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Creche melhora comportamento de cães
Bruna Gonçalves
Do Diário do Grande ABC
24/01/2011 | 07:30
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Orlando Filho/DGABC


uem não conhece alguém que não tem cachorro porque trabalha fora e não tem tempo de dar atenção ao bicho? Isso não é mais problema, já que se pode deixar o animal em creche enquanto estiver fora de casa. Isso mesmo, na creche.

Esse novo conceito tem conquistado espaço e oferece área de lazer, passeios na rua, natação e caminhada na esteira. O custo pode ser cobrado por dia, entre R$ 10 a R$ 25 (de acordo com a frequência), e mensal, sendo de R$ 100 (uma vez na semana) até R$ 350 (segunda a sexta-feira).

Especialistas aprovam. "Não acho correto deixar um animal muito tempo sozinho, porque temos algumas doenças por falta de interação. Deixando na creche, ele vai se exercitar, eliminar a obesidade, diminuir a ansiedade e se sociabilizar melhor com outros animais", diz a veterinária da Universidade Metodista Tânia Parra Fernandes.

Para o veterinário especialista em comportamento animal e professor da Faculdade de Psicologia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) Mauro Landzman, deixar o animal na creche não é frescura. "É um benefício, principalmente para aqueles que vivem em apartamento. Hoje, os animais são tratados como membros da família. Assim, como ninguém deixaria uma criança em casa sozinha o dia todo, o mesmo está acontecendo com o cachorro", explica.

A veterinária e terapeuta comportamental Rúbia Burnier faz ressalvas. "O proprietário do animal precisa ficar alerta com atividades oferecidas, como pilates, hidroginástica, que visam a sedução do ser humano. Para o animal, nada disso importa, desde que se tenha um ambiente limpo, interativo, seguro e higiênico."

Para ela, boa parte dos clientes busca a creche para solucionar problemas de comportamento. "O animal vai ter um gasto de energia, por meio de brincadeiras, interatividade. Com isso vai torná-lo mais tranquilo, menos ansioso, mais relaxado, cometendo menos problemas em casa."

 

PERFIL

Para proprietários de creches da região, a maior parte dos clientes que deixam os animais é casada e não tem filhos. São pessoas que trabalham o dia todo e reclamam do comportamento do bicho.

"Hoje, com a correria do dia a dia, se tornou uma necessidade para quem tem cachorro. Por isso, o horário é flexível de domingo a domingo. O animal sozinho fica entediado e acaba destruindo tudo. Por isso, as creches proporcionam diversas atividades, como passeio pela rua, brincadeiras", explica Evandro Batista, proprietário de uma creche no bairro Campestre, em Santo André.

Para Raquel Cordon Pereira, proprietária de uma creche no bairro Nova Petrópolis, em São Bernardo, a intenção é fazer com que os cachorros aprendam a conviver com os demais, a dividir.

 

Empresário mantém cachorra na 'escola' durante a semana

 

O serviço não é apenas procurado por aqueles que não têm filhos. O empresário de Santo André Marcelo Mazzi, 39 anos, paga duas escolas: para a filha, Maria Eduarda, 6, e a creche da cachorra Chantilly, de um ano e sete meses.

Mazzi conta que há um ano Chantilly tem a mesma rotina de uma criança que fica na escola em período integral. "Levo às 8h, quando vou trabalhar, e busco por volta das 21h. Ela já até sabe a hora de ir e quando vou buscar não quer ir embora, que nem criança", afirma o empresário, que deixa Chantilly de três a quatro dias na creche.

Para o empresário, se é para ter um animal de estimação, tem que fazer bem feito e ter cuidados. "Eu moro em apartamento e não tenho muito tempo para passear com ela; levando na creche é uma forma de suprir essa necessidade", explica.

Mazzi destaca, ainda, outros benefícios para seu animal de estimação. "Além disso, ela brinca com outros cães e se torna uma cachorra mais sociável e não estranha mais ninguém. Gasto com ela cerca de R$ 500."

 

Donos aprovam resultados

 

Para os donos dos cachorros, a creche proporcionou mudanças significativas no comportamento dos bichos. Há seis meses, a médica de Santo André Keith Bacellar, 48 anos, notou diferença em Kevin, um poodle.

"Como trabalho fora, ele sempre ficava em casa e se estressava. Desde que coloquei na creche, ele ficou mais disciplinado. Mesmo com 12 anos, interage com os outros animais", conta Keith, que deixa o cão três vezes por semana.

Para Carlos Santana, responsável por uma creche no bairro Jardim, em Santo André, o comportamento do animal tem mudança significativa. "Logo o dono já percebe a diferença. Proporcionamos momentos que o animal não tem em um apartamento, como ficar na grama e tomar sol", diz Santana.

O administrador de empresas de São Caetano Rodrigo Sarac Martineli, 31, é um típico cliente. Casado há cinco anos e sem filhos, Rodrigo deixa há um ano e meio Apolo e Niki, dois bulldogs franceses, na creche. "Moramos em apartamento e na creche há várias atividades, que os deixaram mais calmos depois de conviver com outros cachorros", explica.

Rodrigo conta que os cachorros sabem a hora de ir para a creche. "Na hora que chegam já entram correndo, que nem criança", explica o administrador, que gasta por mês R$ 400 com os dois na unidade. "Não acho exagero, mas um estilo de vida."

A professora de Santo André Cristina Toledano, 46, afirma que seus amigos riem quando conta que deixa Apolo, um dachshund, na creche, mas nem liga.

"Comecei a observar que ao ficar sozinho ele começou com atitudes de estragar tudo, queria abrir a porta para sair. Em cinco meses na creche, vi isso mudar. Agora ele tem horários para refeição e passeio. É como um filho que vai à creche e tem o aprendizado", explica.

 

Escolha de hotel requer cuidado e atenção

 

Em época de férias, aumenta a procura por hotéis para cachorros, local com esquema diferente da creche. Especialistas alertam para os cuidados que os donos precisam ter ao deixar o animal. "É preciso fazer um planejamento com antecedência, principalmente se o cachorro nunca ficou longe da família, porque no hotel pode ficar estressado. Por isso, é preciso conhecer vários locais para ver o ambiente e a infraestrutura", afirma Rúbia Burnier, veterinária e terapeuta comportamental.

O Diário entrou em contato com alguns hotéis da região e o valor da diária não sai por menos de R$ 35.

A veterinária ainda lembra sobre o cuidado com o tamanho do espaço em que o animal vai ficar. "Se o sistema do hotel for box individual, é importante que um animal de dez quilos, por exemplo, tenha um local para ficar de três a quatro metros quadrados. Se pesar de 20 quilos, esse tamanho passa a ser de cinco a dez metros quadrados. Além disso, é preciso de uma área coletiva, para que os cães tenham interação e façam atividades", explica.

A empresária de Santo André Laura Murarolli, 64 anos, já desistiu de deixar a labradora Kira em hotel. Quando Laura decide viajar é um problema. "A Kira pesa 40 quilos e é difícil ter local que a aceite e também ofereça um espaço adequado. Ela está acostumada a dormir em colchão, pois é gordinha e acaba ficando com calos se dormir no chão. Em hotel não vai ter esse cuidado", comenta.

Como solução, Laura pede para a filha cuidar ou paga para uma pessoa ir à sua casa colocar água e comida para o animal. "Posso ficar fora no máximo cinco dias. Mas prefiro deixar na garagem do que em um local pequeno", afirma.

A encarregada de departamento pessoal de Santo André Claudia Nocera Guaresi, 41, não tem esse problema. Foi a primeira vez que Claudia deixou a Any, uma yorkshire, no hotel. "Fomos para São Lourenço, em Minas Gerais, e não tínhamos como levar. Em outra viagem levamos, mas nem aproveitamos, porque não podíamos deixá-la sozinha no quarto. Por isso, desta vez resolvemos fazer um teste e deixamos no hotel da clínica onde ela toma banho. Os cinco dias que ficamos fora, liguei todos os dias para saber como ela estava."

 




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