenário, entre todos os teatros do Grande ABC, só cabe no andreense.

São muitas as histórias e os personagens que a produtora viu passar pelo local. "Já teve artista que desmaiou ao vivo e teve que ser levado para o hospital e cenário que caiu inteiro no meio da apresentação."

ORQUESTRA
Hoje, o teatro funciona como espaço para os ensaios e apresentações da Orquestra Sinfônica de Santo André, de forma que o grupo é a única programação efetiva no calendário do espaço público. Nos demais dias livres, é ocupado por projetos interessados em apresentar-se lá. A prefeitura mantém uma comissão de pauta para avaliar o que entra e em que ocasião é apresentado. Não há nenhum projeto de repertório ou edital de programação para preencher as apresentações.

"Transformou-se em uma casa de espetáculos, em que você vai, se candidata e paga uma porcentagem para se apresentar. Não tem mais a função que tinha há 40 anos, perdeu todo o sentido cultural. A maior parte dos espetáculos que recebem é coisa completamente sem interesse, que serve unicamente para encher a plateia. Para isso existem outras casas", comenta José Armando.

Não há programação festiva reservada para a ocasião.




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