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Montadoras ainda são carro-chefe da indústria da região

Mesmo com problemas em 2014, setor emprega
43,9 mil e é um dos que recolhem mais impostos

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
18/01/2015 | 07:18
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Celso Luiz/DGABC


Apesar de toda a crise vivida pelo setor automotivo, o Grande ABC preserva o título de berço da indústria automobilística e as montadoras ainda são o carro-chefe do segmento nas sete cidades. A semana terminou com boas notícias na região, já que, após greve de 11 dias em protesto à demissão de 800 metalúrgicos, a Volkswagen voltou atrás e decidiu cancelar as dispensas e, assim, manter seu quadro de cerca de 13 mil funcionários, embora vá abrir PDV (Programa de Demissão Voluntária).

Após amargarem ano difícil em 2014, com queda nas vendas de 7,1% em todo o País e recuo de 15,3% na produção, sem contar o tombo de 40,9% nas exportações, que se refletiu em cortes, não renovação de contratos temporários, férias coletivas, licenças remuneradas, lay-offs (suspensão temporária de contrato de trabalho) e abertura de PDVs ao longo dos 12 meses, as fabricantes de veículos, que reduziram suas equipes em 14.110 profissionais, sendo 3.150 (22,32%) na região, começam 2015 com expectativas positivas.

Mesmo com as baixas, as montadoras seguem como a força motriz da indústria e da economia regional. Não à toa, as gigantes Volkswagen, Mercedes-Benz, Ford, Scania (todas em São Bernardo) e General Motors (em São Caetano) mantêm suas sedes na região. A Toyota é a única das seis que não tem seu presidente por aqui, por enquanto. Ainda no primeiro semestre deve ser concluída a transferência dele e de cerca de 200 profissionais do administrativo da Capital para São Bernardo. Além disso, em 2016 é previsto início da produção do carro elétrico Prius na planta – hoje, há somente a produção de partes estampadas e usinadas para o Corolla e o Etios, fabricados em Indaiatuba e Sorocaba (Interior) e a montagem das suspensões traseira e dianteira da Hilux confeccionada na Argentina.

Juntas, elas preveem investimentos que somam quase R$ 13 bilhões até 2019. São cerca de R$ 5 bilhões por parte da Volks; R$ 3 bilhões da Mercedes; R$ 3 bilhões da GM; R$ 1,470 bilhão da Ford; R$ 300 milhões da Scania e R$ 60 milhões da Toyota.

Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, as fabricantes são as maiores recolhedoras de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) na cidade. “Em 2013 a Mercedes-Benz liderava o posto, mas em 2014, acredito que seja a Volkswagen”, afirmou.

Quanto à General Motors, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, garantiu que a montadora responde por 32% de toda a arrecadação do município. “Ela e a Petrobras, juntas, garantem 66% do pagamento dos impostos.”

Por dia, com base nas estimativas de produção de novembro, já que em dezembro todas estavam em férias coletivas, são fabricados 3.251 veículos no Grande ABC.

EMPREGOS - Em todo o País, as montadoras empregam 144.623 trabalhadores, segundo dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), sendo que 30,35% deles, ou 43,9 mil, estão na região, conforme informações de sindicatos dos metalúrgicos do ABC e de São Caetano. Esse montante representa 14,07% do total dos 312 mil profissionais que atuam na indústria nas sete cidades, de acordo com levantamento do Seade/Dieese.

Antes da crise econômica de 2009, Marques explica que havia uma relação de cinco empregos criados para cada vaga aberta em montadora. Hoje, porém, esse número caiu para dois a três. “Para os 32,9 mil profissionais empregados das fabricantes em São Bernardo, tem-se pelo menos 70 mil na cidade, em Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra”, contou. “A produção das autopeças caiu em torno de 50% nesse período, muito por conta da participação expressiva de peças e componentes importados, cuja entrada foi favorecida pelo dólar baixo (à exceção de 2014, quando a moeda norte-americana começou a subir e atingiu R$ 2,70, os demais anos foram marcados por câmbio em torno de R$ 2).”

Para fechar o total de profissionais atuantes em torno das fabricantes no setor, em São Caetano tem-se mais 3.000 e, em Santo André e Mauá, em torno de 20 mil. O total, portanto, é de cerca de 93 mil que, junto com os 43,9 mil das montadoras somam 136,9 mil profissionais, ou 43,8% do total de empregados da indústria regional.

PROJEÇÕES - Este ano traz expectativas melhores ao setor automotivo do que 2014. Para começar, não tem Copa do Mundo nem eleições, apontadas por muitos como culpadas pela baixa atividade econômica. E o câmbio está mais favorável às vendas externas e, ao mesmo tempo, limita mais a entrada de peças importadas, o que deve estimular maior consumo em território nacional. A própria Anfavea traça projeção de crescimento de 4% na produção, 1% nas exportações e estabilidade tanto no emprego quanto nas vendas.

Esse otimismo moderado se deve a algumas medidas do governo, como a regra, em vigor desde novembro, da retomada do bem, em caso de inadimplência, em três meses. Até o ano passado, o processo de recuperação levava em torno de um ano. O mercado espera que essa alteração provoque menor restrição na concessão de crédito para o financiamento de veículos. “Os bancos das montadoras, inclusive, têm de ser mais agressivos. Vamos nos articular com eles para que haja maior liberação de empréstimos”, avaliou Marques.

Outro ponto são as conversas dos sindicatos com a União para que seja instituído no País formato semelhante ao sistema de proteção de emprego existente na Alemanha, em que há a redução da jornada e dos salários, com a complementação do valor pago por meio de um fundo como o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). A medida auxiliaria a reduzir a produção em tempos de crise sem provocar demissões.

E o crédito do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) voltado a caminhões, o Finame, está novamente à disposição, porém, com juros maiores que no ano passado, de 9,5% ao ano e financiamento de 70% do bem. “Passado o primeiro semestre, que ainda será marcado por dificuldades, rescaldo de 2014, a atividade econômica deverá ser retomada”, analisou o sindicalista.

Salários no Grande ABC são maiores

A média salarial dos profissionais que atuam no chão de fábrica das montadoras na região é de R$ 4.334, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. “É mais que o dobro do rendimento pago aos trabalhadores da Fiat, em Betim (Minas Gerais), que recebem R$ 2.136”, afirma o presidente da entidade, Rafael Marques.

Até a média dos valores pagos aos profissionais da cadeia automotiva regional supera o salário da montadora mineira. Segundo o secretário-geral do Sindicado dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, Sivaldo Pereira, o Espirro, a média da renda é de R$ 2.300. “A mão de obra aqui é mais cara, mas também o custo de vida”, justificou. “Sem contar que historicamente o setor no Grande ABC é um exemplo para todo o País, é o berço da indústria automotiva.”

Exatamente por esse histórico, marcado por lutas intensas travadas entre os sindicatos e as fabricantes resultadas em greves, muitas com desfecho favorável aos trabalhadores, é que os salários na região são mais valorizados.

ÁREAS DE ATUAÇÃO - Inclusive, embora a maior parte dos trabalhadores das sete cidades hoje esteja alocada no ramo de serviços (675 mil, ou 53,2%), os salários são bem diferentes. Os 312 mil (24,6%) que atuam na indústria ganham em torno de R$ 2.428, segundo dados do Seade/Dieese. O montante é 31,45% maior que a média em serviços.


Pequenas autopeças sofrem mais

Conforme dados divulgados na semana passada pelo Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), a indústria do Grande ABC eliminou 20.550 postos de trabalho em 2014. “As grandes têm mecanismos para manter os empregos, como lay-off, mais de uma férias coletivas no ano e licença remunerada. As pequenas, não. Inclusive, enquanto a produção das montadoras está paralisada, reduzem drasticamente os pedidos para as autopeças”, afirmou o diretor do Ciesp de Santo André, Emanuel Teixeira.

Desde a crise econômica de 2009, o empresário vem notando queda drástica no volume de encomendas em toda a cadeia, o que não exclui sua companhia. “O pior cenário se deu de meados de 2013 para cá. À época eu tinha 28 funcionários; hoje, tenho menos da metade, 12”, relatou. “Só em 2014, minha carteira de clientes encolheu. Eu fabricava sete modelos de para-sol e, agora, tenho apenas três. Meus pedidos diminuíram 48%. A indústria automotiva não está nacionalizando novos modelos, que entram no País como CKD (veículos desmontados).” Para tentar dar a volta por cima, enquanto o cenário não dá sinais de retomada, Teixeira está tentando diversificar a produção confeccionando aramados para lojas, cabides e expositores.

O secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, Sivaldo Pereira, o Espirro, contextualizou que com o encerramento das linhas do Gol G4, da Kombi e do Uno Mille, que deixaram de ser fabricados em 2014, muitas autopeças, principalmente de Mauá, também reduziram pela metade seus contingentes. “A Quasar, por exemplo, tinha mais de 1.000 trabalhadores e, agora, possui menos de 500.”  




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