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Indio sobe em palanque da Câmara e afronta ACM com flecha
Do Diário do Grande ABC
13/04/2000 | 20:23
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Um bate-boca entre o presidente do Congresso, senador Antonio Carlos Magalhaes (PFL-BA), e o índio Henrique Suruí, marcou a marcha realizada por cerca de 500 índios, que começou no centro de Brasília e terminou em um ato no auditório da Câmara dos Deputados, onde estava o senador. A discussao começou quando Suruí exigiu do senador a retirada de policiais militares das terras indígenas na Bahia. ACM nao gostou e exigiu respeito. O incidente só terminou por causa da interferência da senadora Marina Silva (PT-AC).

Suruí, da Aldeia 7 de Setembro de Cacoal (RO), furou o bloqueio da segurança e subiu no palanque em que se encontrava o presidente do Senado. Com arco e flecha na mao, além de exigir a retirada de policiais militares das áreas indígenas, ele pediu a aprovaçao do Estatuto do Indio. Irritado, dedo em riste, o índio protestou. "Eu nao admito isso; eu vou falar e você vai me ouvir, e exijo respeito", disse, nervoso, o presidente do Congresso. Antes do incidente, os índios pediram a interferência de ACM para solicitar ao governador da Bahia, César Borges (PFL), a retirada dos policiais de suas terras. "Vim aqui para ouvir suas reivindicaçoes e ajudá-los na medida do possível", prometeu ACM.

A discussao nao foi o único incidente da marcha. No percurso até o Congresso, os índios jogaram flechas no relógio comemorativo dos 500 Anos, instalado pela Rede Globo no Eixo Monumental, nas imediaçoes da Torre de TV, de onde saiu a marcha. Quase todos, armados com flechas e bordunas, e pintados, carregavam faixas criticando as comemoraçoes dos 500 anos.

Votaçao - No Congresso, os índios foram recebidos pelo presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e uma comissao de deputados e senadores. Temer anunciou que seria votado, ainda na sessao desta quinta-feira, um recurso da Comissao de Constituiçao e Justiça (CCJ) permitindo levar ao plenário o Estatuto de Indio para votaçao. "Se nao votarmos hoje, vamos colocar o recurso em votaçao na próxima semana", garantiu. Segundo ele, a aprovaçao do estatuto é "um novo descobrimento do Brasil" e uma homenagem da Câmara aos povos indígenas. O projeto tramita no Congresso há nove anos.

Os índios querem que a Câmara aprove a proposta do estatuto feita com base nas sugestoes enviadas pela Organizaçao dos Povos Indígenas do Brasil. "Ali está o que a gente quer; o que a gente acha que é bom para nós", lembrou Nailto Pataxó. Estevinho Terena disse que os índios nao admitem "outros 500 anos de sangue", acentuando: "Queremos mais dignidade e respeito, e o cumprimento da lei em relaçao aos índios". Terena considera "inconcebível" o crime de se queimar um índio em praça pública. Ele se referia ao pataxó Galdino de Jesus, queimado num ponto de ônibus em Brasília, em 1997.

Divergências - O presidente da Fundaçao Nacional do Indio (Funai), Frederico Marés, voltou a criticar a Comissao dos 500 anos, presidida pelo ministro dos Esportes e Turismo, Rafael Greca, por "falta de sensibilidade" e por ter causado clima de tensao na Bahia. A comissao determinou a destruiçao de um monumento construído pelos índios na Coroa Vermelha, em Porto Seguro (BA), onde foi celebrada a primeira missa.

O deputado Marcos Rolim (PT-RS), presidente da Comissao de Direitos Humanos da Câmara, denunciou a realizaçao de um cordao de isolamento com PMs nas imediaçoes de Cabrália, onde ocorrerao as comemoraçoes, para, disse, impedir a entrada de índios, sem-terra e negros.




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