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Pastor negro repudia deputado Marco Feliciano

Para religioso, é retrocesso legislador na Comissão de Direitos Humanos

Bruno Coelho
Do Diário do Grande ABC
11/03/2013 | 07:00
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"Ele não nos representa." Esse é o recado de Marco Davi de Oliveira, pastor negro da Igreja Batista do Parque Doroteia, situado em São Paulo, na divisa de Diadema. A resposta está direcionada a uma figura que usa a mesma alcunha de ‘pastor', o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), componente da bancada evangélica na Câmara dos Deputados. Na quinta-feira, o parlamentar assumiu a presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minoria, apesar de ter declarações racistas e homofóbicas em seu currículo.

A ascensão de Feliciano a uma comissão que deveria zelar pelas lutas das classes sociais discriminadas na sociedade atinge diretamente Davi. Mesmo com semblante alegre e sorridente, o pastor se recusa a mencionar o nome do deputado e se mostra indignado por, segundo ele, mais essa decepção do Congresso Nacional.

"Recebi essa notícia um dia antes (da eleição interna) e lamentei. Ele (Feliciano) tem direito de ser deputado, pois foi eleito democraticamente e pode presidir comissões, exceto justamente a de Direitos Humanos. Isso é um retrocesso", constatou.

A indignação de Davi ocorre pela polêmica declaração de Feliciano nas redes sociais: "Os africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé."

O pastor do Parque Doroteia avalia o gesto como um equívoco na interpretação da Bíblia, sobre a história do sinal dado pelo Criador a Caim. O texto não explica exatamente qual foi a marca divina e muitos a especulam como se fosse a cor negra da pele. "Se o sinal de Deus é a pele negra, vejo isso como uma graça", rebateu Davi.

O pastor é autor do livro A Religião Mais Negra do Brasil, que aborda o crescimento da população negra no meio evangélico e denuncia casos de racismo cometidos dentro das igrejas.

Integrante da Anneb (Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil), Davi revela que o grupo pretende procurar Feliciano para entender quais políticas a favor dos negros o deputado pretende aplicar na Comissão de Direitos Humanos.

Enquanto isso, setores da sociedade reagem com indignação e repúdio ao deputado federal. Grupos de defesas de negros e homossexuais organizaram protestos pelas ruas do Brasil. Nas capitais São Paulo e Rio de Janeiro, centenas de pessoas saíram às ruas.

Feliciano também é alvo de protestos nas redes sociais até de grupos evangélicos, que formaram um abaixo-assinado pela renúncia dele à presidência da comissão.

Esse capítulo do Congresso Nacional é apenas mais um de várias páginas escritas pelos parlamentares, nas quais ignoram o povo e colocam a política em descrédito para sociedade. "Há pessoas de bem lá, mas os casos como Mensalão, Renan Calheiros (PMDB, eleito presidente do Senado) e agora a eleição da Comissão de Direitos Humanos decepcionam bastante o brasileiro", lamenta Davi.

 




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