Economia Titulo Comércio
Região tem potencial de
consumo, mas faltam lojas

Grande ABC tem 20 comércios para cada 1.000 habitantes; na
Capital paulista, média é de 29,4 e no Brasil o índice é de 22,7

Erica Martin
Do Diário do Grande ABC
26/06/2012 | 08:40
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Os sete municípios da região ainda engatinham quando o assunto é o desenvolvimento do varejo. Recorte da pesquisa IPC Maps 2012, realizada pela empresa de consultoria IPC Marketing com exclusividade para o Diário, mostra que no Grande ABC há 20,1 comércios para cada grupo de 1.000 habitantes. Na Capital, por outro lado, a média é de 29,4 estabelecimentos para o mesmo grupo de pessoas e no Brasil o índice é de 22,7. "Os números denotam fraqueza do comércio aqui, mas ao mesmo tempo é uma oportunidade para quem quer investir na região. São Caetano, por exemplo, não tinha shopping e agora que tem é difícil até mesmo para estacionar o carro. Há carência de estabelecimentos", destacou o responsável pelo levantamento e diretor da consultoria, Marcos Pazzini.

Público para consolidar o varejo no Grande ABC não falta e o especialista lembra que a renda da população permite a expansão do consumo. Não à toa o ranking nacional da consultoria IPC, que mostra o potencial de consumo de 5.558 municípios, aponta Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá entre as 100 primeiras posições, além disso a região (o que inclui as sete cidades) também aparece em quinto lugar na lista estadual.

O proprietário da rede Outlet Lingerie, que tem hoje 35 mil franquias no Brasil, instalou sua primeira unidade no Grande ABC em dezembro, no bairro Jardim, em Santo André. "A frequência de consumidoras da região nas lojas da Capital era grande, por isso decidi trazer o empreendimento para mais próximo", falou Maurício Michelotto.

As vendas da unidade localizada em Santo André crescem em média de 5% a 10% ao mês, enquanto que nas demais o avanço varia entre 3% e 6%. "Acredito que os números estão relacionados à novidade e até mesmo por conta da carência desse tipo de comércio no Grande ABC", declarou o proprietário.

Dono de 13 lojas do O Boticário presentes por aqui, Carlos Pusch considera que o varejo na região está em processo de desenvolvimento. Ele, por exemplo, irá inaugurar mais duas unidades em dois complexos de compras que serão instalados em São Bernardo. O Golden Square - com previsão de abertura para abril de 2013 - e o São Bernardo Plaza Shopping, que deverá abrir as portas em novembro. "Serão locais que atenderão perfis diferentes de público o que deve fazer a população do Grande ABC consumir mais aqui em função do mix de lojas", disse o empresário.

LOJISTAS - Mas nem todos os comerciantes têm a mesma visão de Michelotto e Pusch. Pazzini, coordenador da pesquisa, explica que os empreendedores estão priorizando as grandes capitais e cidades do interior na hora de instalar o comércio e deixam de explorar outros mercados. De acordo com último levantamento do instituto de pesquisa da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), 50% da população do Grande ABC pertence à classe B e 40% à classe C. "Todo o marketing atual é focado no público que tem mais dinheiro. Não existe nada adequado em grande escala para as famílias emergentes ", argumentou Pazzini.

Pouca estrutura afasta consumidores das cidades

A falta de infraestrutura é pontuada como um obstáculo para o desenvolvimento do varejo na região. Pesquisa do Observatório Econômico da Universidade Metodista (sobre a intenção de compra no Dia dos Namorados) mostrou que Diadema e a cidade de São Paulo empataram em 9,9% como queridinhas para as compras. São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande aparecem depois da Capital - com 7,9%, 0,8% e 0,3% da preferência respectivamente.

O diretor da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), Evandro Banzato, conta que São Paulo é procurada pelos habitantes do Grande ABC em função da variedade de produtos disponíveis, diversidade de estabelecimentos e conforto. "Até o treinamento das pessoas é mais qualificado lá", falou Banzato.

De acordo com ele, falta estimular a diversificação de produtos e serviços, intensificar a segurança, coibir o consumo de bebidas alcoólicas nas ruas (o que pode incomodar os moradores vizinhos aos estabelecimentos) e oferecer mais conforto ao aumentar, por exemplo, o número de vagas de carros próximo aos comércios. "Muitas vezes uma rua arborizada e bonita já atrai o consumidor", reiterou o professor de Economia da Universidade Metodista Sandro Maskio.

Para o presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo), Valter Moura, o varejo na cidade de São Bernardo especificamente precisa se inovar. "Temos a Marechal Deodoro, que é uma rua feia e sem estrutura para estacionamento e pouca segurança. O consumidor tem dificuldades para encontrar roupas de grife, por exemplo. Não tem evolução, faltam franquias para atender público da classe mais alta. Diferentemente dos shoppings que atraem mais esses investimentos."

Moura contou que a instalação do comércio de bairro na cidade cresceu, em média, 10% em 2011 na comparação com 2010 em função do avanço habitacional que estimulou a demanda por consumo e a chegada de novas lojas. "Mas que não se profissionalizam, o atendimento ainda é precário", declarou.

Sto.André e S.Caetano têm mais opções

A pesquisa da consultoria IPC Marketing mostra que São Caetano e Santo André são as cidades com maior número de estabelecimentos para cada 1.000 habitantes - são 34,2 e 22,9 comércios respectivamente. "São Caetano é relativamente pequena - tem 150 mil moradores - mas abriga grandes empresas, o que condiciona aumento de renda revertida em consumo mais alto e atrai a atenção de lojistas", explicou o responsável pela pesquisa, Marcos Pazzini.

Fundador da rede Dídio Pizza (que atua exclusivamente com delivery), Elídio Biazini, irá abrir nove unidades do seu estabelecimento no Grande ABC até 2013 e a marca já tem 18 franquias no Estado de São Paulo. Nesta semana, será inaugurada em São Caetano a primeira loja na região e em julho será aberta outra no mesmo local. As demais pizzarias serão instaladas em Santo André, Diadema, Mauá e São Bernardo, mas ainda sem data prevista. A decisão foi baseada em pesquisa feita por uma empresa de consultoria que mapeou o local como potencial para expansão. "A decisão está baseada no poder aquisitivo das pessoas, onde a maioria do público pertence à classe B, que é foco do estabelecimento hoje", comentou o empresário.

A linha de trem é o que facilita o acesso dos moradores das cidades vizinhas - Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande - ao município de Santo André. "Que pode oferecer uma noite melhor de lazer e de compras", explicou Pazzini. O professor Sandro Maskio, da Metodista, lembra que o bairro Jardim é parte do exemplo que pode ser colocado em prática em outras cidades da região. O local reúne diversos restaurantes, com foco principal nas classes A e B, em ruas limítrofes.

VISIBILIDADE - O gerente sênior de expansão da Riachuelo, Marcos Tadeu, explica que serão instaladas duas unidades da rede na região ainda neste ano, uma em setembro no Grand Plaza (em Santo André) e outra no São Bernardo Plaza Shopping - que ainda será inaugurado. O grupo tem cinco lojas no Grande ABC e, segundo o executivo, o estabelecimento da Marechal Deodoro, em São Bernardo, ocupa uma das cinco primeiras posições entre as lojas que mais vendem no Estado. "Ainda existem pessoas que por falta de opção vão comprar na Capital, mas na medida em que se colocam lojas de renome nacional os clientes vão ficando no Grande ABC, é uma grande chance de retenção", disse Tadeu.

Organizar núcleos de compra é o caminho para atrair clientes

Organizar centros de consumo que se tornem referência para o cliente na hora da compra é a saída para estimular o varejo. O professor de Economia da Universidade Metodista Sandro Maskio lembra que há regiões que carecem mais de lojas e restaurantes do que outras. A pesquisa da IPC Marketing mostra que as cidades com os piores índices são Mauá e Rio Grande. Os municípios têm 13,1 e 11,4 estabelecimentos para cada 1.000 habitantes, respectivamente.

Quem mora em cidades menos preparadas para o consumo precisa se descolar para fazer compras. Muitos optam por ir à Capital, onde há concentração de lojas de segmento único no mesmo local - o que é raro no Grande ABC. "Portanto, seria interessante criar regiões de referência aqui como é o caso da Rua das Noivas (no bairro Luz) na Capital paulista", falou Maskio. "Se eu quiser ir a uma loja que comercialize marcas diferentes de chocolates, não vou encontrar por aqui, por exemplo", completou o presidente da Acisbec, Valter Moura.

Empresas precisam estudar mais hábitos da classe média

Fator que também pode impedir a evolução do comércio regional, segundo o diretor da consultoria IPC Marketing,Marcos Pazzini, é a dificuldade que as empresas ainda têm para lidar com o consumidor da classe média, que hoje representa pelo menos 50% da população brasileira e 40% dos residentes do Grande ABC. Essa fatia da população tem poder aquisitivo para comprar produtos que há dez anos eram impossíveis de levar para casa. Mas ela tem peculiaridades em relação à classe A, portanto é preciso adotar estratégias focadas nesse grupo.

Pesquisa realizada pelo Data Popular no segundo trimestre de 2011, com 251 dirigentes de companhias de três segmentos, mostra que 87,2% das empresas de serviço, 61,1% das de varejo e 83,6% da indústria ainda não têm preparo adequado para atingir as classes emergentes. "É preciso estudar mais essa população que busca qualidade alinhada ao preço, garantia do produto e bom atendimento na hora da compra e também no pós-venda", pontuou Pazzini.




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