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Menina esquecida em carro é enterrada em São Bernardo

Marina Valle Machado, 2 anos, deveria ter sido levada à escola pelo pai; caso foi registrado como homicídio culposo, sem intenção de matar

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
19/12/2014 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


O enterro da pequena Marina Valle Machado, 2 anos, que morreu após ser esquecida no carro pelo pai, Rodrigo Machado, aconteceu ontem no Cemitério Jardim da Colina, no Jardim Petroni, em São Bernardo. Familiares e amigos acompanharam o cortejo fúnebre bastante emocionados. A tragédia aconteceu na tarde de quarta-feira.

O corpo da menina foi liberado do IML (Instituto Médico-Legal) do município por volta das 10h. O velório foi realizado no Colina a partir das 11h, e o cortejo fúnebre foi iniciado às 12h40.

A família não quis conversar com a equipe do Diário. Uma amiga do casal, que preferiu não se identificar, afirmou que eles estavam profundamente abalados e que preferiam permanecer em silêncio.

O boletim de ocorrência, registrado no 2º DP (Rudge Ramos) ficou pronto na madrugada de ontem, às 4h11. Conforme o documento, o pai relatou que deixou o Honda Fit no estacionamento da Secretaria de Finanças, por volta das 14h, e cumpriu o horário até às 17h50, quando retornou para o veículo.

Ele também afirmou que a menina estava dormindo na cadeirinha, no banco traseiro.

O caso foi registrado como homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Foi estipulada fiança de R$ 725 para Machado, que foi liberado após o pagamento para responder ao processo em liberdade.

O prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), manifestou o seu pesar sobre o caso durante reunião no Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, realizada ontem. “Eu, inclusive, pretendo ligar para o pai e a mãe para me solidarizar. É uma tragédia.”

Ele classificou o ocorrido como uma fatalidade. “Não dá para crucificar o pai. A própria dor já é excessiva. Não podemos criminalizá-lo. Não dá para saber o estado emocional do cidadão, qual tipo de pressão ele está submetido na relação familiar. Ele era nosso funcionário e, pelas informações que chegaram, me parece que é bom profissional. Só posso lamentar.”

Na tarde de ontem, a equipe do Diário procurou a direção da escola de Educação Infantil Integração, onde Marina estudava, porém uma funcionária disse que a instituição não tinha mais nada a falar. Questionada sobre as aulas, ela informou que ontem o local funcionava normalmente.

TRAGÉDIA

Na quarta-feira, por volta do meio-dia, Machado foi almoçar na casa da mãe, onde buscou a filha única. Ela deveria ter sido deixada na escola, na Rua Vinte e Três de Maio, cerca de 500 metros da Avenida Kennedy, onde está localizada a Secretaria de Finanças.

Porém, o pai esqueceu a menina no carro e foi trabalhar. No fim da tarde, a mãe ligou para lembrá-lo de que ele deveria pegar a filha na escola. Ele se dirigiu até o local e, ao chegar, foi informado por uma funcionária de que não havia deixado a criança, que foi encontrada morta no carro.

Caso foi uma fatalidade, afirma especialista

A tragédia do pai que esqueceu a criança no carro, causando assim a morte de sua filha única, chocou a região. Mas, conforme a psicóloga da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Maria Regina Domingues de Azevedo, o fato poderia ter acontecido com qualquer um.

“Provavelmente, um outro pensamento veio e tomou conta da mente dele, e isso pode acontecer com qualquer pessoa. Muitas vezes você sai de casa determinado a fazer algo, aí, lembra de outra coisa, faz outro caminho e deixa de fazer aquilo a que se propôs inicialmente”, afirmou.

Maria Regina afirmou que nada poderia ter sido feito pelo pai conscientemente para que o fato pudesse ser evitado. “O nosso poder de mudar o rumo daquilo que a gente está pensando é muito complexo. Não temos controle remoto na mão. Ele não esqueceu a criança, ele mudou o foco e aconteceu essa fatalidade.”

O pai ficou muito abalado após o ocorrido e precisou ser medicado no hospital. A mãe, que também foi até o local onde o caso aconteceu, foi levada ao hospital.

A psicóloga afirmou que o tratamento para que ambos voltem a ter uma vida normal é trabalhoso. “Só a medicação não basta, o remédio ajuda num determinado momento, mas questões precisam ser elaboradas, pensadas, digeridas para que ele possa lidar melhor com isso. Isso ele só consegue com muitos anos de terapia e o apoio da família, o que é necessário. Mas ele não vai esquecer disso nunca, apenas aprender a lidar.”  




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