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Endividamento familiar, o novo drama
Carlos Boschetti
02/04/2015 | 07:00
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Nesta semana aconteceu fato curioso na empresa. Analista de novos negócios me procurou pedindo sessão de coaching para aconselhamento sobre problema pessoal. A política de desenvolvimento de competências e habilidades determinou que agendássemos prontamente encontro para entender e diagnosticar a situação. No dia marcado, reunimo-nos e pedi a ele que descrevesse a situação de forma simples e objetiva, sem nenhum receio de qualquer tipo de análise pessoal ou de julgamento, a não ser o fato em si. Apesar da forma amigável e descontraída da abordagem inicial, ele estava visivelmente preocupado. Após alguns minutos de conversa, foi relaxando e fomos ao centro da questão. O endividamento familiar. Em resumo, a renda familiar era incompatível com os gastos. A soma dos salários do pai e dele não era suficiente para arcar com todas as despesas e obrigações assumidas ao longo dos últimos anos. Então, com muito cuidado e respeito, ofereci a ele diagnóstico em conjunto para avaliarmos em detalhe a situação e as alternativas de solução. A sugestão foi logo aceita e marcamos novo encontro para que ele me apresentasse todos os documentos, tais como extrato de contas bancárias e cartões de créditos, carnês, compromissos de curto e longo prazo, contas de celular, telefone, luz, água, TV a cabo, gastos com diversão, baladas, educação, instrução, restaurante, veículos, combustível, alimentação, remédios, consulta médica, estética, viagens etc.

Com toda urgência, no dia seguinte nos reencontramos e pedi a ele que organizasse todas as despesas por categoria e resumisse por período de três meses a somatória por valor de forma decrescente. E, por incrível que pareça, os três principais gastos foram com juros de atrasos de pagamento das faturas dos cartões de crédito; pagamento de juros de cheque especial; multas e moras de atrasos de contas de longo prazo, como prestações da casa própria e de dois carros adquiridos nas faturas de crédito para aquisição de veículos em dez meses.

Esses encargos representavam mais de 35% de todas as despesas da família e, por mais que se esforçassem, ele não iria conseguir saldar as dívidas, pois, a cada dia, eles se afundavam mais por não terem controle sobre os juros e as multas dos principais débitos com os agentes financeiros. Analisamos detalhadamente todos os contratos com operadoras de cartões de crédito e contas bancárias e resolvemos atacar esses débitos de curtíssimo prazo. Cartões de crédito: os juros e as multas praticados pela operadora eram superiores a 355% ao ano, o que equivale a dizer que, em dívida de R$ 1.000, após 12 meses, você vai pagar mais de R$ 4.500. Cheque especial: mesmo bem menor, os juros ultrapassam os 214% ao ano, o que inviabiliza qualquer uso desses empréstimos a juros extorsivos.

Fizemos várias simulações e desenvolvemos os cenários mais viáveis para a característica da família. Decidimos apostar em renegociações com os dois principais vilões. Orientei-o a levantar as alternativas de quitação dos débitos à vista, por meio da captação de recursos necessários a custo compatível com a renda familiar. Uma semana após, encontramo-nos e a solução foi vender um carro e obter empréstimo na família à remuneração de mercado, com base no CDI e pagamento em 12 meses, além de redução drástica de despesas durante o período, para que todos pudessem dormir em paz.


Carlos Boschetti é CEO da empresa CBC More, prestadora de serviços na área de couseling, coaching e consultoria com foco em negócios. Formado em administração com pós-graduação pela FGV e formação em Business Model pela Harvard University, o ex-presidente da BCP Telecomunicações (atual Claro) é especialista em empreendedorismo. E-mail: crb@cbcmore.com.br 




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