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Áreas de risco da região voltam a ser ocupadas
Rodrigo Cipriano
Do Diário do Grande ABC
23/03/2005 | 15:11
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Parte dos 461 barracos pendurados à beira de encostas de favelas de São Bernardo voltou a ser ocupada. As casas, espalhadas ao longo de três morros da cidade – Silvina, Biquinha e Montanhão – estavam interditadas desde janeiro por recomendação do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). A remoção foi a resposta do governo do Estado à série de deslizamentos que matou 10 pessoas em favelas de São Bernardo.

O número exato de pessoas que voltaram às casas condenadas pelo risco iminente de novos deslizamentos ninguém sabe dizer. Porém, o próprio secretário de Habitação da cidade, Osmar Mendonça, admite que os morros foram reocupados. “Muitos acreditam que ocupar uma área de risco seja o caminho mais curto para a inclusão em programas habitacionais”, avalia o secretário. O controle da situação é difícil, segundo ele.

São vários os motivos apresentados pelos moradores para justificar a volta. A má condição dos abrigos disponibilizados pela Prefeitura para alojar os cerca de dois mil desabrigados da cidade é a principal.

Para cada uma das favelas de São Bernardo, a administração municipal disponibilizou um abrigo específico. Aos desabrigados do Silvina e do Montanhão, foram entregues quartos em alojamentos da cidade. Os moradores do Silvina foram para espaços da favela do Oleoduto, perto da Anchieta.

Em todos os abrigos provisórios, as reclamações são as mesmas. O aperto dos quartos obrigou as famílias a deixarem para trás móveis, aparelhos domésticos e roupas. “Doei metade do que tinha. O pouco que tinha perdi depois que a vizinha do quarto de cima esqueceu uma torneira aberta. O quarto dela alagou e a água vazou para minha casa”, diz o carroceiro Etevaldo Assis da Silva, 48 anos, ex-morador do Silvina.

Por falta de manutenção, muitos vasos sanitários estão com a válvula de descarga quebrada. No local, o cheiro é insuportável. Alguns dos chuveiros não têm aquecedor. Como o abastecimento é feito com caminhão-pipa, alguns dias não há água.

Se a situação dos desabrigados das favelas do Montanhão e Silvina é crítica, os cerca de 700 desabrigados foram levados à quadra do Centro de Convivência Mariana Benvinda, no Ferrazópolis. Por lá, a vida é semelhante a de um acampamento. Homens e mulheres não se misturam. Cada qual estende seu colchonete num lado da quadra.

“A gente não tem privacidade. Cada um dorme em um horário diferente. Às vezes você quer descansar, mas tem gente conversando”, diz a doméstica Silmara Lima, 24. Com três filhos pequenos, ela foi uma das que voltou para a favela da Biquinha. Mas não para o mesmo barraco onde morava – destruído por deslizamento no início do ano. “Construí outro para ela aqui mesmo”, diz o irmão de Silmara, Viomar Lima, 22.

Mesmo com os riscos que sabe estar sujeita, Silmara não pretende deixar a nova casa. “De noite quando chove eu não consigo dormir de tanto medo.”

Entre as três favelas devastadas pela chuva no início do ano, a única que não voltou a ser ocupada foi a do Silvina – que concentrou nove dos 10 mortos em soterramentos. “Isso aqui virou uma tristeza só. Às vezes olho para janela e lembro dos meus vizinhos brincando na rua. Agora, ninguém mais tem coragem de morar aqui”, afirma a dona de casa Adeilda dos Santos, 53 anos, uma das poucas que não teve a casa interditada.

Para evitar novas ocupações, a Prefeitura de São Bernardo determinou a demolição das casas que estavam em risco iminente de deslizamento nas três favelas. De acordo com o secretário municipal de Habitação, Osmar Mendonça, os imóveis que sobraram são fiscalizados periodicamente. Caso seja constatada a reocupação, a casa é demolida. Desde o início do ano, segundo o secretário, a medida extrema foi adotada em 18 casos.

De acordo com um levantamento feito pela Defesa Civil do Grande ABC no fim de 2004, antes do início das chuvas de verão, São Bernardo possuía 15 áreas de risco, que colocam em risco a vida de 12 mil pessoas.



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