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Indios organizam protestos contra 500 anos de Brasil
Do Diário do Grande ABC
28/03/2000 | 21:15
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As comemoraçoes dos 500 Anos de Descoberta do Brasil vao esbarrar em um grupo de opositores que deve reunir cerca de 4 mil pessoas. Sao índios vindos de várias regioes do país que pretendem fazer manifestaçoes nas principais capitais e um grande ato de protesto a 20 quilômetros de Porto Seguro (no sul da Bahia), no dia 22, onde o presidente Fernando Henrique Cardoso estará reunido com várias autoridades brasileiras e estrangeiras. Oficialmente a chamada 'Marcha Indígena' conta com apoio de 150 organismos ligados à causa.

Os índios, que representam 200 etnias diferentes, querem que o aniversário da Descoberta de 500 Anos do Brasil seja marcado por uma série de reivindicaçoes por uma nova política indigenista no país. Eles reclamam das terras ainda nao-demarcadas, das dificuldades referentes às políticas públicas, especialmente para os setores de educaçao e de saúde, além da necessidade de acelerar a proposta de criaçao do Estatuto dos Indios - parada há oito anos no Congresso.

O presidente da Funai, Carlos Frederico Marés, informou que o órgao nao participa nem apóia o movimento. Mas em reunioes com líderes indígenas, ele comentou que pretende estar, no dia 22, no mesmo local onde deverao se reunir os índios. Nas conversas, Marés nao critica o ato e repete a seguinte frase, que pode ser interpretada como sendo favorável ao manifesto: "O relógio indígena nao tem relaçao com o relógio dos 500 anos".

Para os indígenas, a palavra 'descoberta' é substituída por 'invasao', assim como para alguns historiadores e antropólogos. A interpretaçao é que motivou a organizaçao do manifesto e dos atos de protesto que devem ocorrer em todo país, especialmente na data oficial de 22 de abril.

Nesta terça-feira à tarde saiu o primeiro grupo de índios, do município de Benjamim Constant (localizado a 1.200 km de Manaus), em direçao a Brasília e depois, Porto Seguro. A idéia é reunir todos os manifestantes na capital, no dia 13 de abril, quando representantes das caravanas pretendem manter encontros com o presidente Fernando Henrique e com integrantes da Comissao de Direitos Humanos da Câmara.

O movimento conta com apoio de integrantes de entidades de defesa dos negros e dos sem-terra, além de organizaçoes nao-governamentais européias e norte-americanas. Também estao contribuindo grupos religiosos ligados à Igreja Católica e grupos religiosos estrangeiros. Houve, ainda, apoio dos governos do Amapá e do Acre que emprestaram ônibus para o transporte.

A maior parte do percurso vai ser feita em viagens de barco e de ônibus. A pé, apenas as distâncias menores. Os organizadores disseram que os manifestantes vao acampar em barracas e dormir em alojamentos preparados por arquidioceses.

"A idéia principal dos povos indígenas nao é protestar e, sim registrar as dificuldades que vivem e mostrar que é necessário tomar providências urgentes", afirmou um dos coordenadores do movimento Paulo Maldos, do Centro Indigenista Missionário (CIMI).

Antes do ato principal, marcado para o dia 22, os índios se reúnem em Santa Cruz Cabrália, no sul da Bahia, durante quatro dias para discutir as principais preocupaçoes comuns aos povos indígenas na Conferência Indígena. No encontro, pretendem debater os problemas e sugerir propostas para melhorar a situaçao. Até o final da reuniao e do dia da festa dos 500 Anos, terao sido realizadas pelo menos oito grandes manifestaçoes por todo país.




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