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Pet mania

Considero de uma sensibilidade tocante o amor...

Rodolfo de Souza
28/05/2015 | 07:00
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Considero de uma sensibilidade tocante o amor que algumas pessoas têm pelo seu bichinho de estimação. Admiro essa gente que dedica boa parte do seu tempo a adular aquele que lhe retribui o gesto com gostosas lambidas na cara e com o rabo inquieto que se esforça em demonstrar o quanto é grato o seu dono. Há muito o que agradecer, de fato! É a boa ração, é a confortável caminha, é o banho com direito a secador e escovada... Tudo muito bom, embora nada se compare ao afago do seu senhor e provedor. Este sim é bom demais!

O passeio pela rua, então, é o momento mais aguardado do dia. Pausa para uma e outra cheirada, para o xixi e para o cocô que seu acompanhante humano carinhosamente abaixa para recolher e embalar, com capricho, no saquinho levado para esta finalidade. Cachorro educado é assim, espera o momento certo. Nada de sujar a casa.

E cachorrinho bem comportado merece mais do que passeio pela calçada no final da tarde: há de frequentar também o supermercado e o shopping. É, o shopping! Sobretudo se o cão pertencer a uma raça qualquer que o diferencie do coitado que perambula solitário pelas ruas. São, aqueles, encantadoras criaturas de pêlo brilhante que costumam passear nos braços de pessoas orgulhosas do asseio de seu cãozinho. São finos, afinal, e seriam incapazes de tombar um cesto de lixo na praça de alimentação, tal como faria seu irmão menos favorecido.

Mas nem só os pequenos desfrutam do direito à regalia de desfilar solenes pelos corredores apinhados e dar os seus latidos aqui e ali, sempre poucos, já que estão mais do que habituados ao lugar carregado de luzes, pessoas e odores.

Portanto, desde que ostente sangue puro, bem próprio de ambientes requintados, qualquer que seja o cachorro, este pode ser visto no shopping. Dia destes, por exemplo, vi um sujeito que passou o maior perrengue com seus animaizinhos de estimação, ao tentar tomar um café numa cafeteria em que as pessoas não viam com bons olhos a presença dos dois mastodontes presos em coleiras e grossas cordas esticadas como encordoamento de violão. Tentavam, pois, as doces crianças, se livrar do rapaz franzino que já desconfiava de que não fora feliz quando teve a estúpida ideia de tirá-los de casa naquela noite. Embora se empenhasse em sustentar o ar de serenidade com uma pitada de cinismo, pude notar uma pontinha de arrependimento no semblante que disfarçava a raiva ao tentar conter os bichos. Raiva que as pessoas amedrontadas também sentiam por ele, a cada investida dos animais.

Nada contra essa gente que passeia com seus bichinhos em locais, a princípio, concebidos e construídos para o deleite humano, que fique bem claro. Tenha o sangue que tiver, o canídeo, vejo-o com simpatia, apreciando as mercadorias e analisando os preços nas vitrines dos pet shops.

Tenho consciência, inclusive, de que não é de bom tom enfatizar a questão da raça pura, sobretudo, nos dias de hoje em que processos rolam soltos.

Diga-se de passagem, o leitor que possui o bom e velho vira latas em casa e no coração, há de se irritar e protestar, chamando de preconceituoso este escritor. Até porque não sabe que ele, um dia, também se encheu de encantamento com um cão de raça indefinida que lhe trouxe muita alegria. Que saudade!

* Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.wordpress.com

E-mail para esta coluna: souza.rodolfo@hotmail.com. 




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