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Guerra à rubéola mobiliza 57 mil agentes no Estado
Fábio Zambeli
Da Associação Paulista de Jornais
04/08/2008 | 07:24
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O governo do Estado prepara-se para deflagrar uma operação de guerra contra a rubéola a partir do dia 9. Será o ponto de partida da mais ousada campanha de imunização já realizada em território paulista. O objetivo é livrar da doença 14 milhões de homens e mulheres com idades entre 20 e 39 anos.

Para atingir índice máximo de cobertura, a Secretaria Estadual de Saúde recorrerá a instrumentos que incluem até o envio de mensagens de texto via telefone celular. Vale tudo para convencer um público pouco afeito às vacinações a comparecer aos postos médicos nas cinco semanas da mobilização.

É o que revela a diretora da Divisão de Imunização da pasta, Helena Sato, 50 anos. Em entrevista à APJ (Associação Paulista de Jornais), ela descreve o plano de combate à moléstia, que afeta principalmente grávidas, e avalia os desafios de uma batalha de características peculiares cuja meta final é zerar as estatísticas de infecção pelo vírus até 2010.

"O nosso grande desafio é vacinar muitos homens, que estão sendo chamados para uma vacinação em massa. Em 40 anos de imunização, nós nunca chamamos esta população em especial para esta vacinação", diz.

Estão escalados 57.400 soldados em 15 mil trincheiras espalhadas pelos 645 municípios de São Paulo. Um dos desafios deste exército é neutralizar a contra-informação.  Como explica Helena, derrubar mitos sobre o contágio da rubéola - como por exemplo o de que o vírus não afeta o sexo masculino - se traduz na primeira missão da ofensiva. Ela lembra que o avanço dos casos da doença na população masculina é alarmante - em 2007 foram 1.600 registros, sendo 68% entre homens.

Qual o desafio de uma campanha de imunização em uma faixa etária que abrange pessoas com mais resistência em comparecer aos postos de vacinação?
HELENA SATO - Parte desta população já foi vacinada, em 2001. Na ocasião nós vacinamos mulheres de 15 a 29 anos. No ano anterior, em 2000, tivemos aumento de casos, com mais de 2.000 registros de rubéola no Estado. E a estratégia foi vacinar mulheres. Porque a grande questão quando se fala em eliminar a doença até 2010 é, principalmente, eliminar a síndrome - evitar que mulheres grávidas entrem em contato com o vírus da rubéola nos primeiros três meses de gestação.

Naquela ocasião, a adesão foi satisfatória?
SATO - Sim, nossa cobertura foi de 92%. Parte destas mulheres estão sendo chamadas de novo, agora em 2008. As que têm entre 20 e 39 anos.

E por qual razão a vacinação este ano abrange também a população masculina?
SATO - Porque no ano passado, tivemos o aumento de casos, tivemos 1.600 casos e 68% em homens. E por que? Porque tivemos uma ação específica para mulheres em 2001. Na época, se queria fazer para homens também, mas não tinha vacina disponível no mundo. Este ano, está sendo diferente. A meta do Brasil é vacinar 70 milhões de pessoas e se adquiriu 70 milhões de doses.

E qual o motivo de se estabelecer esta faixa etária?
SATO - É nesta faixa, de 20 a 39 anos, que estão ocorrendo os casos. Dá para entender uma parte disso. Nós fazemos a vacina da rubéola desde 1992. Desde então, são 16 anos. Naquela data vacinamos entre meninos e meninas de 1 e 10 anos. Quem tinha 10 anos em 1992 hoje tem 27. Ou seja, de modo geral, quem tem até 27 anos tomou uma dose de tríplice viral na vida, pelo menos. Mas vejo rubéola a partir dos 20 anos. A cobertura, em 1992 não foi homogênea. Ela foi melhor em crianças até 5 anos. Quem estava mais perto de 10 anos não tomou vacina.

Quem passou por algum tipo de imunização, já está livre da doença?
SATO - A vacina não é 100%, é 95%. Quem tomou ao menos uma dose, a chance de ter a doença é muito pequena.

Por que o homem é importante na eliminação da rubéola?
SATO - Esta ação que estamos fazendo não é isolada, é organizada pela Organização Panamericana de Saúde, de eliminar a rubéola até 2010. O nosso grande desafio é o número: 14 milhões, entre homens e mulheres. O ouro desafio é ter uma cobertura vacinal entre os homens.

Existe uma confusão quanto a isso. Os homens tendem a achar que a rubéola é ‘feminina'?
SATO - Às vezes os homens perguntam: rubéola não é problema de mulher? Por que se a mulher grávida tiver contato com o vírus, este bebê pode ter alguma má formação. Mas o homem tem um papel importante. Porque se ele tem rubéola, vai para casa, e se a mulher, a irmã, a namorada, estiverem grávidas e não forem vacinadas, este vírus pode entrar através do homem.

Os sintomas são confundidos com outras moléstias...
SATO - Pois é, reação alérgica e outras coisas. É claro que a pessoa que tem vermelhidão, o hexantema no corpo, pode ficar fora do trabalho. Vai ter febre, dor no corpo, mas depois acaba. O problema é quando afeta a mulher grávida nos primeiros três meses de gestação.

O fato de os sintomas serem similares aos de outras moléstias não causa uma subnotificação dos casos?
SATO - Às vezes, sim. Mas a Vigilância Epidemiológica trabalha em cima dos casos suspeitos. Uma pessoa que apresente febre, vermelho no corpo e gânglios no pescoço já é suspeito. Então é colhida a sorologia. Para identificar.

Quais as estratégias de mobilização?
SATO - Estamos nos reunindo com as regionais de Saúde, que se reúnem com os municípios. Primeiro é preciso repassar o tamanho desta campanha. Outra coisa fundamental é a informação da população. Um ponto estratégico é o contato com os agentes parceiros, municípios, empresas e indústrias. Dependendo do caso, vamos repassar a vacina para que esta equipe vacine seus funcionários.

Recentemente o Estado recorreu aos torpedos, via celular, para combater a dengue. Existe a possibilidade deste recurso ser utilizado agora na vacinação?
SATO - Nós fizemos em julho uma reunião com os parceiros e estavam presentes algumas operadoras de telefonia. E nós estamos preparando isso com nosso pessoal de marketing.

Qual o tamanho desta mobilização, em termos de contingente de profissionais, total de postos?
SATO - Teremos 15.508 postos fixos e volantes e 57.400 profissionais envolvidos, em todo o Estado. Isso apenas a partir do dia 9. Esta é a estrutura que está sendo montada. A partir da próxima semana, o site da secretaria já vai disponibilizar os locais dos postos de vacinação.

Qual a condição climática mais propícia para o contágio?
SATO - É a primavera. Esta questão climática, que chamamos de sazonalidade, é importante, mas o período mais propício para propagação é o final de setembro, outubro. Se não tivermos nenhuma vacinação, teremos um aumento no número de casos também.




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