Indicador de inflação dá sinal de que varejo inicia expansão gradual nos valores para ofertar com descontos
O varejo deu indícios de que está recompondo margens de preços, ou seja, subindo os valores dos seus produtos, para se preparar à Black Friday – grande liquidação realizada na última sexta-feira de novembro (neste ano cairá no dia 28), que entra no seu terceiro ano no País, seguindo os moldes dos Estados Unidos –, e para promover saldões próximos à data.
O momento, portanto, é ideal para os consumidores pesquisarem preços de itens que têm a intenção de comprar no período. O setor usa essa ‘mágica’ dos percentuais para garantir seus descontos e obter o melhor resultado possível com o aumento expressivo da demanda.
O sinal dessa recuperação de margem de preço foi identificada dentro do IPCA-SP (Índice de Preços ao Consumidor Amplo – Grande São Paulo), publicado na quarta-feira. O indicador apontou que os fogões ficaram, em média, 6,01% mais caros. A inflação do mês de setembro todo, para se ter ideia, foi de 0,64%.
A variação do bem de consumo quase equivale à inflação acumulada em 12 meses para os brasileiros, que alcançou 6,75% em setembro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O encarecimento dos fogões se destaca ainda em relação aos resultados de setembro de 2012 na Região Metropolitana, quando o item apresentou deflação de 1,39%, e de 2013, quando a alta média de preço foi de 3,20%.
A inflação nos insumos para a indústria de eletrodomésticos seria uma das hipóteses para explicar a expansão dos preços às famílias. “Eles usam aço carbono, mas não houve aumento, pelo que me lembre. No aço inoxidável também não. No caso dos vidros, também nada expressivo”, destacou o vice-diretor do Ciesp (Centro da Indústria do Estado de São Paulo) de São Caetano, Willian Pesinato.
O Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) reforça a tese de que o custo de matéria-prima para a indústria não teria sido a responsável. O IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) aponta que as empresas foram beneficiadas com deflação de 0,32% acumulada no ano e 0,18% em setembro.
Para o especialista em varejo da FIA (Fundação Instituto de Administração) Nuno Fouto, como a indústria não teria motivo para incrementar os preços, há grandes chances de que o comércio seja o responsável.
“A primeira explicação seria que as vendas estão mais fortes. Neste caso, o preço geralmente aumenta quando a procura é maior”, explicou Fouto, destacando que isso dificilmente aconteceu porque a demanda para esse produto é mais acelerada, geralmente, no primeiro semestre.
Outra possibilidade seria o lançamento de modelos do eletrodoméstico em setembro, que entrariam com preços mais altos no varejo. “Mas não é o período para isso. O forte para lançamentos da linha branca é mais no começo do ano ”, avaliou Fouto. “Eu apostaria mais na recomposição (das margens de preços).”
O especialista se refere à estratégia das empresas de aumentar os preços bem antes da Black Friday para depois diminuir com intensidade no período. “A terceira hipótese seria, realmente, a recomposição de margem prevendo uma futura liquidação. Temos que lembrar das promoções, da Black Friday, inclusive. A recuperação de margem (agora) possibilita quedas nos preços nessa época”, explicou Fouto.
Na ponta do lápis, se as lojas aumentarem 6% os seus preços, por mês, até a data, ou seja em setembro, outubro e novembro, acumulariam inflação de 19% em relação ao fim de agosto. Para retirar toda essa gordura, sem diminuir a margem de lucro, tendo em vista que a maioria teria estoque, poderiam anunciar desconto de 16%. “É importante que o consumidor comece a pesquisar os preços para comprar na data”, acrescentou Fouto.
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