Um provérbio popular diz que "para baixo todo Santo ajuda". Para as transportadoras que operam por rodovias nacionais isso significa apenas que logo depois da descida vai ter uma subida. E nessa hora é preciso ter muito mais força do que potência para conseguir obter uma média horária mais vantajosa e, se possível, melhor do que a concorrente. Como na geografia nacional, por qualquer rota de transporte que se faça, sempre existirá uma subida, esse valor no Brasil passa a ter ainda mais importância quando o assunto é transportar de caminhão. Foi com essa informação que subimos no novo caminhão Scania para uma avaliação dinâmica da nova linha de modelos equipados com motor de 9.0 litros que a marca está colocando no mercado nacional.

Como avaliar desempenho de caminhão em reta não significa nada, as subidas foram sempre os pontos de observação das "pegadas" do motor. Vamos para a pista primeiro com a versão de 270 cv ( a 1.900 rpm), empurrando um caminhão toco carregado com oito toneladas líquidas de carga. Em quarta marcha, propositalmente deixamos o motor cair a quase 800 giros (isso mesmo, oitocentas rotações por minuto) e bem no meio do aclive cravamos o pé no acelerador. O motor então inicia seu trabalho explorando seu ponto forte, o alto torque – 127,0 mkgf entre 1.100 e 1.400 rpm. Primeiro segurando o repuxo da carga que tende a obedecer à lei de Newton e voltar ao início da serra para, em seguida, aumentar a velocidade do veículo.

Várias e várias vezes, algumas errando a marcha, o Scania P 270 (o P indica o tipo de cabine – avançada de teto baixo –, o número a potência do motor), repetiu com sucesso todas as manobras. Saltando para o P 310 (310 cv a 1.900 rpm), mas agora na configuração de cavalo-mecânico rebocando uma plataforma de container com 15 toneladas líquidas de carga, o comportamento é o mesmo, embora aqui o torque salte para 158,0 mkgf (com plenitude entre 1.100 a 1.300 rpm). Aqui o repuxe da carga é maior, exatamente como é a "pegada" do motor que também tem a mesma disposição. Outro detalhe está na caixa de mudanças que neste caso tem nove velocidades (uma super reduzida), enquanto no P 270 são oito, mas ambas usam sistema de caixa baixa e alta com as trocas sendo efetuadas através de sistema de ar comprimido.

Avanços em emissões e ruídos - Outros aspectos importantes a serem destacados nessa nova linha de produto da Scania estão relacionados aos avanços no campo do controle de ruídos, das emissões de poluentes e da redução do consumo. Construído a partir das linhas de motores de 12 e 16 litros, dos quais utiliza uma série de componentes comuns (em torno de 40%), os nove litros da Scania têm cinco cilindros em linha com cabeçote de quatro válvulas, pistões em alumínio e é alimentado por turbo compressor com intercooler. Dotados com sistema eletrônico no controle de injeção de combustível e um exclusivo sistema adicional de silenciador, o DC9 atende às normas de ruído de 80dB que entrará em vigor no Brasil apenas em 2006.

Outro ponto importante e que dever ser destacado ao transportador interessado é que com todas essas atualizações, os motores da linha DC9 conseguiram apresentar na ponta do lápis uma redução de consumo de combustível da ordem de 3% em relação à família de motores anteriores. Esse valor pode parecer pouco se estivéssemos falando de um motor de ciclo Otto (gasolina/álcool), mas para um motor diesel representa uma enorme economia ao longo da sua vida útil, o que representa maior rentabilidade para a empresa operadora.

É importante destacar ainda o padrão de conforto oferecido ao motorista operador do Scania nove litros. A cabine, embora mais compacta, oferece conforto de carro de luxo que vai muito além da cama leito e da cortina que escurece por completo o ambiente. Em termos práticos, ou seja, aqueles em que o motorista passa horas e horas a fio conduzindo tanta responsabilidade sobre as costas, os caminhões da linha P oferecem banco com suspensão a ar com memória que se ajusta ao peso de cada pessoa e até ajuste lombar nas laterais. Fora isso tem os acessórios convencionais como vidro elétrico.

É com todo esse pacote, e custando em média 25% a mais do que seus concorrentes diretos, que a Scania pretende estancar a demanda dos seus clientes para outras marcas no momento de buscar um produto mais adequado ao tipo de carga e rota a ser operada. Com esse produto, a empresa espera atender a um mercado de aproximadamente 400 unidades/ano, dentro de um universo de 3.000 unidades ano. Esse número representa o número de clientes da Scania que estariam justamente migrando para outros marcas em busca de produtos específicos para alguns tipos de transporte.

Segundo Hans-Christer Holgersson, presidente da Scania para a América Latina, a intenção da montadora é oferecer um produto que venha atender plenamente às transportadoras que operam com a marca Scania e que estavam recorrendo a outros fornecedores. Sobre uma possível atitude da marca para rebater o crescimento da Volkswagen e Ford no segmento de pesados, Hans afirma que não considera essas empresas concorrentes da Scania. "Temos filosofia complemente diferentes. A Scania, por exemplo, não entrega a concepção de seus veículos a terceiros. Produzimos tudo e com isso oferecemos uma durabilidade que os demais não conseguem atingir". Para ele, enquanto um Scania está em plena atividade depois dos 15 anos de uso, os demais já viraram sucata.

Ficha Técnica
Modelo: Scania P 270 4x2 Rígido / P 310 4x2 Cavalo-mecânico
Motor: cinco cilindros em linha, 9,0 litros, cabeçotes independentes, 20 válvulas (quatro por cilindro), turbo e intercooler, diesel.
Potência: 270 cv a 1.900 rpm / 310 cv a 1.900 rpm
Torque: 127,0 mkgf (entre 1.100 e 1.400 rpm) / 158,0 mkgf (entre 1.100 e 1.300 rpm)
Câmbio: Caixa GR801 de oito velocidades / GR900 com nove velocidades, ambas com caixa alta e baixa e acionamento por ar comprimido.
Suspensão: Molas parabólicas com barra estabilizadora.
Freios: a tambor com acionamento por circuito de ar comprimido e sistema retarder, com ABS.
Entre-eixos (mm): 4.700 / 5.100 / 5.500
Tanque: 350 litros