Economia Titulo Terceirizações
1º de Maio atrai
15 mil na região

Sindicalistas da CUT concentraram críticas
contra o projeto de lei aprovado na Câmara

Por Fábio Munhoz
Leone Farias
02/05/2015 | 07:29
Compartilhar notícia
Celso Luiz/DGABC


Os dois atos organizados pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) no Grande ABC para o 1º de Maio atraíram ao todo cerca de 15 mil pessoas. Ambos foram realizados em São Bernardo. O público é bem inferior ao registrado na festa do Dia do Trabalho em 2013 – último ano em que houve evento em alusão à data na região –, que reuniu aproximadamente 70 mil espectadores no Paço Municipal da cidade, em reforma desde o ano passado.

Diferentemente dos outros anos, em que era feito único ato político, geralmente em meio a vaias, por ser longo e anteceder a atração mais aguardada, neste foram feitos vários nos intervalos dos shows. Foram concentradas críticas contra o PL (Projeto de Lei) 4.330/2014, que visa regulamentar as terceirizações no País e libera a contratação de prestadores de serviço indireto em atividades-fim. Ou seja, em uma fábrica do ramo metalúrgico, por exemplo, a produção poderia ser terceirizada. Sindicalistas da CUT consideram que o texto, já aprovado pela Câmara dos Deputados, acarretaria demissão de empregados diretos e “precarizaria” a mão de obra.

“O recado que temos de dar é de luta pelos direitos conquistados, que estão sendo ameaçados. Este é um ano difícil e não pode significar retrocesso na legislação trabalhista nem no Estado democrático”, afirma Rafael Marques, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. O diretor administrativo da entidade, Moisés Selerges Júnior, critica o ajuste fiscal prometido pelo governo, que deve provocar alterações na Previdência e no acesso ao seguro-desemprego. “O trabalhador não pode pagar essa conta.” O vice-presidente Aroaldo de Oliveira salienta os pontos positivos da data. “Tem que comemorar as lutas, as conquistas que tivemos nos últimos anos e celebrar as bandeiras de luta da classe.”

Diretor licenciado do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, o deputado estadual Teonílio Monteiro da Costa, o Barba (PT) diz que o projeto de lei ameaça a renda dos assalariados. “Esse PL regulamenta a redução dos salários, pois as empresas vão demitir um funcionário e contratar um terceirizado, ganhando metade.”

Representante da CUT no Conade (Conselho Nacional da Pessoa com Deficiência), Flávio Henrique de Souza avalia que a matéria, que tramita no Senado, é uma “ameaça” aos trabalhadores. “O Conade já entregou moção de repúdio à Câmara sobre o projeto. Faremos o mesmo no Senado. Não aceitaremos a precarização.”

O diretor do Sindicato dos Químicos do ABC Sergio Carasso citou, em discurso, acidente ocorrido em fevereiro no Espírito Santo. Explosão em navio-plataforma de uma terceirizada da Petrobras deixou três mortos e dez feridos. Ele critica o fato de, hoje, terceirizados não terem direito a benefícios como PLR (Participação nos Lucros e Resultados) da empresa contratante e acesso ao ônibus fretado.

O presidente eleito do Sindicato dos Bancários do ABC, Belmiro Moreira, também reforça a necessidade de união entre o proletariado. “É importante, nesse momento difícil da conjuntura política, que a gente se mobilize para não perder direitos.”


Artistas não veem motivo para festa

Apesar de terem levado entretenimento à população, artistas convidados para as festas de 1º de Maio da CUT (Central Única dos Trabalhadores) reconhecem que o trabalhador brasileiro tem pouco a comemorar neste ano. Corrupção, mudanças na legislação trabalhista e a crise financeira no País são os pontos considerados preocupantes.

“Viemos trazer entretenimento, porém, não venho com aquela felicidade, achando que está tudo certo. Não é dia de alegria. Primeiro porque o dia do trabalhador é todos os dias. E segundo porque não dá para comemorar o que a gente não tem”, comenta o rapper Dexter.

O cantor também comentou sobre a situação dos professores da rede pública, em greve em cinco Estados, incluindo São Paulo e Paraná – onde cerca de 200 ficaram feridos após confronto com a polícia em Curitiba, na quarta-feira. “A polícia trata os caras como bandidos. É uma guerra constante dos professores, que merecem ganhar bem. Tem que valorizar essas pessoas.”

Sobre as manifestações ocorridas recentemente, nas quais os participantes reivindicaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e uma intervenção militar, Dexter fez mais críticas. “São coisas que nem deveriam ser discutidas. A gente tem que fazer por onde melhorar. Tem que se prestar atenção em uma coisa chamada evolução. Só que a evolução não pode vir acompanhada de repressão, e sim de educação.”

O vocalista da banda Samprazer, Billy SP, também chama atenção para a mobilização operária. “Temos que estar sempre lutando e reivindicando melhorias. Infelizmente, estamos passando por momento delicado na economia do País e os trabalhadores são os mais afetados.” Ele considera que tocar no Grande ABC, berço do sindicalismo, no 1º de Maio é “simbólico”.

Com o Paço Municipal em obras, os atos foram feitos em dois endereços. No Jardim Palermo, tocaram Turma do Pagode, Samprazer, Negra Li, Dudu Nobre e Rappin’Hood. No Jardim do Lago, os shows foram de Arlindo Cruz, Almir Guineto, Edi Rock e Afro-X.


População aprova shows, mas cita dificuldades do cenário econômico

Muitos dos que foram aos shows gratuitos do Dia do Trabalho na região ontem para ver as apresentações e aproveitar os momentos de festa afirmaram que não há muitas razões para comemorar a data, em meio ao cenário de desemprego em alta, inflação elevada e os receios de perda de direitos conquistados, por causa do eventual aumento da terceirização.

“Está complicado. Trabalho na construção civil e está tendo muita demissão na minha área”, disse o gesseiro Jhonny Marques, 30 anos, que foi com a mulher, Carla Ramos, 33, e seus dois filhos, Vera Lúcia, 13, e Richard, 10, para ver as apresentações no bairro Jardim do Lago. No mesmo local, o operador de máquina Jailton Fernandes, 29, elogiou os shows, mas também lembrou dos problemas do dia a dia. “O desemprego está grande, e se perder o emprego, para arrumar outro será difícil”, afirmou.

“Acho que os trabalhadores têm que lutar pelos seus direitos, e não comemorar. Mesmo assim, vim aqui mais para ver os shows, mesmo, principalmente do Dexter, do Dudu Nobre e da Turma do Pagode, e também quis ver o que os sindicatos estão fazendo por nós”, disse Nilza Silva dos Santos, 39, auxiliar de produção.

O contador Venilton Santos Paula, 48, que foi ao evento da CUT no Jardim Palermo, mostrou preocupação. “O momento da economia no Brasil é terrível, nebuloso e sem qualquer perspectiva de melhora, ainda mais com a ameaça contra os direitos dos trabalhadores. Falta emprego e a inflação está alta”, desabafou. “Estamos vivendo uma fase difícil, mas o trabalhador tem que erguer a cabeça e seguir em frente. Se nos deixarmos abater, tudo ficará mais difícil. Mas, apesar de tudo, temos que comemorar o que já foi conquistado”, destacou o vendedor Chirles Oliveira, 26.

O serralheiro Igor Mesaque, 25, citou que as coisas não estão para se comemorar, mas elogiou os shows. “O governo ou a prefeitura poderiam fazer mais eventos desse tipo no bairro”.  




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;