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A volta do papagaio
Sara Saar
Vinícius Castelli
29/08/2010 | 07:26
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Ele nunca deixou a guitarra Stratocaster encostada - de maneira alguma -, mas já não fazia shows como nas noites em que tocou para Raul Seixas e o lendário grupo O Terço. Longe dos palcos há 15 anos, o virtuoso instrumentista Sérgio Vicentini, apelidado de Papagaio, 57, ressurge no cenário musical com seu novo projeto, o Papablues.

O que teria motivado o recomeço do andreense que fundou os conjuntos Equipe Quatro + em 1970, e Paparock em 1983? "É o prazer da música", afirma o guitarrista, sem titubear. E logo completa: "Estou feliz, com ímpeto, não importa o lugar onde eu toque".

O Papablues aposta na fusão de estilos. "O som tem a energia do rock, o conhecimento do jazz e o sentimento do blues", sintetiza o músico, que compõe trio com o baixista João Carlos Nogueira e o baterista Marcelo Fortunato, também músico da banda andreense Montanha.

"João Carlos foi o primeiro baixista da Quatro + e me incentiva há três anos para voltar aos palcos", conta. E emenda: "Tive meia dúzia de ensaios com Marcelo. Ele tem muita facilidade. Na primeira tentativa, já sai a música".

O trio tem duas apresentações no Tupinikim Bar & Restaurante (Rua das Monções, 585, Santo André. Tel.: 4436-9231). Um show será na quarta-feira (dia 1º) e outro, no dia 15. Ingressos a R$ 6.

Entram no repertório canções autorais como Grito o Teu Nome e Mais Um Amanhã. "São músicas minhas e algumas parcerias. Algumas foram reformuladas do rock para o jazz. Ganharam riqueza", analisa. Também ganham espaço releituras de Jimi Hendrix, Jeff Beck e B.B. King, por exemplo.

A intenção do Papablues é registrar a fase em disco, mesmo que seja de forma independente. "Quero gravar para somente existir", aponta Papagaio, sem ainda definir data.

A sonoridade da atual geração não é bem encarada pelo músico. "O rock deu uma bregada. Ficou pobre no Brasil. Só fazem popzinho", diz.

A efervescência, para ele, marcou os anos 1980, tendo preparação em 1970. "Eram bandas da vida. Não faziam pose para ganhar dinheiro. Faziam o trabalho que achavam que era certo. Não tinha esse negócio de ser star", avalia. Na lista dos citados: Titãs, Ultrage a Rigor, Barão Vermelho.

Histórias com astros marcam a carreira

O retorno financeiro não foi motivo para o guitarrista Sérgio Vicentini, o Papagaio, voltar aos palcos. Consciente de que salário de músico é mesmo instável, abriu empresa de som e luz na década de 1970. Foi, inclusive, através dela que conheceu artistas como Baden Powell, Lulu Santos e Hermeto Pascoal.

Histórias junto ao Raulzito não faltam. A parceria começou em 1980 quando o então guitarrista de Raul não compareceu ao show. Papagaio, que preparava o som, foi chamado para tocar. "Na época, Raul ficava tão louco (em virtude da bebida) que poucos conseguiam continuar na banda com ele", relata.

Era comum o show acabar no meio e o grupo sair sem o cachê. Um dos episódios lembrados teve como palco a casa Adrenalina, em São Bernardo.

Espaço lotado. Nada do Maluco Beleza chegar. O guitarrista então liga para a mulher do ícone, que diz: "Some daí. O Raul acaba de ser internado".

Enquanto o público em coro gritava pelo ídolo, o DJ - segundo Papagaio - teria soltado ofensa direcionada ao Raul. O quebra-quebra foi tamanho que a casa fechou as portas pouco tempo depois.

No clube A Hebraica, em São Paulo, Raul encerraria noite embalada por Joelho de Porco e Casa das Máquinas. Mas chega em ambulância e é levado até o camarim de maca.

Até tomou injeção, mas o remédio não surtiu efeito. "No comecinho da primeira música, Aluga-se, ele caiu no público. E acabou o show", lembra. Restou ao empresário resgatá-lo.

A situação já tinha chegado ao limite para Papagaio, até receber uma ligação do próprio. Mas impôs condições, claro: "Você vai comigo de carro, não bebe nada até o show. Mas o Raul só ficou careta até o ensaio".

Com a ausência da equipe, teria bebido de duas a três garrafas de vodca. "Ele não cantava nada. O povo o chamava de impostor. Ele ainda tinha feito a barba de jeito diferente. Eu e o baixista Oswaldo que cantávamos no lugar dele", lembra.

O pior estava por vir. "A polícia chegou e jogou Raul lá em baixo, no público. Fomos parar na delegacia", lamenta.

Também merece registro a rápida história com O Terço, que ainda era composto por Sérgio Hinds (guitarra e voz), Ruriá (teclado), Zé Português (baixo) e Franklin (bateria). Em 1982, lançaram o disco O Som Mais Puro. "Tinha MPB com a harmonia do jazz e a energia do rock. As músicas eram perfeitas. Fizemos shows por todo o Brasil", conta Papagaio, que ficou por pouco tempo na banda.




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