"Todo biógrafo, até para se desintoxicar, deveria fazer alguma experiência em ficção. A possibilidade de trabalhar um dia com a imaginação, e não com a fanática busca da informação, é maravilhosa", acredita. "Mas não adianta, você não consegue mudar as pintas do leopardo. Para escrever o romance, em 2000, levei um ano estudando o Rio do começo do século 20 e os principais personagens da história: Bilac, José do Patrocínio e a turma de intelectuais da Colombo. Então, tudo que está no romance é real: roupas, costumes, comidas, gírias, meios de transporte, etc. Só a história era inventada. E, mesmo assim, nem tanto, porque o Patrocínio realmente começou a construir um dirigível, com o apoio do Bilac, e o dirigível realmente pegou fogo. Os próprios vilões, o padre e a espiã portuguesa, também existiram, só que com outros nomes."
Segundo ele, tal acúmulo de detalhes, habitualmente dispensados quando um livro é adaptado para o cinema ou o teatro, teve utilidade. "Heloisa Seixas e Julia Romeu fizeram algumas mudanças importantes na trama, o que é inevitável quando se transpõe uma linguagem para outra, e achei tão boas que estou até pensando em incorporá-las ao romance. Por exemplo, os irmãos Wright não estavam no livro. E não consigo mais pensar na história sem eles. E já estou achando difícil pensar no Bilac sem me lembrar da caracterização do André Dias. Acho que nem o Bilac se pareceu tanto consigo mesmo quanto o André!"
O trabalho de adaptação foi tranquilo e flui com facilidade, segundo contam Heloisa e Julia, mãe e filha - e Heloisa é casada com Ruy. "Escrevemos juntas quase o tempo todo, trocando ideias, mas, às vezes, cada uma leva o texto para casa, relê e faz sugestões. Ninguém é responsável exclusivamente por uma parte, mas a Heloisa fica mais a cargo da estrutura da peça e eu, dos diálogos", explica Julia, em depoimento divulgado no material da assessoria de imprensa.
Segundo elas, o trabalho de adaptação demorou dois anos e a pesquisa foi muito além do romance que inspirou o espetáculo. "Não apenas lemos o livro, mas mergulhamos na obra do Bilac, em seus poemas e crônicas, e estudamos muito o Rio do início do século 20. Essa época é muito charmosa e tem paralelos com o momento que estamos vivendo agora, de intensas mudanças na cidade", acrescenta Julia.
Na condução do espetáculo, João Fonseca disse, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo no ano passado, quando estreou no Rio. "No caso de Bilac, isso não aconteceu, na medida em que é um passado distante de mim. Senti mais nostalgia nos espetáculos que dirigi sobre Cassia Eller e Cazuza, que trouxeram à tona uma época que vivi", diferencia Fonseca, que assinou ainda musical sobre Tim Maia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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