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Preço cai e homens correm atrás do Viagra genérico nas farmácias
Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
28/06/2010 | 07:00
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Uma corrida frenética para as farmácias no Grande ABC começou na semana passada. Não foi por causa de novos remédios que combatem a Gripe A ou quimioterápicos de última geração. A busca foi motivada pelas opções mais em conta dos medicamentos para disfunção erétil. Mas essa ansiedade, unida à venda indiscriminada, pode trazer vários riscos para a saúde dos novos usuários.

A quebra da patente do Viagra, a famosa pílula azul, produzido pela empresa americana Pfizer, no último dia 20, foi a responsável pelo aumento da procura. A EMS conseguiu distribuir o seu genérico no início da semana, após mobilização nacional do seu departamento de distribuição, e é possível encontrar até produtos manipulados pela metade do preço no Grande ABC. O próprio Viagra teve redução de 50% no valor.

O Diário percorreu farmácias e drogarias nas cidades de Diadema, São Bernardo e Santo André nos últimos dias e nenhuma exigiu a receita para a compra. Como é remédio controlado com tarja vermelha, os farmacêuticos são obrigados por lei a pedir a receita para os clientes. Todos os balconistas e farmacêuticos foram unânimes ao confirmar o aumento da comercialização do produto.

"A venda descontrolada pode trazer inúmeros problemas de saúde para pessoas cardíacas. É uma falta de responsabilidade de quem vende e também de quem toma, o risco é muito grande", explica José Luís Aziz, cardiologista e vice-presidente da regional ABCM da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.

A função do princípio ativo da droga, o Sildenafil, é ser vasodilatador potente. No Brasil, 50% das pessoas que sofrem algum problema no coração não sentem nenhum sintoma. Anualmente no País morrem cerca de 400 mil pessoas devido a ataques cardíacos. "Nesta situação que está o perigo, como os homens estavam acostumados a ter relações sexuais curtas e com pouco esforço físico, não corriam riscos, mas com o uso do remédio, que possibilita ter maior desempenho, as chances de infarto aumentam."

Segundo o cardiologista, os homens - principalmente na faixa etária entre 35 e 40 anos - que por algum motivo necessitam tomar o remédio para disfunção erétil precisam consultar um especialista, como cardiologista ou urologista, para fazer alguns testes clínicos. Algumas pessoas estão fora de risco, como os jovens e quem tem uma vida ativa com prática de atividades físicas. Mas a ingestão da droga traz série de efeitos colaterais, como o rubor (vermelhidão) facial, o entupimento das vias nasais (a pessoa passa a se sentir como se estivesse gripada), além de dor de cabeça após o uso.

Compra pode causar constrangimento
A tarefa de saber quais são as chances de comprar o remédio para disfunção erétil não foi simples para fazer esta reportagem. Mesmo sem receita, consegui em todos os lugares que entrei constatar que existe a possibilidade de adquirir o medicamento sem qualquer indicação médica.

Essa parte foi tranquila. Nenhum balconista ou farmacêutico me pediu o tal papel com assinatura e carimbo do médico. Na hora de pagar, desistia da aquisição e levava comigo apenas uma incômoda vergonha do tamanho do mundo e a face ruborizada (aliás, esse é um dos sintomas ao tomar o remédio).

Os profissionais das farmácias e drogarias não estão acostumados com o aumento da procura por esse tipo de medicamento. Foi o que deu para perceber. Senti isso na própria pele, já que muitos me olhavam de um jeito diferente e alguns disfarçavam um sorrisinho maroto. Outros cochichavam com os amigos de trabalho sobre a minha procura. Uma balconista recém-contratada ficou tão envergonhada com o meu pedido que a voz quase não saiu na hora que ela foi falar com um atendente mais experiente. "Ela é nova aqui, ainda não está acostumada com esse tipo de abordagem", comentou o funcionário de uma farmácia em São Bernardo.

O que senti ao olhar para trás na saída dos estabelecimentos com as mãos vazias, principalmente nas farmácias menores, foi que havia conversas e risos entre os funcionários.

Mas vale lembrar que 25 milhões de brasileiros sofrem de algum problema relacionado à disfunção erétil e o mercado farmacêutico calcula que apenas 1,4 milhão tomam algum medicamento para um melhor desempenho sexual.




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