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Vida de bailarino

Bailarinos do Grande ABC recebem ofertas para estudar fora,
mas não conseguem apoio para prosseguir com seus estudos

Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
19/08/2012 | 07:40
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Rotina árdua marca a busca por movimentos precisos. A precisão de quem busca vencer em um mundo impreciso, repleto de incertezas. Assim, um pouco, é o dia a dia do bailarino, que equilibra-se na corda bamba para vencer a si próprio, o seu corpo, e para conseguir espaço para mostrar seu trabalho.

Essa é a luta que marca os dias de Kaio Fernando, 22 anos, e da andreense Mariana Carossa, 18 anos. Convidados a estudar fora, aprimorar suas vivências, eles brigam contra a falta de recursos e apoio para ver seus sonhos darem certo.

A falta de incentivo e a pouca visibilidade que o gênero tem no País contrastam com as exigências impostas pelo sonho de dançar. Por aqui, treina-se muito, mas não há garantias sobre o caminho que a dança trará.

Dançarino desde os 17 anos, ocasião em que preocupou os pais por causa da escolha de uma área em que o retorno profissional e financeiro é baixo, Kaio teve de superar os preconceitos para amarrar as sapatilhas e poder bailar. "Aos poucos eles aceitaram a minha escolha e assim segui em frente sabendo das dificuldades que enfrentaria."

O bailarino, que treina no Kleine Szene Studio, de Santo André, recebeu convite para ingressar na francesa European Dance Center Goubé. No currículo, mesmo tendo começado tarde na área, ele guarda importante reconhecimento. Teve prêmios no Festival de Dança de Joinville, no Festival Promodança de Santos e em 2010 foi o único bailarino contratado na audição para a Companhia Jovem do Teatro Bolshoi no Brasil, onde estudou por um ano.

O convite para ir treinar em Paris já foi aceito. O problema é correr atrás de meios que o façam chegar até lá. "Estou aguardando alguns documentos da escola para poder concretamente ir atrás desses subsídios", conta o rapaz.

Mariana, que recebeu convite para compor a grade de aprendizes do Miami City Ballet, nos Estados Unidos, estima que, para aceitar, terá de desembolsar US$ 2.000 por mês, dinheiro que ela não sabe de onde tirar. "Além disso, como faço 19 anos no início do ano que vem, este ano e o próximo são os últimos que tenho para tentar participar de festivais internacionais que trazem oportunidades de bolsas de estudo para diversos lugares, por exemplo o YAGP de Nova York", diz ela.

"Aqui no Brasil me vejo fazendo a mesma coisa que faço hoje, dançando em algumas escolas como freelancer", revela Kaio. "O Brasil é um País gigantesco e o número de companhias de dança aqui é mínimo. Meu desejo é poder continuar me dedicando à dança em um dos países que são o berço do balé clássico e poder vislumbrar um leque de oportunidades", completa.

Dividindo seu tempo entre a dança e a faculdade de ciências sociais na USP, Mariana, que treina desde os 9 anos, escolheu se firmar como bailarina profissional desde o ano passado. Premiada no Festival Passo de Arte com o primeiro lugar em pás de deux de repertório, em 2010 e 2011, ela já ficou entre as finalistas da seletiva Prix de Lausanne, na Argentina.

Treino e aprimoramento sem fim

Aulas e ensaios compõem o dia a dia da andreense Mariana Carossa, que faz aulas no Studio Corpore Sano. "Treino cerca de 20 horas por semana. Quando estamos com um espetáculo grande à frente, os ensaios aumentam bastante e até a folga de domingo acaba", explica a bailarina.

O projeto é conseguir aumentar a carga horária de treino por dia. "Em escola ou companhia no Exterior, na qual o foco é o estudo da dança, os treinos chegam a ser de seis a oito horas diárias."

Kaio Fernando, que mora em Guarulhos, treina pesado, pois atua em três espaços. Além de dançar em Santo André, ele faz aulas em duas companhias paulistanas. "Sem falar no tempo que gasto para ir de uma escola à outra."

Tanta entrega demora a ter resultados no País. "A dança tem pouca visibilidade e o maior problema é que as pessoas ainda têm dificuldade em considerar o bailarino como um profissional sério, com um emprego de verdade", acredita Mariana.

"É triste ver como a arte em geral, especialmente o balé, não é valorizada por aqui. Aos poucos vejo que as pessoas estão se interessando mais, mas tudo a passos lentes. Acredito que o maior problema é o fator financeiro e o baixo incentivo à cultura", diz Kaio.

"A vida no balé envolve força, dedicação, entrega e amor. Estamos sempre lutando com alguma dor, algum cansaço ou alguma limitação, mas da mesma forma que um contador precisa entregar seus relatórios com números exatos ao fim do dia, precisamos entregar nossa excelência em dança", pontua Mariana.




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