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Da Billings à descida da serra em roteiro turístico
Cláudia Fernandes
Do Diário do Grande ABC
06/04/2002 | 16:36
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Sair de barco da usina elevatória de Pedreira, em Santo Amaro, na zona Sul da capital, navegar pela represa Billings até a barragem reguladora Rio das Pedras, em São Bernardo, pegar um microônibus até o topo da Serra do Mar, descer de trole até Cubatão e, lá, conhecer a usina hidrelétrica Henry Borden. Esse é o atraente trajeto turístico em teste pela Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) desde a Semana da Água, há 15 dias, e em fase de adaptação pelos técnicos da empresa e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente. Foi considerado um sucesso pelos funcionários que participaram do projeto-piloto e, com isso, a promessa é abrir o passeio ao público em agosto ou setembro.

   A Expedição Caminho das Águas, como foi batizada – inclui o roteiro das águas e o energético –, dura cerca de seis horas e faz parte do Pólo Ecoturístico Caminhos do Mar. Tanto o barco como o trole (vagão que desce a serra sobre tilhos seguro por um cabo de aço) comportam 20 pessoas, que serão acompanhadas por um guia da Emae. Pelo menos no início, não será cobrado ingresso e haverá apenas um passeio por dia. "Para que comece a funcionar, precisamos comprar um barco. Hoje, emprestamos um da Polícia Ambiental", disse a gerente do Departamento de Gestão Ambiental da Emae, Lúcia Regina Silveira.

   A verba para a compra do barco (R$ 120 mil), Lúcia garante que a Emae banca. Resta a licitação de compra. "Pelos meus cálculos, esse processo burocrático vai demorar de quatro a seis meses", estima Lúcia.

   De toda a expedição, o roteiro energético, em Cubatão, é o único posto em prática. Funcionários da empresa acompanham excursões às usinas externa e subterrânea, que hoje geram apenas cerca de 220 MW, 75% do seu potencial. Com a flotação do rio Pinheiros, a Emae espera poder aumentar a vazão de água da Billings para a usina, e aumentar, assim, a energia gerada.

   O passeio inclui a história da construção das duas usinas, ainda na época da inglesa Light, nos anos 30, e o funcionamento de ambas. O mais empolgante para o visitante é o que ainda não está em funcionamento: a navegação pela Billings e a descida da serra. Na represa, o turista vai conhecer a captação de água no reservatório do rio das Pedras. A água desce por oito tubulações sobre a encosta da serra e chega à Henry Borden. Já a descida de trole é um divertimento único. Do topo da serra a paisagem é um verdadeiro cartão-postal.

Uma usina que fica dentro da rocha

A parte subterrânea de Henry Borden desperta especial atenção do visitante. Primeiro, porque poucos sabem que ela tem uma usina subterrânea; segundo, porque a maioria dos que sabem não tem idéia do motivo de ela ter sido construída dentro de uma rocha. Com custos muito mais altos que uma usina externa, a obra engenhosa foi muito pensada pelos ingleses da Light.

   Em plena batalha entre o governo federal e os Estados emergentes em busca de autonomia – São Paulo, Minas Gerais e Paraná –, a usina externa da Henry Borden era alvo estratégico (fornecia energia para São Paulo inteira) do então governo provisório de Getúlio Vargas. Tanto era que, em julho de 1932, ele ordenou que dois aviões Savoia Marchetti sobrevoassem Cubatão e lançassem duas bombas sobre a usina. Uma acertou os bananais no terreno da empresa e a outra, parte da usina, mas que não chegou a comprometer o fornecimento de energia. Foi no mesmo mês que estourou a Revolução de 32. A partir daí, a Light resolveu construir a usina subterrânea para deixar de ser um alvo visível.

   Vieram engenheiros de cinco nacionalidades diferentes para ajudar na construção da usina que, na época, era fabulosa. Os operários mal conseguiam se comunicar com os engenheiros e faziam caricaturas dos trejeitos dos gringos. Foram dez anos de construção, e hoje toda a água que chega à usina vai para um túnel subterrâneo de 684 m de extensão. Ela tem uma entrada principal, um túnel encravado em uma rocha. Mas a preocupação com a invasão terrestre dos militares, que nunca aconteceu, era tão grande que os engenheiros pensaram em rotas de fuga. Verdadeiros esconderijos que lembram filmes de aventura de Steven Spielberg. Algumas das rotas hoje estão abandonadas, sem iluminação e cheias de poeira. Servem apenas para preservar a história.




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