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Falta segurança nos hospitais da região
Wilian Novaes
Do Diário do Grande ABC
16/05/2010 | 07:55
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A segurança dos hospitais públicos do Grande ABC se mostrou falha em um terço dos locais, durante visitas realizadas pelo Diário na última semana. O fato ocorre mesmo após o País ficar chocado com o rapto de um recém-nascido em uma maternidade pública, por uma adolescente de 15 anos, na Zona Leste da Capital, no começo do mês.

Estive nos nove centros de Saúde que contam com maternidades na região e consegui, sem qualquer tipo de esforço, caminhar tranquilamente por todos os andares do Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, e do Hospital Doutor Radamés Nardini, em Mauá; além do pronto-socorro e o térreo do Hospital Estadual de Diadema.

Nestes locais, foi possível o acesso até a porta de um berçário com recém nascidos, que não tinha qualquer tipo de proteção, além de centros cirúrgicos, quartos com pessoas internadas, consultórios médicos com pacientes, pediatria, farmácia, almoxarifado. No Hospital Mario Covas, só não entrei no berçário, porque não era horário de visita - uma funcionária informou que liberação acontece entre às 14h e 15h. Segundo a recepcionista do local, para visitar somente é necessário dizer o nome da mãe.

O que mais impressionou foi a falta de atenção e comprometimento dos profissionais envolvidos. Em nenhum momento o repórter precisou se esconder, disfarçar ou fugir dos responsáveis, sendo até cumprimentado por enfermeiros e médicos - mesmo sem usar o tradicional jaleco branco, crachá ou etiquetas.

Além da fragilidade da segurança, onde ela se mostrou inexistente, o cenário encontrado não foi nada agradável nos três pronto-socorros. Nas filas enormes, foram vistas pessoas alimentando bebês de colo ao lado de paciente com bolsa para armazenar urina na espera de atendimento, temperatura desagradável e enfermos em macas, pelos corredores, ostentando máscaras de oxigênio, por exemplo.

A Secretaria Estadual de Saúde informou, por nota, que os hospitais têm protocolos de segurança e contam com circuito interno de gravação. E que os funcionários são treinados para abordar pessoas sem identificação. Desde 11 de março no comando do Nardini. a Fundação do ABC confirmou a falta de segurança no local e informou que no próximo mês uma empresa vai começar serviço de vigilância.

Investimentos na área são as soluções, diz especialista
A fragilidade encontrada nos hospitais Mário Covas, Diadema e Nardini, para o consultor em segurança Ulisses do Nascimento acontece por falta de comprometimento das administrações, além da inexistência de políticas de prevenção contra invasões e a baixa qualificação profissional da equipe de segurança.

"Para trabalhar em hospital é preciso ter treinamento específico. E para ter resultado (positivo) é necessário investir dinheiro e tempo. Não é de uma hora para outra que se faz um bom projeto."

Segundo o consultor, que presta serviço para uma universidade em São Bernardo, onde circulam 4.800 estudantes diariamente, também é preciso haver análise de cenários e saber quais são os pontos vulneráveis para antecipar futuros problemas.

Unidades menores têm mais controle de quem entra
Os hospitais pequenos garantem mais segurança aos usuários, conforme constatou o Diário. O repórter não conseguiu passar da entrada em seis unidades em Santo André, São Bernardo, São Caetano, Ribeirão Pires e Diadema.

"Restringir o acesso com barreiras é o primeiro passo para controlar a entrada e saída de pessoas. Vale lembrar que segurança não é apenas bloquear a entrada de estranhos, mas também com planos de fuga em casos de tragédias", conta Ulisses do Nascimento, consultor com 30 anos de experiência na área.

No Centro Hospitalar de Santo André existem duas entradas, mas ambas com roletas e vigilante parado ao lado. Inclusive na entrada do pronto-socorro havia um profissional uniformizado com um cassetete pendurado na cintura.

Em Diadema, no Hospital Municipal não existe roleta, mas sim uma funcionária atenta que cuida da entrada das visitas. A reportagem, ao ver uma fila, tentou seguir o grupo e, ao chegar na vez de entrar, a recepcionista não viu o pequeno crachá e proibiu a entrada educadamente. "O senhor precisa fazer a ficha antes de entrar."

No HMU, em São Bernardo, o repórter chegou a passar pela recepção sem ser parado, mas um segurança apareceu e pediu identificação. Nos hospitais São Lucas, em Ribeirão Pires e Márcia Braido, em São Caetano, o movimento era tão tranquilo que qualquer movimento chamava a atenção nos recintos, impossibilitando entrada sem ser notado.

Nardini é campeão em ausência de vigilância e descaso
O caos está instalado no Hospital de Clínicas Doutor Radamés Nardini, em Mauá. É possível andar por todos os andares sem ser parado ou notado. Para a reportagem entrar, mesmo com duas funcionárias na recepção de visitantes, bastou caminhar até a porta e abrir. As mulheres não perguntaram nada e continuaram conversando entre si. Um outro funcionário ainda ajudou o repórter a puxar a porta de madeira pelo lado de dentro.

Não havia seguranças ou guardas-civis municipais na passagem ou em qualquer outro andar do centro médico.

No berçário, mesmo com uma recepcionista preenchendo formulários na entrada, ninguém percebeu a aproximação até a porta do local.

O centro cirúrgico e a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) são os setores mais desguarnecidos de vigilância. Não havia profissionais, e foi possível circular no hall e olhar os pacientes pelas portas de vidros. Na pediatria foi notada a movimentação de mães com crianças de colo e alguns profissionais de Saúde.

Os corredores do pronto-socorro do hospital Nardini estavam completamente lotados, por volta das 12h da quarta-feira. Centenas de pessoas disputavam espaço nos bancos de madeira. Foram vistas diversas macas com pacientes utilizando máscaras de oxigênio ou com sondas para receber medicamento intravenoso no meio da multidão.

Responsável pela unidade de Saúde, a Fundação do ABC não negou nenhum dos flagras que o Diário presenciou e afirmou apenas que um GCM deveria estar na porta de entrada. A Prefeitura de Mauá não comentou o caso.




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