Eles não têm carteira assinada, mas os artistas de rua cumprem o expediente diário de aproximadamente cinco horas. O grande desafio dessas pessoas é atrair a atenção de quem transita e levá-las para um mundo de distração e reflexão a partir de suas apresentações.

 São 14h e o sol forte no calçadão da Rua Coronel Oliveira Lima, em Santo André, reflete na fantasia do peruano Rodolfo Valentino, que atua nas vestes do personagem Jack Sparrow, do filme Piratas do Caribe.

Morador de Santo André há cerca de três meses, o rapaz de 32 anos atrai a atenção de todos como estátua viva no movimentado centro comercial da cidade. "Os pedestres estão na rua por alguma razão. Tenho de atrair as pessoas para o mundo da arte", disse Valentino. "As crianças são as que mais se maravilham, e os adultos desfrutam olhando os gestos que faço para elas."

O currículo de alguns desses artistas é de surpreender os que pensam que só porque essas pessoas estão fazendo suas manifestações na rua elas não têm escolaridade e formação. Valentino, por exemplo, formou-se em artes cênicas em 2004 no Peru e em 2006 ganhou uma bolsa de estudos na USP (Universidade de São Paulo) para se especializar em direção de artes cênicas.

"Não ganho muito dinheiro com isso. O que as pessoas colocam na caixinha é simbólico. O maior ganho que tenho é a felicidade de estar num espaço alternativo, diferente dos palcos de teatro. Eu quero ir onde as pessoas estão, já que ainda é muito difícil levá-las ao teatro", explicou.

O momento de atendimento à reportagem dura pouco mais de 10 minutos. É hora de voltar para o posto e ficar em silêncio. Valentino retoca a maquiagem e sobe em seu palco minúsculo. Tão logo se posiciona, os irmãos gêmeos Clara e Arthur Barilli, 11 anos, colocam uma moeda e ele expressa um gesto carismático. "Queríamos ver ele se mexer", disse Clara.