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Bobsled a caminho de São Caetano
Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
28/04/2013 | 07:22
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Orlando Filho/DGABC


O Brasil não tem neve. O gelo que cai sobre algumas regiões do País só é suficiente para deixar a paisagem branca, mas pouco para se ter estrutura voltada aos esportes que utilizam do clima e do fenômeno natural, como o bobsled e o skeleton, modalidades que estão em crescimento no território. No entanto, engana-se quem pensa que só os locais sujeitos a nevascas podem abrigar os deportos do gelo. Muito pelo contrário, tanto que São Caetano deve receber em breve pista de empurrada (pushing) para treinamento dos atletas, visando a Olimpíada de Inverno de Sóchi, na Rússia, em 2014, e principalmente Pyeongchang, na Coreia do Sul, em 2018.

A cidade do Grande ABC recebeu há três semanas as Seleções Brasileiras de Bobsled e Skeleton no centro de treinamento da BM&FBovespa. Improvisando trenós, atletas participaram de três dias de atividades sob comando do técnico Cristiano Paes. Mas com boas perspectivas no desenvolvimento das modalidades, treinador e integrantes da equipe projetam o fim da precariedade. Aliás, tal fase já passou, como explica o piloto do time masculino, Edson Bindilatti.

"Antes a gente empurrava moto, carro. Aquilo era improviso. Hoje não tem mais isso, temos trenó de rodinhas. O esporte evoluiu muito. Improvisamos porque não temos pista de pushing ainda, mas existe projeto para a construção de uma, que tem cerca de 80 metros e serve para treinar largada. É o que a gente precisa agora. Estudamos algumas parcerias, mas nossa ideia é que seja aqui em São Caetano", afirmou Bindilatti, também técnico de salto com vara da BM&FBovespa e auxiliar de Elson Miranda, treinador da campeã mundial Fabiana Murer.

O investimento para a pista é de R$ 100 mil, valor baixo na visão do piloto. "Para a evolução do esporte não é muito. Para isso estamos indo atrás de patrocínio, visando não a curto prazo, mas a Coreia do Sul, em 2018", disse. "Nossa intenção é até o meio do ano ter essa pista, porque faz diferença treinar com os quatro atletas empurrando e entrando dentro do trenó simultaneamente. O Brasil tem condições de treinar aqui mesmo. Lá fora, quando acaba a temporada de inverno, não tem mais gelo e treinam como aqui, em pistas de atletismo e academias. O diferencial é que têm a pista de empurrada, a qual temos projeto de montar", completou o técnico Cristiano Paes.

Recentemente, o Brasil realizou período de treinos em Calgary, no Canadá, e disputou a Copa América em Lake Placid, nos Estados Unidos. Independentemente de resultados, a participação brasileira na competição - mesmo que com trenó emprestado -, combinada à participação em outro torneio no fim desta temporada, dá ao País a chance de disputar vaga nos Jogos da Coreia do Sul (tem de ficar entre os 30 melhores do ranking mundial). Até lá, assim como foi feito em janeiro, a CBDG (Confederação Brasileira de Desportos de Gelo) realizará mais uma seletiva, em agosto, e no mês seguinte segue para outra temporada de trabalhos no gelo canadense. "Analisaremos todos os atletas e, às vezes, se acha um diamante bruto que pode ser lapidado", destacou Cristiano Paes.

Multiatleta, andreense põe coração à frente das condições

Fabiana dos Santos é o que pode se chamar de ‘Mulher Maravilha', tantas são suas habilidades. A andreense de 28 anos é, há dez anos, a única piloto da equipe brasileira feminina de bobsled e, se isso já não fosse grande demonstração de superação em um País de pouca estrutura para o esporte, ela tem carreira de superação também em outras modalidades.

"Iniciei na ginástica olímpica, na qual participei de seletivas para a Seleção. Depois, recebi bolsa em Santo André para atletismo, no qual integrei Seleção de base e fui convidada a integrar a equipe brasileira de bobsled. E ainda disputei os Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio, no levantamento de peso", destacou.

Mas nem tudo são flores à multiatleta. As poucas condições do bobsled - único esporte que pratica atualmente - em razão da falta de patrocínio a deixa e a seus companheiros de Seleção sem salários. "Não basta ter técnico, precisamos de estrutura financeira para investir no País e fazer os treinamentos", destacou.

No entanto, a paixão pela modalidade é tamanha que ela disse relevar qualquer tipo de problema para colocar o Brasil como postulante a vaga na Olimpíada de Inverno da Coreia do Sul, em 2018.

São-bernardense tenta a sorte no skeleton

Enquanto o bobsled é um esporte coletivo, seja no trenó para duas ou quatro pessoas, o skeleton é individual. Nos moldes de um carrinho de rolimã, o atleta deita de barriga sobre a estrutura e desce a pista. Atualmente, a equipe brasileira tem uma mulher e dois homens, um deles Francisco Iranildo da Silva, 26 anos.

Nascido em São Bernardo, ele é oriundo do atletismo, no qual disputa os 100 m rasos e salto com vara. A oportunidade no esporte de gelo veio em janeiro, com a seletiva para integrar a Seleção.

"Foram abertas as inscrições e pensei na oportunidade de estar em uma Olimpíada. Para o skeleton precisa correr e ser louco, e acho que me encaixo neste perfil", definiu o atleta, que, como muitos jovens da região, iniciou a carreira esportiva em jogos estudantis. "Meu começo foi no atletismo, em 1998, correndo na pista da FEI na disputa dos Jogos Escolares. A partir daí, me chamaram para a equipe da cidade, comecei a treinar e fui despontando na base. Hoje vivo do atletismo. Meu emprego é ser atleta de alto rendimento", contou.

Por ora, Francisco Iranildo brinca: só viu gelo no congelador ou pela janela do avião. Em setembro, porém, terá a primeira oportunidade do contato físico no período de treinos em Calgary, no Canadá. Além disso, vai descer uma pista pela primeira vez. E não vê a hora.

 

 




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