O perdao de 95% da dívida externa de Moçambique (US$ 447 milhoes) pelo Brasil, anunciada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, em sua estada em Maputo, foi, sobretudo, em conseqüência do ciclone "Eline" que, em março último, provocou uma grande destruiçao naquele país da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Portugal e Itália já anunciaram que também perdoarao parte das dívidas de Moçambique.

Mas, de acordo com funcionários do Itamarati, foi também um ato político destinado a fazer com que os países componentes do "Grupo dos Cinco" (formado pelos países mais ricos, mas que hoje inclui até o Brasil, como devedor e credor) cumpram a promessa formalizada desde o chamado "Menu de Nápoles" (1976), e ratificada no ano passado, de reduzir em pelo menos 90% as dívidas externas dos países muito pobres altamente endividados (highly indebted countries).

Entre os países que têm dívidas externas com o Brasil, estao a Polônia, o Haiti, a Nicarágua e El Salvador. O governo brasileiro já decidiu que vai perdoar parte substancial das dívidas de El Salvador e da Nicarágua, também atingidos recentemente por furacoes que abalaram ainda mais suas economias. O caso da Polônia está sendo negociado em separado.

A dívida de Moçambique com o Brasil era inicialmente de US$ 180 milhoes - contratada em 1978, no governo Ernesto Geisel, chegou ao total de US$ 450 milhoes porque os moçambicanos "nunca pagaram", explicou nesta terça o ministro das Relaçoes Exteriores, Luiz Felipe Lampreia. O crescimento do débito, segundo o chanceler, se deu por causa do impacto dos juros.