A Tecsau Distribuidora de Produtos e Equipamentos Médicos, empresa ligada a Ailton Teixeira, um dos coordenadores da candidatura governista de Donisete Braga (PT) a prefeito de Mauá, ganhou parte de contrato milionário da Prefeitura. A licitação para o fornecimento de medicamentos por dois anos para a rede municipal de Saúde, aberta em 2011, teve os vencedores declarados em agosto, dentro do período eleitoral e a dois meses da realização do primeiro turno.

Dez empresas tiveram a vitória homologada no dia 24. O valor total é de R$ 20,4 milhões. Entre as companhias está a Tecsau. Por R$ 428 mil, a firma conquistou o direito de fornecer 12 itens de produtos (cada um deles corresponde a um grupo de remédios) às unidades de Saúde. Ailton é diretor da empresa. Seu filho, Felipe Teixeira, é o dono (veja fac-símiles acima).

A concorrência foi aberta pelo vice-prefeito e então secretário de Saúde Paulo Eugenio Pereira Júnior (PT), na modalidade ata de registro de preços. O petista deixou a Pasta em junho para ser o principal coordenador da campanha de Donisete. Na semana passada, assumiu o comando do Paço por tempo indeterminado em virtude da internação do prefeito Oswaldo Dias (PT), que tratava infecção generalizada de origem intestinal - recebeu alta sexta-feira do Hospital Albert Einstein.

DEFESA E ATAQUES

Ailton Teixeira se identificou à equipe do Diário como colaborador da campanha do PT. Ele afirma que não há conflito entre a sua predileção política e a atuação da Tecsau. "Sou nascido e criado em Mauá e não abro mão de participar do processo político. Isso é uma coisa. O meu trabalho e o do meu filho na empresa é outra. Não há nada ilegal."

A defesa corrobora com a tese do especialista em Direito Público Leandro Petrin. "CPF não se confunde com CNPJ. Uma coisa é a natureza da empresa. Outra é a pessoa física, que tem o seu time de futebol, sua religião e o seu partido." Ele ressalta, inclusive, a legalidade de fornecedores de administrações públicas doarem para campanhas eleitorais.

Donisete também minimiza. "Tem alguém procurando pêlo em ovo", sugere. Em seguida, lembra contratos irregulares firmados no governo do ex-prefeito Leonel Damo (2005 a 2008), pai de sua principal adversária, Vanessa Damo (PMDB). "A nossa administração seguramente não vai contratar o Instituto Sorrindo para a Vida", garante.

Em 2007, o Sorrindo para a Vida fechou contrato de R$ 79 milhões com o governo Damo para administrar funcionários da Saúde. No endereço do instituto registrado na Receita Federal e no Ministério da Justiça, na Zona Norte da Capital, funcionava um sex shop.

Descartando favorecimento à Tecsau no período eleitoral, Ailton recorda que a empresa firmou contratos com o governo Damo. "E vencemos licitações em São Bernardo, São Caetano, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra... São 12 anos de atuação limpa."

Paulo Eugenio também rechaça a hipótese. "A administração pública não vê a simpatia partidária dos empresários para fazer contratos." E, assim como Donisete, lembra a gestão Damo na Saúde. "Estranho foi o Leonel ter contratado a Home Care Medical, cujo proprietário (Renato Pereira Júnior) foi preso por fraudar licitações. A Tecsau é idônea", compara.

Empresa ligada à Logic fica com mais da metade do bolo

Além da Tecsau, entre as dez empresas declaradas vencedoras na licitação para a distribuição de remédios para a rede de Saúde de Mauá está a Healthecnica Produtos Hospitalares, com sede na Pompéia, na Capital. Ela conquistou o maior lote e vai faturar R$ 11,1 milhões, mais da metade dos R$ 20,4milhões.

A dona da companhia é Débora Ricco Bertoni, mulher do sócio-majoritário da Logic Engenharia e Construção, Rogério Ricco Bertoni. Somente em 2010, a Logic ganhou R$ 99 milhões de Prefeituras do Grande ABC. Foram R$ 49,6 milhões em São Bernardo, R$ 39,4 milhões em Santo André e R$ 10 milhões em Mauá.

Nas três cidades, a empresa celebrou 323 contratos em diversos segmentos durante os 12 meses. Em Mauá, os convênios foram para a manutenção de prédios públicos, entre eles o Hospital de Clínicas Doutor Radamés Nardini, e a adequação da UBS (Unidade Básica de Saúde) Central para AME (Ambulatório Médico de Especialidades).

Rogério Ricco doou para campanhas petistas. Em 2008, enviou R$ 20 mil ao então candidato a prefeito de São Bernardo Luiz Marinho. Em 2006, ajudou em R$ 15 mil a campanha de Oswaldo Dias para deputado estadual.