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Fotos de Muhammad Ali estao em livro
Do Diário do Grande ABC
10/12/1999 | 16:44
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Falastrao, assombrou o mundo ao conquistar o título mundial dos pesos pesados, em 1964. Hábil, transformou-se no pugilista mais importante de todos os tempos. Carismático, foi eleito há dez dias Atleta do Século pela revista Sport Illustrated. Doente, aos 57 anos, dá exemplo ao viajar, incansável, pelo mundo o ano todo pregando o islamismo. O melhor de Muhammad Ali, cuja luta histórica com George Foreman no Zaire está completando 25 anos, está reunido em Muhammad Ali Ringside (Bulfinch Press, 128 págs. R$ 74 88), livro que pode ser encontrado na Livraria Cultura (telefone --11-285-4033, site site.

Sao 40 fotos cuidadosamente escolhidas, relembrando grandes momentos do boxeador que por três vezes ganhou o título mundial dos pesos pesados. Suas cinco derrotas, em 61 combates, sao mencionadas, mas sem destaque. "Muhammad Ali Ringside", no entanto, começa com um grave erro de ediçao na capa. Ali nao foi medalha de ouro na Olimpíada de 1964. Na verdade, tornou-se campeao olímpico quatro anos antes, entre os meio-pesados. Mas seu conteúdo emociona aqueles que gostam ou nao da 'nobre arte'.

A capa, uma cópia de ingresso de uma das lutas de Ali, é original, simpática e chamativa. Alex Haley, Norman Mailer, Joyce Carol Oates e Peter Richmond transcrevem a história feita por Ali desde a década de 60. A introduçao é assinada pelo ator James Earl Jones, o mesmo que estrelou "A Grande Esperança Branca", filme que contou a vida de Jack Johnson, primeiro negro a conquistar o cinturao dos pesados entre 1908 e 1913. A irreverência, capacidade e conscientizaçao política e religiosa nasceram nos anos 60 e fazem parte da primeira parte da publicaçao.

Fúria - A provocaçao, uma de suas maiores características, é um dos destaques. "Ele é muito feio para ser campeao mundial", esbravejou diante de Sonny Liston. Uma reproduçao de um ingresso do combate de 25 de fevereiro de 1964 mostra que os tempos eram outros. Uma poltrona no melhor lugar do ginásio custou US$ 20 00. Atualmente, um lugar semelhante nao sai por menos de 50 vezes esse valor.

Outro ponto que chama bastante a atençao é o cartaz da luta contra Ernie Terrell, em fevereiro de 1967. Nesse combate, Ali passou os 15 assaltos batendo no rosto do adversário, sem a intençao de nocauteá-lo. "Queria torturá-lo; só o nocaute seria muito bom para ele". Toda essa raiva de Ali surgiu porque Terrell se negou a chamá-lo pelo nome islâmico, adotado em 1964. Terrell seguia chamando por Cassius Clay. Ali ficou enfurecido e a cada golpe perguntava: "Qual é o meu nome? Qual é o meu nome?" Terrell teve de ser levado ao hospital, onde passou por uma cirurgia no rosto.

No capítulo inicial ainda é contado o período em que Ali teve seu título cassado por recusar-se a integrar o Exército norte-americano na Guerra do Vietña. Como tudo aquilo que nao foi agradável para ele, esse episódio também nao foi aprofundado como mereceria.

Desafios - Os anos 70 sao descritos por Norman Mailer, um apaixonado pelo boxe, que dedicou a obra A Luta para reproduzir o que foi o combate entre Ali e George Foreman, em 1974. Essa luta foi apenas um dos desafios que Ali teve pela frente nessa década. Reconhecidamente mais fraco fisicamente do que seus tradicionais rivais (Foreman, Joe Frazie e Ken Norton), Ali os vencia pela inteligência.

Nas páginas 53 a 55, uma falha de ediçao pode enganar um leitor mais desatento. A reproduçao do cartaz da terceira luta com Frazier, em Manilla, 1975, está à frente da primeira luta, em 1971, em Nova York. Sem indicaçao de data. A rivalidade entre Ali e Frazier também está registrada. Frazier nao se conformava com o estilo falastrao de Ali e chegou a dizer que o odiava.

Ali sempre tentou evitar os incidentes fora dos ringues e intitulou Frazier com o o adversário mais difícil e importante de sua carreira. Os dois só fizeram as pazes publicamente em 1996. A determinaçao e a garra, algumas das qualidades de Ali, sao representadas na cópia da radiografia de crânio na página 65. Em 1973, contra Ken Norton, Ali teve a mandíbula esquerda quebrada no segundo assalto. Informado do problema, Ali passou os dez assaltos seguintes com a boca fechada na tentativa de amenizar a dor. Perdeu por pontos.

A foto dupla nas páginas 82 e 83 é uma das mais tristes. Mostra Ali em açao diante de Leon Spinks, em 1978. O brincalhao campeao já nao trazia nos olhos o espírito de vencedor que marcou sua carreira. Eram os primeiros sinais do mal de Parkinson.

Longe dos ringues - Os anos 80 foram ruins para Ali no boxe, mas importantíssimos foram dele. Ali lutou duas vezes e perdeu ambas. Primeiro para Larry Holmes, seu ex-sparring, que iria dominar a categoria até 1985. Depois para um comum Trevor Berbick, que nao poderia passar pelo portao do ginásio quando Ali estivesse treinando na década de 60 e 70.

Pouco depois de abandonar os ringues, em 1981, Ali anunciou sofrer do mal de Parkinson, doença que tirou seus movimentos e diminuiu seus reflexos. Ali nao "voava" mais 'como uma borboleta' e nao 'picava' mais 'como uma abelha'. Mas seu fôlego permanece o mesmo. A última parte do livro mostra como é o cotidiano de Ali.

Sao 250 dias de viagens por todo o mundo para participar de conferências, palestras e divulgar o islamismo. Isso lhe garante uma renda de US$ 1 milhao mensais. Sua fortuna, apesar dos empresários, alcançou US$ 80 milhoes. Todo esse dinheiro já foi injetado na construçao de um museu, em Lousville, sua cidade natal, que vai reunir tudo o que possa lembrar sua carreira. Sua comitiva, que chegou a ser composta por 60 pessoas, hoje está resumida a duas pessoas. Uma é sua mulher, Lonnie, com quem se casou em 1986. A outra é Howard Bingham, um amigo inseparável, que o fotografa há 35 anos.

Muhammad Ali Ringside é uma obra indispensável para as prateleiras das pessoas que querem saber um pouco sobre aqueles que fizeram a história do século 20.




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