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Pacientes aguardam anos na fila do SUS
Kelly Zucatelli
Do Diário do Grande ABC
04/07/2010 | 07:00
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Quatro anos. Esse é o tempo que o aposentado Riolando Guzzo Rodrigues, 64 anos, de Santo André, aguarda para operar o fêmur da perna esquerda. Assim como ele, 2.647 pacientes de Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema esperam na fila por uma cirurgia eletiva via SUS (Sistema Único de Saúde).

Enquanto não chega o momento, o ex-funcionário de empresa química da cidade sente-se definhando sobre as muletas e o andador que lhe permitem a locomoção, apesar de lenta.

Com espaço adaptado na sala para melhor acomodação, Rodrigues sente dores fortes e ainda sofre de úlcera. "Não resolvem um problema e aí vão aparecendo outros. Sinto-me desrespeitado. Já fui internado três vezes e sempre volto para casa com uma desculpa do hospital para não fazer a cirurgia. Isso desanima", desabafa o paciente.

Rodrigues é uma das pessoas que aguarda por cirurgia no Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André. Os cartões dos inúmeros acompanhamentos médicos que já teve estão velhos e quase rasgando. Reflexo claro do tempo de esquecimento de um cidadão que, como diz sua mulher - a aposentada Lúcia Calvitti Rodrigues, 64 -, "não tem mais qualidade de vida".

"Não temos condições de pagar a cirurgia, pois nossa renda é de apenas R$ 2.500 por mês", explica a mulher, com ar de revolta.

O aposentado tem nova consulta marcada para o dia 28 e espera que, dessa vez, agendem a cirurgia eletiva.
DEMAIS CIDADES - Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não informaram o número de pessoas que diariamente vivem a esperança de conseguir uma intervenção cirúrgica pelo SUS para solucionar seus problemas de saúde.

A Prefeitura de Ribeirão Pires alega que não é possível precisar o número de pacientes na fila porque o controle do número de encaminhados às cirurgias é feito pelos hospitais de referência.

A Secretaria Estadual de Saúde também não respondeu sobre as demandas existentes nos hospitais estaduais do Grande ABC.

PROJETOS - Para a secretária de Saúde de Diadema, Aparecida Linhares Pimenta, há a necessidade da implantação de dois projetos para suprir a demanda reprimida de pacientes nas filas das cirurgias eletivas. "Os municípios devem avaliar as condições que têm de hospitais e centros cirúrgicos para comportar os procedimentos, e o Estado fica responsável por fazer projetos de abrangência regional."

Os custos, na opinião da secretária, também precisam ser revistos. "A tabela para pagamento das cirurgias está defasada, sendo mais um motivo de dificuldade para os municípios. O governo federal precisa aumentar um pouco os valores da tabela para que sejam gerados mais recursos", explica Aparecida.

Sobre o tempo de espera, a comandante da Saúde na cidade admite que pode demorar anos. A estimativa é de que as 400 pessoas que estão na fila em Diadema sejam operadas em até três meses. A prioridade para atendimento dependerá da gravidade do problema. No ano passado, foram realizadas 1.717 cirurgias no município.

Para prefeituras, espera não passa de 1 ano

O tempo de espera mencionados pelas prefeituras para a realização das cirurgias eletivas está muito aquém da realidade dos pacientes. Oficialmente, as administrações municipais informam tempos estimados em fila muito inferiores aos indicados por quem vive esse drama.

Em São Bernardo, o tempo médio é de três meses a um ano e as filas são organizadas por ordem de chegada, com intermédio da Central de Regulação, que recebe as solicitações e as encaminha aos hospitais de referência.

Em São Caetano, não há demanda reprimida significativa para as cirurgias eletivas. O maior tempo de espera seria de aproximadamente três meses para as cirurgias plásticas. Para as outras especialidades, o aguardo não passaria de um mês e meio.

Através da Unidade de Avaliação e Controle, consegue-se avaliar o tamanho da fila e o tempo de espera para cada uma das especialidades. Caso haja necessidade, a administração opta pela realização de mutirões.

Santo André, que é a terceira cidade entre as citadas com maior demanda, tem um tempo médio de espera de 30 dias, segundo a Secretaria de Saúde. Os casos de câncer de mama têm prioridade e não apresentam filas.

PROJETO - No mês passado, o projeto de lei 7.148/2010, de autoria do deputado Edmar Moreira, aprovado na Câmara dos Deputados, frisa a necessidade de que a espera máxima para procedimentos médicos nas Unidades da Rede Pública de Saúde seja de no máximo 30 dias, incluindo a realização de exames e cirurgias eletivas.

O texto salienta ainda que, para as situações específicas, deve-se abrir algumas exceções, com encurtamento do prazo para a operação. Entre os procedimentos que lideram as demandas nos municípios estão as cirurgias de catarata, retinopatia diabética, hérnia, varizes e próstata.

 




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