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Imaturidade está entre os motivos
William Novaes
do Diário do Grande ABC
29/08/2011 | 07:36
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A facilidade no acesso, pressão do grupo de amigos e imaturidade são os principais motivos para os universitários consumirem drogas e álcool ao redor do local de estudo. Esses foram os principais motivos apontados por especialistas consultados pelo Diário para o comportamento dos estudantes.

"Hoje, o jovem demora mais para amadurecer. Dessa forma, querem alcançar tudo que existe rapidamente. Eles se comportam de uma forma exuberante. Por isso, essa história de se exibir com drogas ou com bebidas em público", avalia o psicólogo e professor da Pontifícia Universidade Católica Carlos Eduardo de Carvalho Freire.

O maior problema para os universitários é encontrar a medida certa, na análise do especialista.

"A droga é prazerosa, além da sensação de liberdade contagiante que produz", diz.

Tanto Carvalho Freire quanto o professor responsável pela disciplina de Psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC, Arthur Guerra de Andrade, batem na mesma tecla do acesso fácil a bebidas e drogas como ponto crucial.

"Tem de ficar atento ao acesso à droga licita e ilícita", comenta o professor da PUC. Guerra, por sua vez, coloca essa questão entre os três fatores principais da região, mas acrescenta que aqui os traficantes estão mais próximos, pois muitas vezes o usuário vende para sustentar o vício, além da grande oferta de bebidas alcoólicas.

O primeiro dos fatores apontados por Guerra é a sensação de impunidade em consumir drogas em lugares públicos, além de pressão do grupo de amigos. O segundo é a situação de conflito que é própria da idade.

"Uma parte é muito jovem e não quer seguir na profissão escolhida. Isso pode levar a um quadro de depressão ou ansiedade. Eles utilizam remédios completamente errados, que são as drogas, que podem causar um dano maior no futuro", diz o professor da Faculdade de Medicina do ABC, que é um dos coordenadores do 1º Lenvantamento Nacional sobre o Uso de Álcool, Tabaco e outras Drogas entre universitários, sob responsabilidade da Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas).

O estudo foi divulgado no ano passado, mas é o mais atual. Entre os principais resultados na Região Sudeste, o estudo mostra que 61,5% dos entrevistados responderam que consumiram álcool nos últimos 30 dias, 23,9% cigarros, 9,9% maconha, 2% cocaína e 2,4% ecstasy, entre outras substâncias.

Moradores dizem que polícia demora quando denunciam

A Polícia Militar informou que não recebeu denúncias suficientes dos moradores das imediações dos locais de Ensino Superior sobre o consumo de drogas em via pública. Mas disse que, quando ocorre tal infração, é realizado um estudo de campo por meio do setor de inteligência.

A equipe do Diário observou, em pelo menos duas oportunidades, policiais passando nas ruas em que alguns estudantes fumavam cigarros de maconha e nem se importaram ou não viram. Os moradores ouvidos disseram que procuram a PM por telefone, mas que dificilmente recebem um retorno rápido.

"A ação de polícia visa principalmente deter os criminosos que comercializam o entorpecente e inibir a presença e o consumo por parte dos usuários, que são em grupo maior, muitas vezes alunos desses centros de ensino", diz o tenente Rafael Serpa Boni.

Para coibir os furtos e roubos de veículos, a PM realiza ações constantes e sistematizadas, como as operações Cavalo de Aço, Direção Segura, Bloqueio e Visibilidade. Nas imediações de universidade no Rudge Ramos, em São Bernardo, ocorrem palestras de conscientização e orientação em parceria com professores, alunos e associações de moradores sobre o lugar de estacionar os veículos e quanto tempo ficar no espaço. E também como proceder em abordagens de criminosos.

"É promovido contato junto às Prefeituras dos municípios para a adequada fiscalização da Vigilância Sanitária e funcionamento de estabelecimentos, lei de silêncio e orientação de trânsito. Tudo com o objetivo de propiciar nível adequado de segurança, próprio do ambiente escolar", comenta o tenente.

A Secretaria de Segurança Pública informou que a PM é a responsável, mas não comentou sobre o fato de um dos pontos de baderna ser na rua do 2º DP.

Placa de vende-se nas casas é comum

Eles estão acostumados a dormir tarde, principalmente nas quintas e sextas-feiras, ao som de funk, pagode e sertanejo. Não tem escapatória para quem mora nas proximidades dos grandes centros universitários na região. A dor de cabeça ou a insônia são frequentes. Além da preocupação com furtos e roubos.

Ao andar pelas ruas é comum encontrar placas de vende-se nas residências. Alguns até vendem mais barato para fugir do problema. Outros compram com valor abaixo do mercado imobiliário, mas depois descobrem o motivo da pechincha. Esse foi o caso do operador de máquinas Moacir e da professora Rose, no Rudge Ramos, em São Bernardo.

"Compramos muito abaixo esse sobrado (na Rua do Sacramento). Mas na primeira sexta-feira entendi por que a dona nos vendeu mais barato e rápido", conta a professora. Mas engana-se quem pensa que ficaram desesperados.

"Nós morávamos no Campanário, em Diadema, e na nossa rua acontecia um baile funk que durava até as 5h. Aqui não é uma maravilha, mas está muito melhor. Pelo menos a bagunça termina por volta da 1h. O nosso vizinho que sofre, porque o quarto dele é para o lado da zoeira", conta Rose.

Mas esse não é o caso do aposentado José Soares, 55 anos, no bairro Campestre, em Santo André. Com o quarto na frente da casa, ele, que tem dores devido a uma hérnia de disco e precisa dormir com a ajuda de calmantes, sofre todos os dias em que os estudantes saem para beber.

"Aqui é um inferno. Tem horas que vou dormir e aí esse moleques passam bêbados e falando alto. Acordo e não consigo mais dormir."

O aposentado ainda tem medo de furtos e assaltos. No dia em que a equipe do Diário falou com ele, José estava preparando mais uma armadilha para os criminosos. Mais uma corrente reforçada para o portão.

"Tive de colocar arame no muro. Eles invadiram aqui e levaram a frente do som do carro. Infelizmente não tenho como vender aqui e comprar um outro lugar, mas quem tem está indo embora, mesmo perdendo dinheiro. Acabou o nosso sossego", desabafa.

De 26 locais visitados, só em seis não existe farra nas ruas

Poucos são os lugares em que os estudantes não consomem álcool e drogas na região. Mas eles têm algo em comum: não contam com bares, postos de combustíveis e barracas nas imediações.

A equipe do Diário não encontrou jovens bebendo ou consumindo entorpecentes em seis das 26 faculdades visitadas, nas últimas três semanas.

As características daquelas em que o consumo não ocorre são parecidas. As estruturas das faculdades são menores, estão afastadas das regiões centrais e abrigam menos estudantes.

"Aqui não tem essas coisas de bebida e drogas. Acredito que por ser afastada e também porque a maioria dos alunos chega cansada do trabalho e não tem muito tempo para pensar nisso. A falta de bares por aqui não é um problema, mas uma coisa muito boa", diz a estudante Adyna Oliveira, 25 anos, em Mauá.

Em outros espaços o consumo é menor, mas basta existir um estabelecimento comercializando bebidas alcoólicas para ter jovens sentados em volta de suas mesas. Isso ocorre nas proximidades de uma universidade na Vila Assunção, em Santo André, e nos dois prédios de outro campus da mesma rede em São Caetano, entre outros pontos próximos de faculdades.




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