O julgamento do líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), José Rainha Junior, continua na tarde desta segunda-feira, após uma pausa de 40 minutos para o almoço. Rainha negou ter participado do assassinato do fazendeiro José Machado Neto e do soldado da PM Sérgio Narciso Silva, em 1989, no início de seu segundo julgamento, que acontece em Vitória, Espírito Santo. Ao ser interrogado pelo juiz Ronaldo Gonçalves de Souza, Rainha disse que nao conhecia as vítimas e que nao sabe porquê está sendo interrogado. Rainha também disse que saiu de Espírito Santo em outubro de 1988 e nunca mais retornou à regiao.

O julgamento começou por volta das 9h20 desta segunda-feira, após uma hora e 20 minutos de atraso e deve durar dois dias. O julgamento ainda está na etapa de leitura das peças. A acusaçao já fez a leitura dos dez volumes, que contabilizaram mais de três mil páginas. Neste momento, a defesa está fazendo sua leitura. Esta etapa é tao cansativa que o advogado de acusaçao, Vinicius Bittencourt, foi para o escritório e deixou no Fórum apenas seu assistente. Quando a leitura das peças estiver acabando, ele retornará ao local do julgamento.

Desta vez, os advogados do líder do MST acreditam que Rainha deve ser absolvido da condenaçao. No primeiro julgamento, em agosto de 1997, Rainha foi condenado a 26 anos e seis meses de prisao. O segundo depoimento, que deveria acontecer em dezembro de 1999, foi cancelado.

Cerca de 2.500 pessoas estao em frente ao Fórum Muniz Freire em busca de informaçoes. Cinco mil assentados vindos de várias partes do Brasil estarao acompanhando este julgamento. Só do Pontal do Paranapanema, em Sao Paulo, uma caravana composta por 20 ônibus se dirigiu para Vitória. Do Espírito Santo estao previstos 40 ônibus, transportando assentados de todo o Estado.

Da noite de domingo até a manha desta segunda-feira, diversas entidades da sociedade civil e o MST fazem uma vigília de apoio ao líder dos Sem Terra na Praça da Catedral Metropolitana de Vitória, localizada nas proximidades da 1ª Vara Criminal do Fórum onde José Rainha Júnior será julgado.

Acusaçao - José Rainha Junior é acusado de de co-autoria pelas mortes do fazendeiro José Machado Neto e do soldado PM Sérgio Narciso Silva, durante conflito entre sem-terras e seguranças de Machado em sua fazenda, a Ypuera, em Conceiçao da Barra, no norte do Espírito Santo, em 5 de junho de 1989.

Nao há provas materiais, por isso, o julgamento do líder do MST será baseado apenas em depoimentos de testemunhas.

A defesa sustenta que o líder do MST estava em um acampamento dos sem-terra em Madalena, no sertao do Ceará, no dia do crime.

Três das cinco testemunhas arroladas no processo - os vereadores Narcílio Andrade (PMDB) e Atila Bezerra (PSC), de Fortaleza, e o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Quixeramobim, Antônio Ednilo - confirmam que estiveram com Rainha no dia 5 de junho.

A tese da acusaçao, porém, é contrária. Com base, principalmente, no depoimento do motorista José Jorge Guimaraes, o Zé do Coco, os advogados Marco Antônio Gomes, Jucilande Borges e a promotora Ivanilce da Cruz Romao afirmam que José Rainha nao só estava em Conceiçao da Barra como ajudou a organizar a resistência dos acampados contra os seguranças de Machado.

Em seu primeiro depoimento à Justiça, Zé do Coco afirmou que havia levado Rainha para a fazenda no dia do crime, mas o descreveu como um homem "gordo, sem barba e bigode", quando ele é magro e alto e usa barba e bigode. Em 1997, porém, o motorista prestou um novo depoimento, em cartório, no qual diz que mudou seu relato na época do crime, porque estaria sofrendo ameaças de morte do MST .