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Vida no circo: picadeiro no quintal da própria casa
Nayara Fernandes
Especial para o Diário
21/03/2010 | 07:42
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Ele joga videogame, navega pela internet, estuda e faz muitas outras coisas como os colegas de sua idade. No quintal da casa tem trapézio (fios pendurados no alto da lona) e cama elástica. O mais legal é que brinca de verdade de ser palhaço e é aplaudido por isso.

Richard Du Vale Nepomuceno Guedes, 7 anos, mora no circo desde que nasceu. É conhecido por Richinha no picadeiro (palco), onde costuma se apresentar com os palhaços mais velhos. Agora, está aprendendo a fazer acrobacias no trapézio. "Na primeira vez, balancei lá em cima e fiquei com muito medo. Quando caí na cama elástica, me senti aliviado", conta. Depois disso, decidiu que quando crescer quer ser trapezista como os pais.

Richinha, como a maioria das crianças que vivem no circo, mora num trailer (casa sobre rodas), onde tudo é apertadinho. Lá fica instalado o computador e o Wii, com o qual adora brincar quando não está aprendendo malabares (objetos jogados com a mão para o alto), ensaiando as brincadeiras do espetáculo ou estudando.

Pela manhã, vai ao colégio. Todo mundo que mora no circo tem vaga garantida por lei na escola em qualquer lugar do Brasil. Richard adora aprender e fazer novos amigos. "Só não gosto de ter de mudar de professores e amigos toda vez que o circo vai para outra cidade.

Bom e ruim - Ficar longe dos amigos é a maior queixa de Matheus Felipe de Jesus Silva, 13. Ele mora com a mãe, bailarina, e garante que o lado bom de viver no circo é poder viajar bastante e conhecer lugares diferentes. "O chato é ter de deixá-las." Estudar também não é nada fácil. "Por causa das viagens, tenho dificuldade para acompanhar matérias mais difíceis, como matemática e química."

Bastante experiente no palco, Matheus faz diversos números no trapézio. "Preferio me equilibrar na corda bamba, porque me apresento sozinho e todo mundo só olha para mim", diz, orgulhoso, o menino que ainda não sabe se quer seguir carreira no circo ou se dedicar a outra profissão.

Essa dúvida passa longe de Liriel Querubim da Silva, 5, que sonha em ser bailarina quando crescer. Por enquanto, ela dá cambalhota e vira estrelinha no palco. Também ajuda o mágico. "O coelho é bobinho e consigo tirar da cartola", diz.

Aulas gratuitas em Santo André e Diadema
Quem nunca quis sair da plateia e ir para o picadeiro? Nas escolas de circo é possível aprender malabares, trapézio, acrobacias e muito mais. A Prefeitura de Santo André oferece o curso em dez Cesas e a de Diadema mantém a Circo Escola, no Inamar. Jaqueline Vianna Lançone, 10 anos, faz aulas há três e diz que seu interesse aumentou depois que ela e a avó assistiram a um espetáculo. "Adorei ver os artistas na cama elástica e na perna de pau, por isso resolvi fazer o mesmo."

Plantar bananeira e dar cambalhota são as atividades preferidas de Giulia Domeneghetti, 8. Depois de conhecer de perto essas brincadeiras, o que ela quer é ver artistas que fazem tudo isso de verdade, já que nunca foi ao circo. Jonathan Santos Silva, 10, está aprendendo a andar de monociclo e precisa de muito equilíbrio para se movimentar em uma roda só.

Diferentemente de Santo André, onde o aluno aprende um pouco de tudo, em Diadema pode optar por uma atividade depois de ter tido noção de todas. Jéssica da Paixão, 11, adorou tanto a lira (círculo que fica preso por uma corda no teto) que está sempre pendurada no aparelho.

A interação é grande, o que facilita a comunicação com Gabriel Oliveira, 10, que é mudo e está sempre ao lado de Liriel Siqueira, 8, que o ajuda quando precisa ‘dizer' algo. Gabriel adora pular na cama elástica e fazer malabares.

A ordem é não ter preguiça. Os exercícios deixam todo mundo mais flexível e concentrado, até porque ninguém pode se distrair em cima de uma corda bamba. O legal é poder aprender e se divertir.

Guerreiros foram os primeiros artistas
Há quem diga que foram os guerreiros chineses que começaram a utilizar técnicas de acrobacias, contorcionismo e equilibrismo há mais de 5.000 anos. Eles faziam isso para ficar mais fortes, ágeis e flexíveis. Então, por volta de 108 a.C, um imperador da China resolveu transformar o treino dos guerreiros em apresentações para homenagear quem visitasse seu reino.

Já as tendas para os espetáculos surgiram na Roma Antiga (753 a.C), usadas para grandes lutas de gladiadores (guerreiros), corridas de cavalo e outras festividades. Esse local era chamado de arena; depois ganhou o nome de circus, que significa ‘lugar em que competições acontecem'.

Mas só ficou parecido com o que existe hoje depois que alguns grupos de artistas (chamados de mambembes) começaram a fazer apresentações nas ruas e praças das cidades. No Brasil, essa arte chegou no fim do século 19, trazida por europeus e era transmitida de uma geração à outra. Famílias inteiras se dedicavam ao circo. Tudo começou a mudar a partir de 1977, quando foi inaugurada a primeira escola de circo do País, em São Paulo. Chamava-se Piolim, em homenagem ao palhaço Piolim, que nasceu em 27 de março de 1897. Na data do seu aniversário é comemorado o Dia do Circo. Foi ele que inventou o nariz de palhaço.

Agora mistura teatro, música, ginástica e poesia
Malabares, palhaçadas, mágicas, números de equilíbrio. Todo mundo sabe que no circo tem tudo isso e muito mais. No entanto, nos últimos anos o picadeiro começou a ganhar influências de dança e teatro. Essa união é chamada de ‘novo circo' e reúne artistas do circo, atores e dançarinos. O Cirque du Soleil, que nasceu no Canadá, é o melhor exemplo desta nova mistura. Bem diferente dos circos tradicionais, que vão mudando sempre de cidade para apresentar o mesmo espetáculo, o du Soleil tem vários shows, que cumprem temporadas em grandes capitais. Seu forte são as acrobacias aéreas. No elenco, há artistas de várias nacionalidades, que nos espetáculos falam a língua cirquish, criada por eles.

Outra galera diferenciada é a Pia Fraus, que mistura teatro e circo, com histórias legais, muitas infantis. E o grupo Teatro Mágico é famoso por juntar música, circo, teatro e poesia. Seus integrantes usam maquiagem que lembra a do palhaço. No ‘novo circo' a maioria dos artistas é formada em escolas de circo e em academias de ginástica olímpica e acrobática.

Sem bicho!
Desde 2005, os circos de São Paulo e mais cinco Estados brasileiros estão proibidos de usar animais nos espetáculos. Os defensores dos bichos argumentam que eles são maltratados por domadores que os forçam a fazer truques. Além disso, são mantidos em gaiolas pequenas, sem espaço para se movimentar, e não recebem alimentação adequada. No site http://wspabrasil.org dá para saber mais sobre isso.




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