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Sem poupar coração
Por Thiago Mariano
Diário do Grande ABC
21/04/2011 | 07:00
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Divulgação


Nana Caymmi, uma das vozes mais potentes - e certamente a mais sofisticada - da música popular brasileira, ganha hoje justa homenagem à sua história, com a estreia do documentário Nana Caymmi em Rio Sonata, com direção do franco-suíço Georges Gachot (o mesmo de Música é Perfume, sobre Maria Bethânia). O longa está sendo exibido apenas em salas da Capital.

Com o Rio de pano de fundo, visto de ângulos e em qualidades extremamente peculiares, a elegia é ao canto marcante de Nana e os seus caminhos musicais desde a década de 1960, quando estreou no meio, até hoje.

Entre momentos descontraídos, em casa ou nos estúdios, e o resgate de apresentações País afora, Gachot traça um paralelo sobre as influências do canto de Nana. Desde sua inclinação para a música clássica - ela conta que aprendeu a cantar aos 2 anos, quando entoou uma composição erudita e seus pais pensaram que ela era louca - até o momento em que a intérprete declara que não é cantora de movimentos, e que, apesar de estar próxima dos baianos Gal, Gil, Caetano e Bethânia (Nana foi casada com Gil), não se interessou pela Tropicália: "Se alguém sentar e me explicar o que é, talvez eu possa entender", depõe.

Paralelamente, um Rio cinzento é costurado à história. A neblina invadindo a mata, a chuva caindo solta pelos cartões-postais e o mar bravio da Cidade Maravilhosa, todos no mesmo contraste que a carioca de Grajaú Nana, com seu vozeirão que ultrapassa o samba e a bossa nova tão caracteristicamente cariocas.

Os instantes de descontração se mostram valiosos. Nana conserva fora dos palcos personalidade forte como sua voz - e fala palavrões a torto e à direita. Em determinado momento, jogando baralho com alguns amigos, ela conta que vira uma cafetina quando joga baralho e faz cara de destemida apostadora. Ao ouvir uma canção sua tocando no rádio, esquece as cartas e põe as mãos na cabeça. "Eu adoro me ouvir cantar", declara, para em seguida cantarolar junto.

Um depoimento que precede uma gravação evidencia a acuidade de Nana na seleção do seu repertório. "Eu tenho angústia de selecionar um projeto. No momento de ir no estúdio vai tudo muito bem, mas chega a hora do show e tudo pode mudar."

Em seguida, ao gravar Caju em Flor, de João Donato, Nana instaura uma perceptível tensão no estúdio, por temer fugir do tom exato que a canção exige.

Entre as canções executadas, estão clássicos como Medo de Amar (Vinicius de Moraes), Saveiros e Saudade de Amar (Dori Caymmi) e Não Se Esqueca de Mim (Erasmo e Roberto Carlos) e Estrada do Sol (Dolores Duran e Tom Jobim). Todas interpretadas em diferentes períodos e versões. Ao terminar de cantar Saudade de Amar, conta, com um suspiro: "Essa Letra quer dizer tudo. Não é que a gente queira um companheiro, mas o sentimento."

DEPOIMENTOS
Além de Donato e do irmão Dori Caymmi, Nana é contemplada por histórias de amigos como Maria Bethânia, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Erasmo Carlos, Mart'Nália e Tom Jobim.
"Nana tem seletividade, ela gosta das coisas muito elaboradas. Não precisa ficar cortejando músicas diferentes", conta Gil sobre a intérprete.
Ainda, há um brinde com imagens do pai de Nana, Dorival Caymmi, cantando É Doce Morrer no Mar, e o registro de seu último aniversário, quando ele, brincando com a sua fama de preguiçoso, conta que escapou por um dia de nascer no dia do trabalho, nascendo um dia antes, 30 de abril.




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