Economia Titulo Incentivo tributário
IPI reduzido vai
vigorar por mais tempo

Indústria pede e governo prorroga incentivo para veículos,
produtos da linha branca, móveis e material de construção

Leone Farias
Pedro Souza
30/08/2012 | 07:10
Compartilhar notícia


Com a exigência de que os empregos sejam mantidos nos setores beneficiados, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem à tarde a prorrogação do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para automóveis, produtos da linha branca, material de construção, móveis, painéis e luminárias. O prazo para a manutenção do incentivo, porém, varia.

No caso dos automóveis, a medida vale apenas até outubro. Segundo o ministro, o período menor leva em conta a reação mais rápida do mercado e a perda na arrecadação - prevista em R$ 800 milhões nos próximos dois meses.

Para material de construção, o IPI menor vai até fim de 2013. Para linha branca, até dezembro desse ano. A perda na arrecadação, nos dois casos, é de R$ 1,8 bilhão e R$ 361 milhões, respectivamente. O governo inclui pisos laminados, madeira sólida, vinículo e parede de gesso na lista de material de construção com imposto menor. No caso dos móveis, o benefício fiscal vai até 31 de dezembro e a renúncia do governo chega a R$ 371 milhões. Para bens de capital (máquinas e equipamentos), o IPI reduzido também vale até 31 de dezembro.

Além da garantia dos empregos, Mantega também exigiu a queda de preços dos produtos, o que contribuirá para a redução da inflação.

O ministro também anunciou a diminuição dos juros para a linha do PSI (Programa de Sustentação do Investimento), do BNDES. O PSI - cuja taxa, para compra de caminhões e máquinas novos, caiu de 5,5% ao ano para 2,5% - venceria amanhã e vale, agora, até o fim do ano.

Ainda de acordo com ele, o programa, criado em 2009 para financiar sobretudo bens de capital e investimentos em tecnologia, tem R$ 230 bilhões autorizados, dos quais ainda estão disponíveis R$ 78 bilhões. A prorrogação, disse Mantega, permitirá a liberação de todo o valor previsto.

INVESTIMENTOS

O pacote anunciado ontem contempla ainda outras medidas voltadas a bens de capital (para investimentos das empresas). Uma delas foi a abertura de linha do BNDES para a compra de máquinas e caminhões usados nacionais, cujo custo de crédito é TJ462, que é a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) - 5,5% ao ano -, mais 1% ao ano, e outro 1,8% anual de remuneração, além de outras condições definidas pelo banco do governo.

Outra foi a depreciação contábil acelerada (não mais em 48 meses, mas em 12 meses), com a diminuição da base de cálculo para o IR (Imposto de Renda) de empresas que adquirirem caminhões até dezembro.

CAMINHÕES

Mergulhado em uma crise, o setor nacional de caminhões foi contemplado com diversas medidas que devem contribuir para o impulso da atividade, avalia o diretor de comunicação corporativa da Mercedes-Benz, Mario Laffitte.

Para ele, a redução dos juros da linha do PSI do BNDES para 2,5% ao ano, com a manutenção do prazo de pagamento em 120 meses, a abertura da linha de financiamento desse banco para caminhões usados e a depreciação contábil (diminuição do valor dos bens resultante do desgaste pelo uso, no cálculo do Imposto de Renda) mais acelerada, ajudam. "A questão é entender o quanto isso vai se traduzir em vendas. Precisamos ver o quão rápida será a recuperação", cita. Essa categoria de veículos registrou queda de 18,8% na comercialização de janeiro a julho frente a igual período de 2011.

MÁQUINAS

Representantes de máquinas e equipamentos também pleiteavam benefícios. E o segmento foi contemplado com juros menores da linha PSI do BNDES e com a prorrogação, até dezembro de 2013, da isenção do IPI para diversos itens (válvulas, peça para motores etc).

O setor vem sofrendo com a retração da demanda, aliada à forte entrada de produtos importados. Desde outubro, houve perda de quase 10 mil empregos na indústria. Por sua vez, neste ano, de janeiro a julho, os fabricantes brasileiros reduziram as vendas no País em 7,6% na comparação com igual período de 2011. Ao mesmo tempo, houve crescimento de 5,3% nas importações. Com isso, caiu a participação da máquina nacional, de de 56,8% no ano passado para 49,9% em 2012.

 

CARROS

A prorrogação do IPI reduzido para os carros era uma reivindicação do setor automobilístico. "Foi uma medida coerente, porque o mercado ainda não está satisfatório, está sendo empurrado às custas de promoções e antecipações de compras", afirma o presidente do Sincodiv-SP (Sindicato das Concessionárias no Estado de São Paulo), Octavio Vallejo. Ele avalia que, com a extensão da medida, será possível "salvar" o ano, ou seja, há a perspectiva de que o segmento terá crescimento neste ano frente a 2011.

Além disso, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) mostrou ontem ao governo que houve a geração de 2.700 vagas nas fabricantes de maio até agora, como reflexo do crescimento da produção, por causa da corrida dos consumidores em busca dos descontos.

Com o tributo menor, os preços dos carros caíram em torno de 10% e a demanda se aqueceu. De janeiro a maio, a indústria contabilizava média diária de vendas de 12,4 mil carros zero-quilômetro e, a partir da redução do tributo, dia 23 de maio, nos três meses seguintes (junho a agosto), essa média subiu para 16,6 mil por dia.

E a arrecadação do governo, mesmo com o imposto menor - para carros 1.0 nacionais, a alíquota do IPI passou de 7% para zero - não caiu, segundo a associação das montadoras. A média de arrecadação do segmento nesses três meses (R$ 188,7 milhões por dia) cresceu 1,7% em relação aos dados de maio.

ELETRODOMÉSTICOS

A prorrogação da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) nos produtos da linha branca, como geladeira, fogão e máquina de lavar, é importante para a aceleração econômica do País, avaliam especialistas. "Os preços baixos para os consumidores deverão ser mantidos, estimulando a demanda, o que aumenta a produção e garante o emprego", pontuou o professor de Economia da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado) e coordenador do núcleo de pesquisas Ifecap, Eric Brasil.

"Tudo aquilo que diminui impostos e estimula aumento dos níveis de atividade econômica é mais do que bem-vindo", afirmou o professor de Macroeconomia e Cenários Econômicos do MBA da Fipecapi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras) Silvio Paixão. "Para mim, toda redução de impostos na cadeia produtiva e no comércio é bem-vinda", opinou.

MÓVEIS

O presidente do Sindicato da Indústria de Móveis de São Bernardo e Região, Hermes Soncini, disse que, pelo pequeno porte da maioria das empresas do setor no Grande ABC que estão no regime de tributação Simples Nacional, o IPI reduzido não se traduz em menores preços aos consumidores. "O que pesa para nós são os altos juros que os clientes pagam para comprar móveis", criticou Soncini.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;