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Qualidade de vida na terceira idade
Elias Martins e Paulo Araújo*
21/03/2010 | 07:21
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Força de vontade e disposição: palavras essenciais para as pessoas com mais de 50 anos que, depois de muito tempo afastadas das salas de aula, decidiram buscar novos conhecimentos. As chamadas universidades de terceira idade, que vêm sendo criadas nos últimos anos em várias instituições de ensino de nível superior em todo o País, têm como objetivo promover programas de convivência e aprendizagem a fim de estimular a reflexão desse perfil de público sobre temas relacionados à saúde, sociedade e bem-estar.

Tal iniciativa também se justifica pelo número crescente de pessoas na faixa da terceira idade no Brasil. A OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta que, em 2025, o País será o sexto com maior número de idosos do planeta.

Por conta disso, as universidades para a terceira idade acabam desempenhando importante papel no sentido de auxiliar na manutenção da rede de suporte social. Tornar a velhice mais agradável e suportável é o objetivo dos professores e funcionários que estão neste universo de conhecimento e cultura. A comunicação, o envolvimento interpessoal, a prática regular de atividades físicas e o conhecimento das novas tecnologias, são fatores essenciais para dar ainda mais qualidade à melhor idade.

Entre as disciplinas normalmente oferecidas pelas universidades, as mais procuradas e com respostas mais positivas do público idoso são aquelas com temas relacionados a comportamento e convivência, expressão corporal e informática.

Em São Caetano, por exemplo, existe a Universidade Sênior, criada pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul). A coordenadora do projeto, professora Leila Perez Sanchez, que também leciona nos cursos de Administração da instituição, explica que o objetivo é oferecer "um espaço de relacionamento e contato com o conhecimento, conseguindo melhorar todos os aspectos da vida das pessoas que estão na terceira idade, sempre buscando melhor qualidade de vida".

Para as universidades, os estudantes da terceira idade podem entender melhor sobre integração social e aplicar os conceitos debatidos em sala de aula no dia a dia, inclusive nos relacionamentos familiares.

Entre as atividades mais estimulantes que as universidades seniores oferecem estão a dança e a expressão corporal. Senhoras e senhores espantam o mau humor e o sedentarismo e interagem ao som de músicas e passos ensaiados. "Desde que comecei a frequentar a universidade fiquei mais desinibida, fiz novas amizades e passei a me sentir mais útil", conta a estudante Nilza Coltas, 55 anos, que atualmente está no 4º ano no projeto universitário desenvolvido pela USCS. E Nilza completa: "A gente não pretende se formar em profissões específicas, como médicos ou jornalistas, mas sim aperfeiçoar a nossa experiência de vida".

Voltar para a sala de aula é, para a maioria, a oportunidade de encontrar os amigos, compartilhar as experiências do cotidiano e aprender coisas novas. Para se habituar às novas tecnologias, as universidades planejam em sua grade curricular aulas de informática, em que é possível aprender a digitar e editar um texto, ou mesmo preparar uma planilha.

A professora de Fisioterapia Rosamaria Rodrigues Garcia, especialista na área de Geriatria e Gerontologia, conta que dar aula para pessoas com mais de 50 anos foi uma experiência marcante em sua carreira: "O projeto para idosos tem um papel fundamental nas questões psicológicas e, principalmente, sociais de seus estudantes". A professora explica que o constante incentivo para a prática de exercícios físicos e mentais é essencial para que se possa ter uma vida saudável.

Segundo Rosamaria, o convívio e a sensação de integração são os primeiros benefícios que as universidades oferecem. "A proposta universitária estimula o engajamento na vida, faz com que as pessoas na terceira idade se sintam úteis e mantenham a autonomia em relação ao mundo."

A professora Rosamaria destaca ainda a importância das atividades tecnológicas para estimular a memória e a concentração, a fim de retardar a evolução de possíveis quadros de demência, que podem aparecer conforme a idade avança. Além disso, a possibilidade de navegar na internet permite ao idoso se tornar menos alienado em relação ao mundo em que vive, além de ajudar, não só na inclusão digital, mas também na inclusão social.

Universidade Sênior começou com sete alunos
Investir em projeto de ensino e inclusão, mesmo diante da pouca receptividade inicial. Esse foi o desafio da USCS, que começou a Universidade Sênior em 2004, com apenas sete alunos. O curso tinha somente um módulo e quatro disciplinas. Hoje, seis anos depois, são 16 disciplinas e quatro módulos estruturados, para serem cursados no período de dois anos.

Mas, tendo em vista o crescente interesse e participação do público de terceira idade, os estudantes podem continuar na universidade por tempo indeterminado, mesmo depois de formados. No momento, o curso conta com 50 alunos.

As disciplinas são bimestrais e abordam temas como música e saúde, educação corporal, segurança e qualidade de vida, convivência e inteligência emocional, motivação e comportamento, informática, redação criativa, história, entre outros. As aulas acontecem no Campus I da Universidade, que fica na Avenida Goiás, 3.400, bairro Barcelona, em São Caetano.

Alunos tímidos viram pés-de-valsa
As carteiras universitárias são arrastadas, abrindo espaço para a coreografia. Assim, acontecem as aulas de Expressão Corporal que Antônio Coli, 71 anos, e Adilson Velloso, 67, participam.

É só a música começar para Adilson se sentir "mocinho novamente". Ele está no 4º ano na Universidade Sênior, e afirma que "as atividades oferecidas, somadas às experiências de vida de cada estudante, resultam sempre numa melhor qualidade de vida."

Para Velloso, as aulas influenciaram diretamente no seu comportamento social e no autoconhecimento, até mesmo as relações familiares evoluíram e se tornaram mais positivas. "Minha maior alegria é quando chegam terça e quinta-feira e eu venho para a universidade", comenta.

Já Coli, que é conhecido na classe como Toninho, conta que, antes de entrar para a faculdade, nunca havia imaginado que conseguiria dançar e se expressar em público. Mas começou a se soltar aos poucos, ao perceber que, na verdade, não existe nenhum tipo de compromisso ou obrigação, a não ser com o bem-estar. "Eu perdi a vergonha. Hoje tenho mais autocontrole, disposição e consigo me relacionar com mais facilidade", conta o estudante que já está em seu 2º ano.

A mudança é radical. Coli se emociona ao contar que hoje é uma nova pessoa e que só colheu bons frutos das aulas e das amizades que fez depois que entrou na universidade. Um dos momentos mais divertidos é reunião da turma: "Sempre alguém traz algo pra comer e beber e, depois das aulas, todo mundo se reúne para uma confraternização. É muito bom ter amigos."

*Os alunos Elias Martins, do 3º ano e Paulo Araújo, do 4º ano, foram orientados pelo professor Flávio Falciano do curso de Jornalismo.
O conteúdo editorial desta página é de inteira responsabilidade da Universidade de São Caetano do Sul, com supervisão editorial dos jornalistas Eduardo Borga e Nelson Tucci, da Comunicação da USCS.




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