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Ícone de gerações, Balas Juquinha fecha

Indústria, que se tornou referência por causa de
jingle, não resiste à crise e interrompe atividades

Leone Farias
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
16/06/2015 | 07:06
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Nario Barbosa/DGABC


“Juquinha quando tá chupando bala não fala. Não fala, não dá bola nem dá bala, Juquinha”. Quem tem mais de 40 anos de idade certamente se lembra do jingle da Balas Juquinha, fábrica de doces que adoçou o paladar de diversas gerações durante 70 anos e que chegou a exportar os produtos para mais de 60 países. Hoje o que se vê no imóvel da empresa é a placa de aluga-se. A fábrica encerrou atividades, deixando para trás uma legião de fãs saudosistas.

A empresa foi fundada em 1945, mas, inicialmente, fabricava pó para refrescos. As famosas balas começaram a ser produzidas na década de 1960. Em 1982 a indústria foi adquirida pelo empresário italiano Giulio Luigi Sofio, que trouxe a unidade fabril a Santo André cinco anos depois – até então, funcionava na Zona Norte da Capital.

No auge de sua existência – entre a metade da década de 1995 e o início dos anos 2000 –, a Balas Juquinha chegou a produzir 600 toneladas por mês, entre balas e pirulitos. Nessa época, as exportações eram o principal mercado: em torno de 50% das vendas eram para o Exterior. Cerca de 140 funcionários davam conta de atender toda a demanda e, há dez anos, vinha em trajetória ascendente, com planos de expansão e diversificação da linha de doces.

Com dificuldades para se manter no mercado de varejo, a fábrica foi perdendo espaço até, praticamente, sumir das prateleiras. No último ano de funcionamento, o número de empregados foi reduzido para 20, segundo o diretor da unidade de Santo André do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação de São Paulo e Região, Rubens Gomes, que disse que a atividade foi interrompida em abril.

“A fábrica vinha patinando no mercado havia algum tempo. Estava perdendo espaço para os concorrentes. Durante muitos anos, o dólar esteve defasado em relação ao real. Isso fez com que a empresa perdesse dinheiro, já que as exportações eram o carro-chefe”, comenta o sindicalista. Sofio foi procurado para comentar o assunto, mas desligou o telefone logo que foi informado que o contato era feito por um jornalista.

No galpão onde a unidade fabril operava, na Avenida dos Estados, não há mais nenhuma referência à Balas Juquinha – nem mesmo o famoso logotipo da marca, com o rosto de uma criança sorridente. Placas informam que o imóvel está disponível para aluguel. Entretanto, o site da empresa continua no ar.

Representantes do setor industrial lamentaram o fechamento da empresa. “O hino de Santo André diz ‘glorioso viveiro industrial’; está na hora de a gente ou reescrever o hino ou fazer valer o que está escrito. Podia mudar para ‘lamentável cemitério industrial’”, diz o vice-presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), Fausto Cestari Filho.

ÍCONE - Pelas redes sociais, internautas lamentaram o fim da produção. O saudosismo marcou o tom das mensagens, enquanto outros usuários torciam para que a informação fosse apenas um boato. O termo “Balas Juquinha” registrou neste mês a maior quantidade de buscas desde 2004, segundo a ferramenta Google Trends, que utiliza as pesquisas no site para medir tendências sobre a procura. Até então, a expressão havia alcançado recorde de acessos em outubro de 2009. Mesmo assim, naquela ocasião, o interesse dos internautas representava 61% do que foi contabilizado entre o dia 1º e ontem.

“É um case de propaganda, foi um trabalho de marca que caiu no gosto do consumidor. Para as pessoas com mais de 40 anos, marcou um período, é uma referência de vida. Por isso há esse espírito de comoção”, afirma o publicitário e diretor de planejamento da agência de propaganda Octopus, Luiz Carlos Tadeu Teixeira. 




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