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No Centro, voluntária coleciona sonhos e dramas

Dina Fernandes Chagas relata histórias em cartas por meio de programa oferecido no Poupatempo de São Bernardo

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
22/11/2014 | 07:00
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“Quando o carteiro chegou e o meu nome gritou, com uma carta na mão. Ante surpresa tão rude, nem sei como pude chegar ao portão...”. Essa sensação de expectativa, exposta no samba-canção composto por Aldo Cabral e Cícero Nunes em 1946, praticamente não existe mais. Hoje, na era da internet e mensagens instantâneas pelo celular, as correspondências que chegam são, a maioria, contas a pagar.

Mas há quem trabalhe para que o romantismo não se perca em meio à modernidade. Das mãos de Dina Fernandes Chagas, boas notícias – e outras nem tanto – saem do Poupatempo de São Bernardo, no Centro, para centenas de lares Brasil afora. A mulher (que apesar de bonita e elegante, não quis revelar a idade) é voluntária do Programa Escreve Cartas, oferecido no equipamento desde 2009. A ação foi inspirada na personagem Dora, interpretado pela atriz Fernanda Montenegro no filme Central do Brasil, de 1998. Na trama, ela ganha a vida redigindo cartas para analfabetos na estação ferroviária que dá nome ao longa.

Já Dina, que é advogada, faz o trabalho pura e simplesmente por prazer. “Tinha me aposentado como funcionária pública e achava que precisava fazer algo pelo próximo. Em 2008, vi uma chamada no jornal dizendo que o programa precisava de voluntários. Como eu adoro escrever, era isso”, conta ela, que ingressou no projeto em março de 2009.

Os cinco anos de voluntariado lhe renderam coleções de sonhos e dramas, que transcreve para o papel. “São mais relatos tristes. Tem gente que vem pedir cadeira de roda, que escreve para o filho que está preso, que precisa de tratamentos caros para alguma doença. No começo doía muito, voltava para casa arrasada, mas depois a gente vai se fortalecendo.”

Felizmente, nem só de tristes notícias são compostas as cartas. “Outro dia um homem estava aqui, viu o programa e pediu uma carta para a esposa, agradecendo por ter se casado com ela, pela família que construíram. Achei muito legal, pois é raro, né?”, fala ela, acrescentando que faz também currículos (com três cópias para o requerente), além de prestar auxílio no preenchimento de formulários.

Nem todas as pessoas que procuram a ajuda de Dina são analfabetas. Pedro Gonçalves Moreira, 70 anos, mora na Vila Nogueira, em Diadema, e não está conseguindo escrever por conta de um dedo machucado. Ao carregar blocos em depósito de material de construção, ele fraturou o médio e, mesmo tendo feito cirurgia, ainda não consegue dobrá-lo. Por essa razão, procurou Dina para escrever uma carta ao apresentador Ratinho, do SBT, e outra endereçada ao secretário de Saúde de sua cidade, José Augusto da Silva Ramos, clamando por um tratamento odontológico. “Pedi para me ajudarem a colocar dentes, porque não dá para eu comer, só (ingerir) líquido”. Com o relato registrado e o envelope selado em mãos, seguiu até a caixa dos Correios, no próprio Poupatempo, onde depositou sua esperança.

Para os que acham que as cartas já viraram peças de museu, a escrivã faz um chamamento. “Voltem a escrever, porque é gratificante para quem recebe, tem a surpresa, a ansiedade pela chegada do carteiro, é mais emoção.”

Academia tem dança com salto alto

Sapatos de salto alto exalam elegância e sensualidade, mas isso não se limita só ao caminhar. No Studio Santa Dança, na Rua Marechal Deodoro, 2.364, o professor Vinicius Lagares, 24 anos, ensina a modalidade denominada Stiletto. “Ela foi criada nos Estados Unidos, na década de 1980, por causa de clipes de cantoras famosas, além de musicais, que precisavam de gente dançando no salto alto. Nos anos 2000, com a cantora Beyoncé, o Stiletto estourou”, explica.

Lagares conta que sempre foi do mundo da arte, mas até receber a proposta de uma amiga, a ideia de dançar com sapato de salto era remota. “Ingressei na área com 14 anos. Fiz jazz, sapateado, balé clássico e contemporâneo. Em 2011, montei uma companhia de dança. Uma amiga, que era estilista, viu um vídeo de um grupo ucraniano com quatro homens, que fizeram a abertura de um desfile no salto e falou: ‘Vai, Vinicius, dança.’ Peguei quatro bailarinos da minha companhia e contei a ideia. Desde então, não parei mais”, recorda ele.

No Studio, o professor dá aulas de terça-feira a sábado. Os alunos são cinco homens e aproximadamente 60 mulheres. Para iniciantes, Lagares recomenda um salto de dez centímetros. Ele, porém, começou com um de 15 centímetros.

O rapaz lista os pontos trabalhados pela dança. “São movimentos sensuais, porque é uma dança sensual, além do ‘carão’, a postura, exercícios para andar em cima do salto e coreografia”, fala, apresentando os ganhos. “Emagrece, deixa os músculos da perna mais torneados, aumenta a resistência física e a disposição.”

Para o preconceito existente contra os homens que praticam a dança, Lagares deixa seu recado. “O mundo de hoje está aberto a tudo. A gente não deixa de ser homem. O Stiletto é muito legal, muito gostoso, trabalha a mente, deixa a pessoa muito mais sensual e faz perder a timidez.”

Espaço incentiva a troca de livros

Ao terminar de ler um livro, muitas vezes ele acaba esquecido em algum canto da casa ou, junto a outros, só ocupa espaço. Pois na Avenida Francisco Prestes Maia, 624, esses exemplares podem ser trocados por outros ainda não lidos e que agregarão ainda mais cultura e conhecimento ao leitor.

O Espaço Troca Livros reúne quase 40 mil títulos. São obras nacionais, estrangeiras, didáticas, escritas em outros idiomas, além de discos de vinil, CDs, DVDs (ambos somente originais), gibis e revistas.

Tudo é material de doação e o estado de conservação do que é recebido impressiona. Lá, o leitor encontra de clássicos da literatura aos lançamentos mais recentes, como a trilogia de grande sucesso entre o público feminino Cinquenta Tons de Cinza, da autora E. L. James, que nas livrarias pode chegar a R$ 60.

Para fazer a troca, não é preciso cadastro nem ser morador de São Bernardo. O único critério é trocar por outro título do mesmo gênero, por exemplo, um romance por outro com a mesma temática. “No Brasil, o livro ainda é caro e a gente possibilita esse acesso gratuitamente, basta trazer o exemplar”, fala a agente de biblioteca Arlete Ciosani, 50 anos, O limite para troca é de seis itens por pessoa.

Com a grande quantidade de livros que chegam a cada dia, por meio de doações, parte é encaminhada para projetos sociais e o restante fica disponível na entrada do espaço, para ser doado, sem precisar de troca.

No local, ainda é possível ler jornais diários e revistas e utilizar a internet em um dos dois computadores. “O uso é gratuito. O período é de meia hora, sendo renovável caso a pessoa precise de mais”, explica Arlete.

O Espaço Troca Livros funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, e aos sábados das 8h às 14h. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 4122-5983.  




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