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Classe C consome
R$ 55 bi em moda

Volume previsto de gastos supera em 153% os desembolsos
dos brasileiros em 2002, de acordo com pesquisa Data Popular

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
26/08/2012 | 07:10
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A nova classe média entra cada vez mais na esteira do consumo de bens e serviços que antes não eram acessíveis à sua renda. A ampla oferta de crédito, o aumento do rendimento do trabalho e a ascensão da formalidade são motores para esse novo cenário. E um dos segmentos que crescem com o avanço da classe C é o de moda.

Levantamento do instituto de pesquisas Data Popular revela que, entre 2002 e 2012, os gastos dos consumidores da classe C para vestirem o que ditam as revistas, estilistas e vitrines saltaram de R$ 22 bilhões para R$ 55,7 bilhões (estimativa para este ano), alta de 153%.

Para que fique claro o conceito de classe média, o Data Popular considera integrantes deste grupo as pessoas que têm renda mensal entre R$ 291 e R$ 1.019. Abaixo desse intervalo monetário estão os consumidores da baixa renda. E aqueles cujo rendimento ao mês supera os R$ 1.019, o instituto classifica como classes A e B, ou alta renda.

Neste ano, os brasileiros vão gastar, aproximadamente, R$ 121 bilhões com moda. As compras de sapatos, camisas, vestidos, calças e roupas íntimas das famílias de alta renda, em dinheiro, são estimadas em R$ 45,5 bilhões, ou seja, devem ser inferiores ao potencial de consumo da classe C.

Os consumidores das classes D e E também desembolsarão menos recursos para acompanharem as tendências. Segundo o Data Popular, o potencial é de R$ 19,8 bilhões. Todos os valores têm como base informações da POF (Pesquisa de Orçamento Familiar) da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios), com valores corrigidos monetariamente pela inflação.

O diretor do Data Popular, Renato Meireles, destacou que as mulheres são maioria no consumo de moda. E o crescimento da participação delas no mercado de trabalho formal gerou força para aumentar esse tipo de compras.

No Grande ABC, por exemplo, segundo dados do Seade-SP (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), com base em informações do Ministério do Trabalho e Emprego, de 2002 até 2010 o número de mulheres empregadas com carteira assinada subiu 59%, para 301.071 trabalhadoras. No caso dos homens empregados formalmente o acréscimo foi de 36%, para 497.274 trabalhadores. "Essa mulher percebeu que cuidar da aparência e investir em um bom guarda-roupa contribui para alavancar a carreira e mudar de vida", disse Meireles.

Segundo o levantamento do Data Popular, 54% dos homens apresentam interesse, seja mínimo ou constante, por moda. O público feminino é bem mais propenso a efetuar esses gastos, tendo em vista que 80,5% das mulheres se interessam por moda.

Quando o assunto é, especificamente, gostar de usar roupas de marca, o público masculino sai na frente, com 64,2% afirmando ter essa vontade. Para as mulheres, o percentual é de 61%. E os altos preços das peças com etiquetas famosas não são vistos como problema para a maioria da população. Cerca de 58% dos menos abastados, e também da classe C, gostam de usar roupas de grife, e 70% da elite tem a mesma opinião.

 

Roupas mais baratas não atraem consumidores

Os estabelecimentos que normalmente vendem roupas mais baratas são os menos preferidos pelos consumidores. E isso ocorre tanto com os menos abastados quanto com as famílias das classes A e B.

Segundo o levantamento do Data Popular, 9% dos consumidores das classes C, D e E afirmam que compram roupas nos supermercados e 10% buscam os preços mais baixos nos outlets de lojas de marcas. E entre 18% e 26%, tendo em vista que quanto maior a renda menor a disposição, procuram peças em lojas de ponta de estoque.

Por outro lado, 50% das famílias de baixa renda vão atrás de roupas nas lojas dos shoppings. O mesmo ocorre com 61% da classe média e 77% da elite.

Na avaliação do diretor do Data Popular, Renato Meireles, a explicação para a escolha é a falta de informações. "Boa parte desses consumidores não sabe o que significa a palavra outlet, e por ser uma palavra em inglês, se sentem intimidados", disse.

Meireles acrescentou que o nome ponta de estoque pode causar espanto aos consumidores de menor renda. "Eles podem interpretar que estão diante de peças usadas ou danificadas", destacou, lembrando que essas pessoas ficam com medo de arriscar, já que não podem comprometer o seu orçamento com produtos que não vão utilizar.

 

Desejo é mais forte do que medo de não conseguir pagar

Muitas vezes os consumidores, querendo acompanhar a moda, compram roupas de marca mesmo sabendo que não conseguirão pagá-las sem passar por apuros financeiros. Mas existe uma explicação científica para isso. O desejo de usar a roupa para ter algum resultado positivo é mais forte do que o medo de não conseguir pagar por isso no futuro.

O professor de psicologia Paulo Bessa, que ministra aulas na Universidade Metodista de São Paulo, explicou que o desejo é uma emoção que tem raiz no inconsciente, o que o torna incontrolável. Por outro lado, o medo é controlável, a menos que entre em estado mais crítico.

Dessa maneira, os consumidores sentem desejo de comprar roupas de marca, a princípio, inconscientemente. "E, normalmente, o ser humano sente desejo pelo que é escasso", disse. O especialista explicou que, como pedras preciosas, que têm alto valor por serem raras e despertam o desejo das pessoas, o mesmo ocorre pelas roupas de marca, que são confeccionadas, na maioria das vezes, com matéria-prima de melhor qualidade, com menor disponibilidade no mercado.

"Sem contar que, no fim, a pessoa acaba tendo a esperança de se sentir mais amada, poderosa, prestigiada", pontuou Bessa. E junto ao desejo, a emoção se potencializa.

Na outra ponta, o medo de não conseguir pagar pelas peças com etiquetas famosas é emoção possivelmente controlável. "O medo é consciente. A menos que passe a ser uma fobia, quando a pessoa não sabe explicar o motivo que está lhe causando o medo", explicou o professor.

A ciência tem um nome para a mania das pessoas que compram sem parar mesmo sabendo, ou deixando de lado a possibilidade, de que não conseguirão pagar. "É a oneomania, o conhecido consumidor compulsivo", destacou Bessa.

 




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