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Jolie: maior teste de 'Invencível' foi com meus filhos
22/12/2014 | 10:30
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a seguir, leia os principais trechos da entrevista com a atriz Angelina Jolie sobre seu novo filme, Invencível, que conta a história de força e superação do atleta olímpico norte-americano Louis Zamperini (1917-2014) e deve estrear no Brasil em 15/1.

Seus dois filmes como diretora têm essa coisa de perseverança, de continuar apesar dos obstáculos. Por que esse tema a atrai?

A guerra e as crises humanitárias trazem à tona o melhor e o pior nas pessoas. Queria fazer este filme porque, quando leio os jornais pela manhã, há pouca coisa que dê esperança. Estive em vários desses locais de conflito, mas, quando li a história de Louie, senti-me esperançosa na força do espírito individual e vi que a habilidade de seguir adiante, como povo, unido, é possível. O bonito de Louie é que ele é uma pessoa normal, com muitas imperfeições. Então ele nos permite ver que todos temos potencial para a grandeza, todos temos potencial para superarmos qualquer adversidade. Queria que meus meninos vissem o filme. O desejo é que os jovens possam ver, ter contato com um assunto sério num período histórico complicado e sejam alimentados por essa história.

Não é exatamente um filme que se esperaria de uma mulher. O que acha que trouxe para Invencível, como uma diretora e como mulher?

Como diretora, eu amo filmes clássicos: Sidney Lumet, David Lean, não que eu esteja me comparando a eles! (risos) Queria que o filme fosse limpo, que se entenda tudo o que está acontecendo. Não era meu desejo aborrecer a plateia, nem confundi-la. Minha vontade era que o espectador se juntasse a nós no bote salva-vidas, no campo de prisioneiros. Foi algo que eu e o diretor de fotografia Roger Deakins sempre procuramos. Como mulher, são as emoções. A luta humana emocional era importante. Esses jovens atores deram tanto! E é um lado dos homens jovens que não vemos normalmente na tela. Pudemos confiar uns nos outros e conversar sobre família, a vida, a dor, a morte. Tem as partes de aventura, como o ataque de tubarões, mas também alma. Só que não acho que seja uma alma feminina. É mais sobre os homens.

Acredita em sensibilidade feminina e masculina?

Sim! Se você vê certos filmes, quando a batalha acontece, a adrenalina começa a subir, por causa da masculinidade. Acho importante ter isso, mas não ficar distraído só com isso - claro que o propósito de alguns filmes é só adrenalina mesmo. Invencível tem um centro espiritual. Então não dava para nos distrairmos demais com a batalha. De qualquer maneira, acredito que houve um equilíbrio, porque é uma mulher dirigindo, mas o elenco todo é masculino, é a emoção dos homens, suas lágrimas, suas memórias, sua dor. E porque escalamos homens másculos, não havia chance de se tornarem personagens com os quais apenas as mulheres se conectassem. Havia muita testosterona, com uma alma feminina.

Rodando um filme tão intenso, houve tempo para alguma história divertida?

Adoramos rodar na Austrália. Mas Jack (O?Connell, que vive Louis Zamperini) odeia aranhas. Ele fez uma aranhaterapia. Começou com as pequenas até chegar à maior e se acostumou com elas. Só que chegou a hora da cena, a aranha desapareceu dentro da cela (risos). Mas disse para ele: se aparecer uma aranha ou cobra, não fui eu que pus, não sou uma diretora louca! Saia correndo!

Conheceu Louis Zamperini?

Sim, claro! Passamos muito tempo juntos. Éramos vizinhos, sem que eu soubesse. Quando eu li o livro, decidi que tinha de conhecê-lo, que ia brigar para ser diretora do filme. E me disseram que ele sabia onde eu morava, porque conseguia ver a minha casa da dele (risos). Fazia 57 anos que ele estava esperando pelo filme sobre a sua vida. Depois de conseguir o trabalho, eu precisava ter a aprovação, o que não foi fácil, porque não tinha um astro no elenco nem nada, era uma diretora quase iniciante, havia essas cenas de ação gigantescas que precisavam ser feitas num orçamento médio. Falei para Louie que, quando conseguisse a aprovação, ia hastear a bandeira americana. Quando ela saiu, corri para o telhado, gritei para o Brad (Pitt) pegar a bandeira e a hasteamos! Eu e Louie ficamos muito amigos, ele foi como um pai e como um avô para mim. Eu o amava demais (começa a chorar).

Sinto muito...

Não, tudo bem. É duro. Pelo menos consegui mostrar uma versão inacabada do filme para ele no hospital. Eu segurei meu laptop sobre a sua cama, conversamos. Foi lindo. Eu fico feliz que ele tenha visto um pedaço. E ninguém teve uma vida mais completa. Então fico contente.

Então teve de lutar para conseguir dirigir o filme?

Sim! Tive de brigar por alguns meses. Donna Langley, da Universal, pode explicar como eu fiz meus ridículos painéis e tabelas. Precisei ir lá defender meu ponto de vista várias vezes. Porque não era apenas uma questão de vender que eu era uma boa diretora, mas também apontar problemas no roteiro. E aí apresentar soluções e defendê-las. Então, eu saía com esses sacos de lixo, porque meus quadros não cabiam em nada! Eram quadros de cores, quadros da linha do tempo, quadros em que alternava a parte da guerra, do atletismo, etc. Demorou uns dias para receber o telefonema de aprovação. Eu quase enlouqueci. Aí, demorei meses para ajustar o roteiro e ver o que dava para fazer e o que não dava - por exemplo, se era possível incluir a batalha em que o avião ficou com centenas de buracos de balas e também a queda no oceano? Foi uma luta!

Chamou alguém em que confia para dar opinião?

Mostrei para amigos e família. Meu maior teste foi com meus filhos. Eles não foram ao banheiro, não ficaram dançando nas cadeiras. No fim, me perguntaram sobre fé, sobre a guerra, sobre o funcionamento do avião (risos). Foi ótimo, não sabia como os meninos iam reagir. E meus filhos já me disseram várias vezes que não gostaram de coisas que eu fiz, então foi bom! (risos)

Algo dentro de você muda quando está dirigindo?

Com certeza, é muito diferente dirigir de atuar. Eu prefiro dirigir. Amo dirigir. Porque você consegue participar de cada passo. E dá para proteger tudo no final. É uma grande responsabilidade, mas também uma grande satisfação poder proteger algo que se ama.




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