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Mundo de dentro
Thiago Mariano
Enviado à Chapada Diamantina
02/06/2011 | 07:00
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Tatiana Azeviche/Setur/Divulgação


As fraturas da Chapada não estão visíveis apenas nas serras e morros que cobrem o território. Por dentro das pedras, também, ela é cheia de espaços vagos, nos quais os trabalhos da água, do vento e do tempo ficaram encarregados de esculpir paisagens que tornam o subterrâneo tão rico quanto avesso.

As grutas são formadas na região mais agreste da Chapada, onde a pedra predominante é o calcário - na serra, parte das terras é de composição arenosa. Nessas áreas, as cavernas são que nem cachoeiras: tantas que nem dá para contar.

A Lapa Doce, em Iraquara, tem 28 quilômetros. Pouco menos de um quilômetro é aberto à visitação. Espeleotemas, entre eles estalagmites e estalactites - formações rochosas sedimentares que se originam, respectivamente, do chão da gruta até o teto e vice-versa -, estão por todas as partes e formam imagens diversas. No caso da Lapa Doce, é possível ver um anjo, uma coruja, brincar de sombras que formam a imagem de um monstro ou um leão.

A área toda é demarcada. Cada centímetro de espeleotema demora décadas para se formar. Não é permitido tocar nas pedras.

Dois guias com dois lampiões é que levam grupos de até 12 pessoas por vez. Com a parca iluminação, fica difícil saber a magnitude da caverna. A altura do chão ao teto por vezes chega a 30 metros. A hora em que eles apagam as luzes e pedem silêncio é o momento em que se descobre como a caverna é grande. O silêncio e o escuro chegam a níveis nunca experimentados em ‘terra firme'.

Outras grutas famosas da Chapada são a do Brejões, em Morro do Chapéu, da Mangabeira, em Ituaçu e Torrinha, Fumacinha e Bolo de Noiva, em Iraquara.

 

PRATINHA

Descer da sede da fazenda até as águas da Pratinha é um dos mais belos campos de visão da Chapada. As piscinas naturais parecem um remanso. Em um ponto cercado de pedras, com água azul, e em outro, circundado por matas, com água verde, todos podem fazer flutuação.

Dentro da caverna, com lanternas, pés de pato, colete salva-vidas e máscara de mergulho, faz-se um passeio curto, observando as formações rochosas por dentro da água. Pequenos peixes são avistados na entrada da gruta. O passeio de ida só revela pedras - e um ninho com dezenas de morcegos.

Na volta, a surpresa. Onde acaba a pedra e começa a mata, a coloração da água muda, os pequenos peixes ficam maiores e algumas plantas dão vida à piscina. É como se descortinassem um mundo de natureza morta para mostrar um ambiente selvagem, com cenários e cores dignos do Caribe.

É possível fazer espeleo-mergulho no local, mas é exigido ter graduação divemaster - primeiro nível de profissionalização. O mergulho em cavernas é considerado a atividade mais perigosa da modalidade.

 

Flutuar entre o espaço e a terra

 

Guardião do Poço Encantado, no município de Itaetê, Miguel Jesus Mota tem autorização para nadar no local quatro vezes por ano, apenas para retirar a camada de calcário que desprende das rochas e forma uma película branca na superfície da água. Ele descreve a atividade como voar entre o espaço e a terra.

O poço encanta pelo feixe de luz solar que incide diretamente na água entre os meses de abril e agosto. Os sais presentes na rocha e o efeito da luz do sol garantem o tom especialmente azul da água.

Junho e julho são os melhores meses de visitação, das 10h às 12h.

Não é permitido nadar lá, pois a água do local demora para se renovar e o óleo natural do corpo, além dos produtos químicos que usamos, destrói o ambiente. /CW

O Poço Encantado fechou em novembro de 2007, tudo por causa de uma escada de concreto que Miguel construiu na entrada da gruta para facilitar o acesso. Como não tinha autorização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), proibiram a entrada. Ele foi reaberto em março.

A profundidade máxima do Encantado chega a 60 metros, que são perfeitamente visíveis do lado de fora das águas. No centro, dá até para avistar dois troncos de árvores que caíram lá dentro. No canto esquerdo, o teto da gruta refletido causa uma ilusão de ótica curiosa. De repente, não se sabe o que é o fundo e o que é o reflexo.

 

CAVERNAS CRISTALINAS

Com 40 metros disponíveis para flutuação, o Poço Azul, em Nova Redenção, é a sensação de Miguel democratizada. A gruta é aberta para banho porque as águas mudam a cada quatro horas e meia.

Uma rocha gigantesca que parece flutuar no centro do poço, como se fosse uma ilha sem chão, metade para fora da água e o resto para dentro, é o ponto onde o sol bate.

Sem ilusão de ótica, dá pra ver um mundo de pedra erguido acima e abaixo da água. O único animal que habita as águas do poços é o bagre albino, que é cego, se guia por antenas e se alimenta dos materiais orgânicos depositados na água, como fezes de morcego e insetos.

Com máscara de mergulho dá para ver até o fundo, e observar, nas pedras, os diferentes contornos que elas têm. Em um ângulo se vê uma face, no outro, o mapa do Brasil etc.

No total, o Poço Azul tem 700 metros de extensão. Foi lá que recentemente encontraram os fósseis de uma preguiça gigante. Além do animal, também acharam lá restos de mamute, tigre-dentes-de-sabre e dois clãs de seres humanos. Mais de 40 espécies pré-históricas foram encontradas ali. Hoje, é o maior sítio paleontológico submerso do Brasil. Suas águas vêm de lençol freático, que depois viram afluente do Rio Paraguaçú.

 

 




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