Carlos Boschetti Titulo Análise
Papai, que alívio!
Carlos Bochetti
29/01/2015 | 07:25
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Eu nunca vivi uma situação de tamanha tensão e grande expectativa pela indefinição de minha vida, como a que vivo agora frente à proposta recebida pela empresa em que o trabalho e o processo de negociação com o sindicato e o Ministério do Trabalho. A falta de perspectiva de futuro alterou a dinâmica e a rotina de minha família após a informação de que eu seria demitido. Minha vida e a de minha família foram afetadas cruelmente. Todos os nossos sonhos foram brutalmente interrompidos por falta de uma fonte de renda recorrente que pudesse proporcionar a sustentabilidade de todos até a formação das crianças na faculdade e assegurar a dignidade de nossa velhice.

O processo de ansiedade e expectativa por alguma novidade no processo de negociação era frustrante e muito difícil de explicar para a família, já que tínhamos acordo firmado em 2012 que fixava as condições de aumento salarial por produtividade e reposição da inflação mais 2% de aumento real acima da inflação. Em contrapartida, a empresa daria manutenção dos postos de trabalho até 2016.

Todavia, com a recessão de 2014, a indústria automobilística sofreu um duro golpe nas vendas, aumentando os estoques nos pátios das montadoras e revendedores. Apesar de todos os estímulos ao mercado com descontos, da liberação de linha de crédito e da renúncia fiscal do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para os veículos, as vendas não cresceram nos volumes necessários.

Com a crise fiscal do governo, foi feito exatamente o contrário do prometido em campanha eleitoral: anunciou-se uma série de medidas que afetaram diretamente minha vida, como o aumento do IPI na tabela cheia para todos os veículos.

Após dez dias de intensas interações, análises e negociações, minha vida mudou mais uma vez com o acordo entre as partes, que resultou na suspensão da demissão de 800 funcionários. Consegui baixar a adrenalina e retornei para casa com finalmente uma boa notícia, apesar de que não definitiva.

Durante o trajeto, tive sentimentos antagônicos entre felicidade e angústia, pois sabia que a demissão seria adiada por, no máximo, um ano. Na verdade, as demissões seriam substituídas durante período determinado por um novo PDV (Programa de Demissão Voluntária) que tem o objetivo de atingir as 800 vagas entre 13 mil funcionários, portanto, mais que 6% da força de trabalho.

Quando cheguei em casa, o jantar já estava sobre a mesa. Contei a boa notícia e todos ficamos muito felizes e celebramos o grande o susto com muitas lágrimas de alegria. Contudo, minha filha, ansiosa, pois vai começar o cursinho, me perguntou como vai ser o ano de 2016. Ela está convicta de que vai estudar Medicina. Foi aí que minha esposa e eu ficamos sem nenhuma resposta e, mais uma vez, assustados, pois percebemos que não tínhamos nenhuma ideia de como isso iria rolar. Frente à falta de resposta, ela perguntou se não teríamos nenhum plano B de vida.

Apesar de todas as incertezas e da falta de respostas para todas as perguntas sobre o futuro, decidimos pedir ajuda para pessoas especialistas em planejamento familiar para diagnosticar a realidade atual e projetar os cenários futuros. Eu tinha certeza de mais um ano de trabalho e que teria de desenvolver um plano B para o futuro. Que alívio! 




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