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Noivos morrem
atingidos por roda
Rafael Nunes
Do Diário do Grande ABC
17/08/2011 | 07:08
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Tinha tudo para ser um dos dias mais felizes na vida de Tainá Teixeira da Silva, 16 anos, e Flávio Almeida Ferreira, 21. Mas não foi. No caminho para o Cartório de Registro Civil, onde marcariam a data de casamento, eles foram atingidos por uma roda que se desprendeu de um caminhão, na Avenida Prestes Maia, em Santo André, por volta das 12h10 de ontem. Como o cartório recusou cópia do registro de nascimento da adolescente, ambos voltaram para casa, na favela Tamarutaca, para autenticar o documento.

Enquanto aguardava uma brecha no trânsito para atravessar a via, Tainá foi atingida nas costas e jogada contra a lateral de um veículo que trafegava pela via. Com o impacto, morreu na hora, prensada entre o carro e a roda do caminhão. O futuro marido também foi atingido. Em estado grave, com traumatismo craniano, foi levado pelo Samu para o Centro Hospitalar Municipal, mas chegou sem vida.

O motorista do caminhão deixou o local sem prestar apoio às vítimas e segue foragido. "Eu estava a caminho do trabalho, mas nem vi o caminhão. A roda bateu no casal e veio para cima do meu carro", disse a dentista Gisele Santos, 29. O carro que ela conduzia foi parcialmente destruído. Entretanto, ela não sofreu ferimentos.

Fábio Bezerra, que dirigia um carro que seguia na frente, também saiu ileso. Segundo a Polícia Militar, o eixo traseiro do caminhão que prendia uma das rodas traseiras se partiu, liberando a peça, que desceu livre até o canteiro central da Avenida Prestes Maia, ponto onde o casal foi atingido.

Os corpos de Tainá e Flávio foram levados para o Instituto Médico-Legal. No local, comoção e desespero com a tragédia. "Não tenho nem palavras. Eles estavam tão felizes em poder casar. A gente estava tão alegre no caminho, brincando, e aconteceu isso", disse Nelson Vaz Pedroso, padrasto de Tainá, que junto com a mãe da menina, também iria ao cartório para autorizar o casamento, já que Tainá é menor. Jackson Teixeira da Silva, um dos três irmãos da vítima, não se conteve ao comentar a tragédia.

"Ela sempre morou com a gente, ia marcar o casamento hoje (ontem), mas agora está lá ...", disse, aos prantos, o garoto de 13 anos. O caso foi registrado no 4º DP. Os velórios e sepultamentos - de Tainá às 11h15 e de Flávio às 11h30 - serão realizados hoje, no Cemitério do Curuçá.

 

Tragédia desencadeia onda de manifestações 

A morte do casal Tainá Teixeira da Silva e Flávio Almeida Ferreira, atingidos por uma roda de caminhão na Avenida Prestes Maia, em Santo André, gerou série de protestos de moradores da favela Tamarutaca. Inconformada com a tragédia, a vizinhança se mobilizou e encheu de entulho as três faixas da pista no sentido Centro.

O ambiente de trânsito pesado, comum ao longo do dia naquela região, deu lugar a pistas livres e muita tensão do lado das calçadas. A Polícia Militar foi acionada e dispersou os manifestantes. Um caminhão do Corpo de Bombeiros apagou o fogo iniciado pelo grupo de populares. O local ficou interditado por cerca de 15 minutos, complicando ainda mais o trânsito para seguia no sentido de Santo André. Com medo, os coméerciantes do entorno fecharam as portas com medo de confrontos entre polícia e moradores.

Com os ânimos apaziguados, houve nova investida dos moradores uma hora depois. Outro bloqueio, na altura do trevo da Avenida Dom Jorge Marcos de Oliveira, foi alvo de madeiras, pneus e materiais de construção incinerados em plena pista. A Polícia Militar foi acionada novamente, com efetivo reforçado pela Guarda Civil. Uma moradora foi deitda durante a ação policial.

Em contra-ataque à ação policial, morteiros foram disparados de dentro da favela. Uma terceira fogueira foi formada horas depois, mas contornada pela própria polícia. Uma equipe da Prefeitura foi acionada e recolheu o entulho jogado na avenida. Em último ato, uma equipe da polícia se comprometeu a acompanhar o caso com os moradores junto à Prefeitura de Santo André.

Além da revolta em torno da perda dos vizinhos, a população cobrava a construção de uma passarela na via, no trecho de 600 metros entre o Viaduto Engenheiro Luiz Meira e a Avenida Dom Jorge Marcos de Oliveira.

Segundo relatos, ali são comuns acidentes e mortes. "Só tem favela lá embaixo, perto da Fundação (Santo André), então o povo fica desse jeito, largado", reclamou a auxiliar de limpeza Maria Aparecida Henrique.

A Prefeitura afirmou que o Departamento de Segurança e Trânsito "irá analisar a viabilidade técnica para instalação de uma passarela no local do acidente, embora exista um semáforo de passagem de pedestre próximo a esse local (50 metros)".

A construção da passarela fora aprovada em emenda ao orçamento municipal, aprovada pelo Legislativo no ano passado. Entretanto, não foi colocada em prática. Uma comissão formada por cinco moradores se reúne hoje à tarde com a Prefeitura na tentativa de acertar a construção da passarela. O mesmo grupo promete uma passeata pelo Centro.

 

Agente de trânsito morre em acidente 

O agente de trânsito da Prefeitura de Santo André Cláudio dos Reis Chaves, 41 anos, morreu ontem, por volta das 22h30, após colidir de frente a motocicleta que dirigia com outra motocicleta. Segundo testemunhas, a vítima desviou de uma valeta na contramão da Rua José Lins do Rego, no Valparaíso.

Durante todo o dia de ontem, Chaves trabalhou no acidente que vitimou o casal Tainá Teixeira da Silva e Flávio Ferreira. Ele deixou o trabalho às 17h.

A vítima, que foi socorrida na rua por equipe médica, mas não resistiu aos ferimentos, era casada e tinha quatro filhos. "Era um rapaz prestativo", afirmou Kim Teruya, 64 anos, agente de trânsito e que trabalhava à noite no local do acidente.

O outro motorista da motocicleta, Dimas Carlos de Lima, 34 anos, foi encaminhado, consciente, ao Centro Hospitalar Municipal. Com fratura exposta na perna direita, ele passaria por cirurgia. (Elaine Granconato)




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