O sargento Ricardo Silva dos Santos, acusado de matar mãe e dois filhos nesta segunda-feira em Diadema, foi demitido da Polícia Militar em 1990 por comportamento de insubordinação. Cinco anos depois, retornou à corporação porque a Justiça considerou a punição desproporcional. O sargento teve a prisão temporária (30 dias) decretada e estava foragido até as 20h30 desta terça-feira.

Silva dos Santos responde a dois inquéritos instaurados na Polícia Militar – IPM 013113-05 – e na Civil, que corre pela Delegacia de Homicídios de Diadema. O ouvidor-geral da polícia, Antonio Funari Filho, afirma que acompanhará de perto as investigações. "Ele (o sargento) teve atitude de uma pessoa enlouquecida", diz o ouvidor. O capitão Marcelino Fernandes, porta-voz da Corregedoria da PM, disse que o sargento acusado deve ser expulso da corporação e, em seguida, responder processo por triplo homicídio qualificado na Justiça comum.

De 2002 a julho de 2005, 1.613 policiais militares foram afastados com demissão (indisciplina), expulsão (cometeram crimes) ou para reforma (recuperação). As condutas irregulares mais freqüentes entre eles são quebra de hierarquia e abandono do serviço. Dentre os afastamentos, há casos de policiais que cometeram homicídio, cobraram propina, portavam armas ilegais ou causaram lesão corporal. A Polícia Militar tem efetivo de 94 mil policiais espalhados em todo o Estado.

Os soldados Edson Arão Prudêncio e Renato Pereira Santos, que acompanhavam o sargento Ricardo Silva dos Santos no momento da chacina, prestaram depoimento à Corregedoria na tarde desta terça e cumprem prisão administrativa. Nesse caso, ficam detidos até o fim do inquérito.

Os dois soldados afirmaram em depoimento que manobravam a viatura para passar por uma vala enquanto o sargento saiu do carro e matou mãe e dois filhos em poucos segundos. Por isso, segundo eles, não puderam evitar a chacina ou deter o criminoso. "Os soldados Edson e Renato responderão por condescendência e prevaricação e podem ser indiciados", afirma o porta-voz da Corregedoria da PM, capitão Marcelino Fernandes. Os policiais envolvidos estavam a serviço pelo 24º Batalhão de Diadema.

O sargento Ricardo Silva dos Santos portava duas armas da PM no momento da chacina. Uma pistola ponto 40 e um revólver calibre 38. Ele teria disparado 12 ou 13 vezes contra a família. "Tudo indica que usou as duas armas", afirma o porta-voz da PM, Marcelino Fernandes. A Secretaria Estadual de Segurança Pública não divulgou foto do sargento sob o pretexto de ele ser "ainda um suspeito". O sargento mora em Santos e foi procurado em casa pela polícia. Não estava. Duas equipes, com total de oito policiais, participavam das buscas ao sargento foragido.

Com os soldados da equipe do sargento Silva dos Santos e na viatura que eles ocupavam, da Força Tática, a polícia apreendeu três pistolas ponto 40, um revólver calibre 38, uma submetralhadora 9 mm, uma espingarda ponto 40 e outra calibre 12.

O Ministério Público tem pressa de receber informações concretas sobre o episódio e ter em mãos os inquéritos policiais. "Amanhã (quarta-feira) devo receber documentos sobre o caso. Pedi à Delegacia Seccional que a Delegacia de Homicídios assumisse a investigação, porque o pessoal de lá é especializado e pode concluir o inquérito com mais rapidez", disse o promotor do Júri de Diadema, Carlos César Bernardi. O promotor foi atendido pela polícia.

Em 23 de junho, policiais civis da Dise (Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes) de Diadema mataram cinco pessoas em uma casa na favela Morro do Samba. Os policiais afirmam que o grupo participava do tráfico e resistiu à voz de prisão com disparos. Moradores da favela acusam os policiais de execução. Uma sindicância da Polícia Civil investiga o caso. O inquérito espera laudo do Instituto de Criminalística, que, segundo o perito Pedro Luiz Vieira, deve sair em 15 dias. Em 11 de junho, Diadema comemorou 24 dias sem homicídios, um recorde na cidade, que acaba de lançar seu 2º Plano Municipal de Segurança.