Cultura & Lazer Titulo
Lou Reed é relançado em CD
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
17/03/2003 | 20:22
Compartilhar notícia


Era 1972, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band arredondava cinco anos de existência e era questão de dias até o primeiro aniversário de Who’s Next. Após consolidadas essas obras-primas de Beatles e The Who, respectivamente, o rock parecia fadado à desertificação ou à redundância. Foi então que, do lado irracional de Nova York, apareceu Lou Reed e seu Transformer para dilatar as pupilas dos fazedores de rock. Este não é um disco, mas “o” disco do ex-líder do Velvet Underground, relançado agora em CD pela BMG Brasil (R$ 22, em média) para festejar 30 anos de seu lançamento.

É relançamento, são de praxe então as remasterizações e os bônus – no caso, versões acústicas e demo das faixas Hangin’ ’Round e Perfect Day. Uma maquiada aqui e ali, que não altera a essência desse trabalho nem sua importância. Na escala darwiniana do rock, Transformer é etapa inconteste. Lou Reed e David Bowie, produtor do disco, espernearam à época: faltava um transformista (visual e musicalmente falando) nessa turma de cabeludos.

Saído da Factory – a casa de idéias e lisergias de Andy Warhol –, Lou Reed botou os travestis para falar com Walk on the Wild Side, curiosamente seu maior hit apesar do retrato barra-pesada da vereda transsexual e narcótica de Nova York. Em seu lirismo, depilou sobrancelhas e pernas de Holly, botou no lugar a cabeça de Candy Darling e até deu um alô ao ator Joe D’Alessandro, todos, travestis ou não, assíduos da Factory. Nova York também tinha sua boca do lixo.

“Viciada, você me bateu com uma flor”. Dessas palavras atribuídas a Warhol, o transformador Reed fez Vicious, a faixa inicial, outro hit, outro arranhão minimalista, em acordes que valorizavam uma era de reeducação material da cultura norte-americana. Havia um materialismo consciente, uma necessidade de arte reprodutiva nos anos 70, captados por Transformer.

O álbum é também a fundação do glam rock, do visual meio drag queen de seus autores e da melancolia, que Lou Reed provou exeqüível e com a qual influenciou toda a geração masoquista dos anos 80, de Joy Division a The Smiths, com Perfect Day e Sattelite of Love. Outras faixas, como Andy’s Chest e I’m So Free, tornam obrigatório este Transformer. Bem sabia Cazuza, o poeta, quando aconselhava a audição do álbum na sua rascante Só as Mães São Felizes.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;