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Colados no asfalto a 110 km/h
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
12/09/2010 | 07:15
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Descer ladeira com carrinho de rolimã a 40 km/h já é emocionante. Mas tem gente que achou que poderia injetar mais adrenalina ainda e criou o rolling skate.

O esquema é mais ou menos o mesmo: trata-se de um pedaço de madeira só que com rodinhas de skate, em que o piloto desce o percurso deitado de bruços com a cabeça para baixo. O corpo fica colado no asfalto e chega a atingir 110 km/h.

O gostinho da velocidade faz parte da vida de Jeffer da Fonseca, 17 anos, de Diadema. "Voamos baixo. A sensação é indescritível", conta o garoto, que está no esporte radical desde que se conhece por gente. "Meu pai sempre praticou. É tradição de família. Desci a primeira ladeira sozinho aos 10."

Clézio da Fonseca, 48, pai de Jeffer, faz parte da Equipe Escova, que surgiu em 1990, em Diadema, e costumava descer as ladeiras do Parque dos Pássaros, em São Bernardo. "É realmente paixão, por isso, queremos resgatar o esporte."

Não se sabe exatamente onde surgiu o rolling skate. O fato é que os carrinhos começaram a rodar no fim da década de 1970 em várias cidades do Interior, como Campinas e Valinhos, e também no Grande ABC, principalmente, em Diadema e Santo André.

"Tínhamos mais de 50 participantes em uma única competição (o último campeonato paulista foi realizado em 1991). Era preciso dividir em baterias", lembra Almir Borba, 45, que considera o esporte Fórmula 1 sem recursos. "Não é brincadeira de criança. Priorizamos sempre a segurança."

Almir também transmitiu o gosto pelo perigo para o filho,Danilo Borba, 20. Sempre que podem, participam de competições no Interior e em Alphaville. A dedicação ao esporte é intensa. "Temos nosso carrinho e sempre estamos praticando. Além da diversão, passar mais tempo ao lado do meu pai não tem preço", diz o garoto.

Danilo revela que um dos segredos para se dar bem e não se machucar é aprender a controlar o carrinho na curva. "Usamos dois ‘freios' feitos com pedaços de pneu. O cheiro deles queimados é demais."

Não rola sem segurança
É preciso ter cuidado para praticar todo e qualquer esporte. A atenção deve ser redobrada no rolling skate, já que a velocidade é muito alta. Os praticantes não descem a ladeira sem luvas, cotoveleiras, joelheiras e, principalmente, capacete com viseiras para proteger os olhos das pedrinhas do asfalto.

"É necessário que tenha certa experiência e cuidado", acredita Paulo Roberto dos Santos, 47 anos, de Santo André. Durante muitos anos ele andou com os carrinhos e até hoje se diverte quando tem a oportunidade.

"Antigamente era mais fácil, menos perigoso. Não tinha tanto carro passando na rua", lembra Paulo, que conta que os pilotos eram considerados bagunceiros e loucos. "Já aconteceu de a polícia chegar e jogar os carrinhos em um caminhão e levar embora."

Para contornar o perigo de um carro atrapalhar a descida, o pessoal de Diadema costuma usar rádios de comunicação. "Avisamos se tem alguém vindo", diz Jeffer da Fonseca. Para ele, o ponto mais crítico são as curvas. "Chegamos com velocidade altíssima. Quem está assistindo acha que não vamos parar."

Diferentemente de Jeffer, o filho de Paulo Roberto, Gustavo Santos, 16, acha o esporte tão radical que prefere apenas acompanhar o pai. "Até já tentei descer a ladeira, mas não é a minha praia. Admiro meu pai por isso."

Desafiando a gravidade
Assim como o rolling skate, outros esportes de rodinhas desafiam a gravidade. O que mais alcança velocidade - 130 km/h - é o street luge, em que o piloto desce a ladeira de barriga pra cima no trenó. Lembra o iceluge, esporte dos jogos Olímpicos de Inverno. Só que no lugar das lâminas no gelo, usam rodinhas de skate no asfalto.

A primeira corrida profissional foi em 1975 na Califórnia. Gilberto Cossia, 47 anos, de São Bernardo, trouxe o esporte ao Brasil na década de 1980. "Fiz o meu trenó baseado em revistas americanas. Andava nas ruas menos movimentadas da cidade, inclusive em uma parte da Anchieta que, na época, estava interditada", lembra.

Diego Cossia, 14, já está aprendendo a técnica com o pai. "Dá medo, mas é muito bom. Descia com ele e agora tenho meu próprio trenó. É radical", conta o garoto.

O street luge não é brincadeira, tanto que os atletas usam macacão de proteção. Faz parte da IGSA, associação internacional de esportes que desafiam a gravidade. "Já sofri acidentes graves, mas a adrenalina não me deixa parar", conta Gilberto, que é o atual campeão sul-americano. O mundial rola em novembro na cidade de Teutônia, Rio Grande do Sul.

Mais radicais - O downhill slide também dá frio na barriga. Os skatistas descem as ladeiras em alta velocidade arriscando manobras. O mesmo faz a galera do gravity bike, só que com bicicleta, e os atletas no inline, com patins. Quer saber mais? Acesse www.igsaworldcup.com

Do que é feito o carrinho?
Shape de madeira onde o piloto se deita. O tamanho varia um pouco.

Eixos feitos de metal que proporcionam movimento na parte da frente e atrás.

Guidões que, como os de bicicleta, dão direção ao carrinho.

Quilha também feita de metal, serve para apoiar as pernas no momento da corrida e segurar o corpo na curva.

Freios ou borrachões são pedaços de pneu colocados nos antebraços do piloto e raspados no asfalto para parar o carrinho.

Rodinhas ou tarugos são feitas de poliuretano, material resistente, o mesmo das rodas de skate.

Para ter um desses, é preciso desembolsar, no mínimo, R$ 400, já que as rodinhas maiores são feitas sob medida. Elas variam de 75 a 130 centímetros de diâmetro.




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