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Aspecto cultural é obstáculo à informatização de MPEs
Frederico Rebello Nehme
Do Diário do Grande ABC
31/07/2004 | 19:30
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Ao contrário do que pode supor o senso comum, o grande obstáculo à informatização das MPEs (Micro e Pequenas Empresas) não é o investimento a ser realizado, e sim a mudança na cultura administrativa. Antes de pensar em digitalizar processos, o empresário precisa implementar uma organização eficiente da dinâmica interna da empresa e definir objetivos específicos de mercado.

Essa é a opinião do consultor de Sistemas de Informações do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), de São Paulo, Suemitsu Osada, que atende o Grande ABC e todo o Estado.

“Antes de realizar uma informatização eficiente, o micro e pequeno empresário precisam ter o domínio do negócio e dos processos. O computador não vem para mudar a gestão de uma empresa, e sim para melhorá-la. O empresário precisa de uma bússola para saber qual direção seguir, e como por meio da informatização chegar lá”, afirmou.

Com base nessa premissa, a informatização de uma empresa se torna mais uma etapa do desenvolvimento da gestão, e não apenas uma implementação de novos recursos que possam, de maneira “mágica”, melhorar a administração.

Aliás, o investimento de capital é uma das últimas etapas do caminho à informatização. Depois de “sanear” os processos administrativos, o empresário precisa definir suas necessidades, pesquisar os softwares disponíveis no mercado e então decidir que tipo de estrutura física precisará instalar (quantidade e capacidade de microcomputadores, implementação de redes, etc.).

“Quanto mais sofisticado for o planejamento, menores serão os custos e melhores os resultados. No entanto, muitos empresários ainda fazem investimentos errados, compram um micro potente demais para realizar tarefas mínimas”, alerta Osada, do Sebrae.

TI – Apesar de crescente, a utilização de TI (Tecnologia da Informação) pelas MPEs ainda está longe do ideal. Segundo o último levantamento do Sebrae, de agosto de 2003, apenas 47% das empresas possuíam um microcomputador, o que não significa necessariamente que tenham implementado sistemas de informatização.

“Apesar do pouco uso da informática, sentimos que os empresários querem investir em TI, mas não sabem de que maneira”, afirmou o consultor do Sebrae.

Para o diretor-executivo da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, a Câmara E-net, Cid Torquato, existe uma grande demanda de informações por parte dos micro e pequenos empresários sobre TI.

“A grande carência do empresário da micro e pequena é por informação. E ela não está disponível para todos. São raros os canais existentes. Os cadernos de informática tradicionais tratam da tecnologia em si e de novidades tecnológicas, e não abordam questões de interesse dos empresários”, afirmou.

Torquato confirma a premissa de que o investimento físico seria uma parte menos importante no processo de informatização das empresas. “O hardware é a parte mais simples dessa história. A idéia é quebrar a barreira do uso limitado dos computadores e sofisticar sua utilização, com planejamento e objetivos bem definidos.”

Carência – Para Mário da Silva Roquette, proprietário da Roquette&Roquette, empresa que produz telas, painéis e molduras para quadros em São Bernardo, os micro e pequenos empresários têm carência de softwares adaptados para a sua realidade.

“Existem muitos softwares criados para grandes empresas que são adaptados para as pequenas, mas eles estão muito distantes da nossa realidade, são pouco maleáveis. No mercado, não há muita coisa desenvolvida especialmente para o nosso setor”, afirmou.

O empresário acredita que é necessária uma atenção redobrada na escolha de softwares. “É preciso cuidado porque o empresário tem de analisar quais as informações que quer da sua empresa, e não aceitar características pré-determinadas. Ninguém entende do nosso negócio como nós.”

Solução Tupiniquim – Com um processo de informatização que já está completando um ano, Roquette, que trabalhou por 30 anos em multinacionais, estabeleceu uma parceria com uma desenvolvedora de softwares para criar um sistema para a empresa, uma “solução tupiniquim”, como chama.

Essa solução, a personalizada, pode sair mais cara para o empresário. Osada, do Sebrae, estima que softwares para MPEs feitos por encomenda custem acima de R$ 10 mil. Os programas disponíveis no mercado para gerenciamento de processos custam em média, entre R$ 300 e R$ 1,5 mil.




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