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Para ouvir o Chico até a madrugada na Oliveira Lima

Vem que passa teu sofrer. Se todo mundo sambasse seria mais fácil viver

Ademir Medici
28/05/2015 | 07:00
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Vem que passa

teu sofrer.

Se todo mundo sambasse

seria mais fácil viver.

Refrão de Tem Mais Samba, feito de encomenda por Chico Buarque para o show Balanço de Orfeu, que estreou em 7-12-1964 no Teatro Maria Della Costa, em São Paulo, e que o autor, quase que com certeza, interpretou em Santo André em janeiro de 1965, meio século atrás.

Chico Buarque em Santo André. Principiante. Tudo devidamente documentado no News Seller, em 1965, conforme indicação do arquiteto Euclydes Rocco Jr, o Tidinho. E com fotos.

Naquele tempo, o semanário que antecedeu o Diário era impresso pelo sistema gráfico do chamado chumbão, as fotos em clichês, diferente do sistema atual. Por isso, as imagens não estão boas.

Recorremos a dois profissionais da casa, o fotógrafo Denis Maciel e o infografista Agostinho Fratini. O resultado aqui está, ilustrado pelo texto genial do jornalista Valdir Pires.

Chico já era conhecido em 1965. Tinha 20 anos. Mas na reportagem de Valdir Pires é tratado em pé de igualdade com os demais artistas, gente do futuro Grande ABC. Imaginem, depois do espetáculo na Sociedade Cultural Ítalo-Brasileira, Chico foi à sede da Ausa, numa sobreloja da Rua Coronel Oliveira Lima. Cantou e tocou até de madrugada.

Uma data para entrar na história: a virada de 4 para 5 de janeiro de 1965.

Detalhe publicado na edição de 3 de janeiro de 1965, na coluna do jornalista Alberto Floret (hoje Folha do ABC): o show seria gravado pela Rádio ABC para posterior apresentação em programa do próprio Valdir.

No texto a seguir, Valdir Pires cita o técnico de som João Batista de Andrade, provavelmente incumbido de fazer a gravação, já que participou daquela noite. Gente do céu, será que alguma alma generosa guardou aquela fita?

Tidinho, obrigado!

O meu relógio

marcava 19h

quando cheguei

à Ítalo-Brasileira

Texto: Valdir Pires

News Seller, 10-1-1965

Fui para o bar. Lá fora o tempo continuava indisposto. Não tinha ninguém. Na mesa era eu só. Aí chega o Tidinho Rocco, preocupadíssimo. Iria faltar o contrabaixo. Indagou se eu sabia de alguém no ABC que pudesse emprestar o dito-cujo. Respondi negativamente.

Alguém se aproxima. É Leda Mascarenhas, seu violão, mais o nervosismo que, aliás, é muito natural. Pedimos um lanche e passamos a conversar para matar o tempo, a única coisa que se podia fazer então. E dizia do sucesso que iria ser (como realmente foi; vocês precisavam estar lá, junto com as 500 pessoas, para ver Leda Mascarenhas interpretando com sentimento a letra de Vinicius de Morais e Carlos Lyra, Primavera).

No meio disso tudo, entra a Betti Tognato, que deveria participar do show cantando uma de suas boas inspirações, Praia e Mar, bonitinha como ela só. Muita gente que conhecia a letra saiu chateada em não poder ouvi-la. Mas são coisas.

Nessas alturas sentimos que o bar e o restaurante do espaço estavam tomados pelos fãs da música moderna brasileira. Na sua grande maioria, jovens, aos quais muito se deve pelo sucesso sempre crescente da Bossa Nova.

É hora de Ausamba começar. Indago sobre o contrabaixo. Tudo azul. Dirigimo-nos para a plateia. Encontramos a Glacy, como sempre toda sorriso e segura de si.

Tidinho dá um berro avisando que estavam em cima da hora. Os participantes dirigem-se para o bastidor: Leda, Glacy, Dino Galvão, Cimbal Trio, Bosãopaulo Trio, Sérgio Augusto, William, Anchite e Chico Buarque de Hollanda.

Tidinho vai ao microfone e explica o porquê de estarmos ali reunidos aquela noite. Começa o samba da Ausa com o Cimbal Trio, que é de São Bernardo. Alguém perto de mim faz críticas severas ao som local e ao seu responsável. Eu concordo em termos e explico que a culpa não cabe ao moço João Batista de Andrade, que conheço de longa data e reputo-o como o melhor do ABC no assunto. A culpa todinha é do amplificador da Ítalo-Brasileira que está em petição de miséria. Desta forma, não poderia fazer milagres.

Tudo é resolvido e a compreensão toma conta do assunto. Mesmo com o som péssimo, a plateia colabora e o Vamos Ausamba termina em paz. Todos vão embora. Uma parte para as suas residências, a outra (e eu fiquei com esta) dirige-se à sede da Ausa para ouvir o moço Chico Buarque de Hollanda até a madrugada.

Município Paulista

- Hoje é o aniversário de Valinhos, elevado a município em 1954, quando se separa de Campinas.

Hoje

- Dia Nacional de Luta pela Saúde da Mulher

Diário há 30 anos

Terça-feira, 28 de maio de 1985 – ano 28, nº 5836

Manchete – Reforma agrária atende 10 milhões de trabalhadores

Educação – Crianças da Escola Estadual Luiz Martins, do bairro Bom Pastor, em Santo André, em passeata contra balões juninos.

Em 28 de maio de...

1910 – Nasce, na Linha Jurubatuba, do Núcleo Colonial de São Bernardo, Luiz Casa, construtor de uma escolinha na Rua Jaborandi que durante 15 anos aglutinou os alunos do bairro Assunção, até a construção do primeiro grupo escolar da área, na Vila Marchi. Luiz Casa morreu em 7 de maio de 1979.

1915 – Secretaria da Justiça e Segurança Pública determina a substituição completa do destacamento policial de Santo André, que executou com 14 tiros de revólver o morador João Claudio, do Ipiranguinha, que resistiu à prisão.

- A guerra. Do noticiário do Estadão: ‘A avançada italiana no Tirol e no Trentino’.

1930 – Realizadas solenidades na Igreja do Carmo, em Santo André, por intenção do cardeal Arcoverde, recentemente morto.

1955 – Fundado, em São Bernardo, o Esporte Clube Brasil. Os 60 anos do clube serão celebrados amanhã à noite, no Clube Mesc, bairro Assunção.

2010 – Lançamento do Cartão Legal em São Bernardo.

Santos do dia

- Nossa Senhora da Conceição. Século 18. Barro cozido e policromado. Proveniente do Vale do Paraíba.

Imagem faz parte da exposição Barro Paulista: a tradição bandeirante do imaginário em barro cozido. Em cartaz no Museu de Arte Sacra, Capital (Avenida Tiradentes, 676, bairro da Luz). Curadoria: Dalton Sala.

- Bernardo de Novara

- Emilio

- Margarida Pole 




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