Economia Titulo Trabalho
Mulheres desbravam
território masculino

Presença feminina aumenta em postos até então ocupados
apenas por homens; um dos exemplos é piloto de helicóptero

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
31/10/2011 | 07:30
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As mulheres, a cada dia, ocupam novas áreas, antes dominadas exclusivamente por homens. Pilotos, mecânicas, pedreiras, policiais e operadoras de petroquímica, são alguns exemplos de profissionais que mostram que a expressão ‘sexo frágil’ ficou no passado. Pelo contrário, tem-se valorizado mais a presença feminina em diversas atividades.

Para Michele Gusman, 29 anos, que está perto de concluir o curso de piloto comercial de helicóptero, o que se percebe é a boa receptividade de colegas e controladores de voo em relação à sua meta de trabalhar mais perto das nuvens. “Eles até incentivam”, diz.

Formada em fonoaudiologia e atuando até hoje nessa área, Michele, que mora em Santo André, conta que sentia falta da alguma coisa no campo profissional. “Gostava de vista panorâmica, de altura, mas nunca tinha voado de helicóptero”, afirma. Começou a pesquisar sobre isso e, por indicação de um conhecido da família, fez um curso teórico em escola do município e, depois se inscreveu para fazer a parte prática no Campo de Marte, na Capital.

Michele já obteve o brevê de piloto privado, que exige 35 horas de voo, e até sexta-feira, faltavam apenas 30 horas para concluir as 100 necessárias para ser piloto comercial. Um de seus planos é se tornar instrutora e ensinar outras pessoas a voarem.

AUTOMOBILISMO - A paulistana Helena Deyama, que foi campeã brasileira de Rally Cross Country em 2005, conta que apesar de sua longa experiência como piloto – em 1995, iniciou a participação em raides (provas de regularidade) e, a partir de 1999, passou para a categoria de velocidade cross country –, há oito anos, quando começou a dar aulas de direção defensiva, às vezes, sentia alguma resistência ao fato de ser mulher. “Mas o currículo facilita. O preconceito vira a admiração quando a gente explica e demonstra o exercício”, ressalta.

Helena cita que a participação feminina tem crescido no automobilismo, em todas as categorias de corrida. Outro exemplo é Bia Figueiredo, competidora de Fórmula Indy. “Eu acho que, de modo geral, mostramos que temos capacidade. A tendência é aumentar (o número de mulheres nas provas)”, diz a piloto de rally. E ela aconselha jovens que querem trilhar caminho semelhante: “Não vai ser fácil, é preciso ser perseverante. Exige determinação e não ter vergonha de perguntar”. Foi dessa maneira, tirando dúvidas nas oficinas, que ela aprendeu, na prática, a entender de mecânica.

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Operação petroquímica tem pioneira

Na área petroquímica, a presença de mulheres na área de operação e manutenção de uma planta fabril (verificando as condições dos equipamentos, coletando amostras e fazendo manobras especiais como o desvio de produtos para outras linhas, por exemplo) ainda é algo raro.

A operadora gaúcha Cindi Farias, 28 anos, que hoje trabalha na fábrica da Braskem no Grande ABC, é uma das pioneiras. Depois de fazer curso técnico em plástico, ela ingressou como estagiária, em 2004, na Copesul, em Triunfo (RS), e depois, foi efetivada, em 2006.

Ela cita que, quando ela iniciou, era o segundo ano em que a empresa abria espaço para mulheres na operação. Ainda no início da carreira, Cindi fez especialização em técnica de operação e hoje possui também curso superior de gestão de produção.

Ela afirma que, quando começou no segmento, sentia que havia receios dos homens, porque achavam que as mulheres não ficariam muito tempo na atividade. Em 2011, surgiu a oportunidade de trabalhar na unidade de insumos básicos do Grande ABC. “Aqui no ABC, eu sou a primeira e ainda a única. Cheguei e fui super bem recebida”. Ela acrescenta que trabalhar no meio dos homens não é problema, afinal, desde o curso técnico, tem mais colegas homens do que mulheres. “Espero estar abrindo novas portas para a contratação de mais mulheres na operação”, conclui.

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Profissionais têm trajetória de superação do preconceito

O fato de as mulheres ampliarem a presença em profissões tradicionalmente tidas como masculinas é uma trajetória de superação de preconceitos, afirma a consultora de Recursos Humanos da Gelre Maria de Fátima e Silva.

Ela cita que na década de 1970 os cursos técnicos de eletroeletrônica e mecânica só eram abertos para homens. Aos poucos, a situação vem mudando, inclusive, com mais participação feminina em posições de destaque nas empresas. Pesquisa do Instituto Ethos mostra que, em 2001, havia 6% de mulheres em cargos de diretoria, e, em 2010, esse número chegou a 13,8%.

Além disso, a presença da mulher no mercado de trabalho também tem crescido. Na região metropolitana de São Paulo, elas passaram de 55,9%, em 2009, para 56,2% em 2010, segundo dados da pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos em parceria com a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, embora o desemprego feminino ainda seja bem maior do que o masculino.

COMPETÊNCIA - Para a consultora, a maior presença mostra que o mercado, cada vez mais, leva em conta a competência, ou seja, o melhor profissional para uma função, que não está vinculado nem a gênero, nem a raça. “Isso revela inteligência estratégica das empresas, que passam a buscar quem mostra mais aptidões para desenvolver uma atividade”, afirma.

A consultora avalia que a sociedade ainda tem muito a avançar. “Ainda se ouve críticas no trânsito e tem-se a ideia de que a mulher tem postura mais enfraquecida ou chorona”, observa.

Maria de Fátima é otimista. Ela assinala que essa mudança cultural, não ocorre de uma hora para outra. “A presença feminina em profissões consideradas masculinas vai influenciar as novas gerações. Uma supervisora de engenharia na construção civil faz o trabalhador rever seus conceitos”, destaca.




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